Capítulo 4

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- Pois minha senhora, eu lhe deixo bem claro que este alfinete atingir minha pele, vou retribuir com minha bengala!

Veruca segurou o riso com muito mais facilidade que Charlie. O herdeiro de Willy Wonka teve que olhar para o lado, deixando que a risada saísse o mais silenciosa possível, contudo ainda havia saído e remexido todo seu corpo magro.

- Se o senhor ficar quieto, acredite, não terei tantos motivos para lhe alfinetar, senhor Wonka.

Emma estava agachada, ajeitando algumas medidas da vestimenta que havia servido quase perfeitamente em Willy. Ele era um modelo bem interessante, percebia Emma. As pernas se mostravam mais longas do que eram e o tórax quadrado tinha uma leve cintura, o que ficaria ótimo com o fraque que tinha começado a ajeitar.

Mas ter Willy Wonka como cliente era uma verdadeira tortura e, por mais que suas roupas fossem de ótima qualidade e com uma costura muito pura, ela se perguntava quem era o costureiro que conseguia aguentar aquele homem! Era tão genioso quanto uma mula e parecia tão tolo quanto um furão, quando o assunto era perder a noção do perigo.

- Não ter tantos motivos quer dizer que existe algum! - o chocolateiro rosnou. - Outch! - Gritou quando fora espetado, os olhos arregalados pela ousadia da mulher que lhe vestia. - Saiba que eu tenho a pele sensível!

- Todo ser mimado possui! - Madame Emma zombou enquanto se afastava um pouco para medir sua obra.

- Mimado? Eu?

Veruca batucou o pé e sentiu um cutucão em suas costelas, fazendo seus olhos claros olharem para a única pessoa que podia ter feito aquilo. Charlie apontou para a porta como quem dizia "vamos deixar esses dois a sós um pouco?"

A Salt pensou por alguns instantes. Será que Emma sobreviveria ao chocolateiro maluco?

A modista resmungava algo com Willy e o chocolateiro parecia bem contrariado enquanto se mantinha parado, o que fez com que Veruca mudasse sua dúvida para "será que Wonka sobreviveria a Madame Emma?"

Só tinha um jeito de descobrir, certo? A Salt limpou a garganta, soltando um bom motivo para que ela e Charlie saíssem do estúdio, que ficava nos fundos da loja de Emma, e fossem para a parte da loja, que estava fechada sob a placa de "em trabalho externo, volto depois do almoço".

- Venha Charlie, vamos achar uma gravata para o senhor Wonka.

- Eu não uso gravatas! - Willy berrou às costas deles.

A lojinha estava a meia luz, com suas cortinas finas abaixadas. Charlie encostou a porta que levava ao estúdio de forma leve, enquanto Veruca realmente ia para as gavetas de gravata e as abria.

- Achei que era só uma desculpa. - O herdeiro comentou enquanto se debruçava ao balcão. Seus olhos mais claros que os de Veruca corriam pelas dezenas de tecidos coloridos e divertidos.

- Uma boa mentira é aquela em que se acredita ser verdade. - Veruca comentou. - Alguma que te agrade?

Charlie seguiu olhando os tecidos. Ele não tinha pressa, como quem faz o tempo rodar a seu favor e não contra. Aquele simples ato fazia com que a Salt lembrasse dele criança, das vezes em que apareceu na TV depois de herdar a fábrica, o chocolateiro ao seu lado, anunciando algo enquanto claramente estava irritado por ter que interagir com gente de que não gostava. O pequeno Charlie Bucket, aquela criança mirrada, sempre observava mais do que falava e o Charlie Bucket jovem adulto que analisava gravatas tinha aquele mesmo trejeito.

Era incrível como pessoas mudavam e mudavam e no final ainda não mudavam em nada. Veruca sabia que havia mudado, sabia e sentia sua mudança em cada dedo calejado da costura, do bordado e do estudo, mas queria saber o que havia se mantido.

A senhorita SaltOnde histórias criam vida. Descubra agora