Capítulo 2

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Veruca alisou o papel sobre o mural e espetou uma das pontas com a tachinha. As aulas do dia tinham terminado e as meninas estavam livres para estudarem, fazerem seus deveres ou tirar o momento de folga. A segunda-feira primaveril estava com raio solares brilhando por entre nuvens, convidando várias meninas para tomarem um chá enquanto o sol ainda estava no céu.

- Veruquinha! Veruquinha!

Salt caçou a menina que lhe chamava e, quando localizou a pequena garota correndo até em sua direção com um maço de cartas para o alto, voltou sua atenção para pregar o cartaz que a vice-diretora pedira para fixar no mural de notícias.

- Ufa, como é difícil te encontrar, Veruquinha. – Disse a menina assim que chegou até Salt. – Como esperado de uma veterana exemplo.

- Exemplo a não ser seguido, não é? – Rebateu Veruca.

A menina com as cartas riu e estendeu o maço para Salt. Haviam doze envelopes unidos com um barbante e um post it amarelo possuindo seu nome escrito.

- Essa semana você parece ter chamado atenção até mesmo das pessoas fora daqui. – A carteira disse. - acho que a diretora não gostou nem um pouco.

- Obrigada, Soufie. – Disse Veruca.

Ela pegou os envelopes com uma mão e vasculhou o bolso do vestido de primavera com a mão livre. A moça das cartas esperava ansiosa pelo pagamento ilegal e ficou claramente radiante quando recebeu um bombom com recheio de amendoim. Eram bombons raros, já que a inspetora tendia a recolher toda guloseima vinda de fora.

- Um caseiro?

- Um especial. – Disse Veruca. – Feito por Anne.

Soufie Hosti nascera na Inglaterra e adorava correr. Ela era a menina mais rápida da escola, não só para chegar nas aulas, mas para descobrir fofocas. Sua velocidade era tamanha, que fora escolhida como a mensageira das alunas do sexto ano, ou seja, a menina das cartas. Muitos diziam que ela sabia violar uma correspondência com perfeita discrição, outras, que ela sabia ler por entre o envelope, mas ninguém sabia ao certo como ela fazia para saber tudo de todo mundo, talvez nem mesmo Soufie sabia o que acontecia.

- Sabe, você e Anne são minhas melhores clientes.

- Anne não é de receber ou mandar cartas, Hosti.

- Mas quando recebe, o pagamento é com juros.

O sorriso sorrateiro de Soufie Hosti se intensificou em um sorriso aberto e largo. Enquanto as guloseimas feitas fora do instituto eram proibidas, as feitas por Anne eram uma porta de entrada ao paraíso. Todas as meninas do instituto Rose queriam ter a honra de comer algo feito por Anne, mas poucas a conseguiam.

Soufie era uma das poucas sortudas. Anne entregava metade do que fazia para Veruca Salt, que guardava para usar de pagamento à Soufie. Se você queria receber sua correspondência a tempo, era bom ter duas coisas: 1. Uma amizade com a carteira de seu ano e 2. Uma guloseima para pagar pela entrega.

- Bom, eu preciso ir. – Disse Soufie. – Até breve, Veruquinha.

Veruca colocou a tachinha que faltava no cartaz do mural e então analisou deu trabalho. Estava levemente torto, mas ninguém iria perceber a falha. O anuncio do momento deixaria as meninas eufóricas assim que soubessem que o grande dia estava para acontecer.

V.S.

O Instituto Rose em Fluer era mundialmente conhecido por ser uma escola exclusivamente para garotas, assim como o Instituto Épée en chêne mostrava tudo o que um lorde precisava saber. Apesar de ter regras tão rígidas quanto ao instituto Rose, o Épée mostrava-se muito mais... bom, digamos que burlar as regras era muito mais fácil quando os garotos usavam da regra da camaradagem.

A senhorita SaltOnde histórias criam vida. Descubra agora