Sob a Ponte

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[Poppy Pov:]



Chegamos na ponte Stoll às oito e vinte da noite. Fiz o possível para cobrir meus cachos cor-de-rosa com o gorro que Branch me emprestou, segundo ele para não atraírmos nenhuma atenção indesejada. Deixamos o jipe um pouco afastado do local de encontro, embaixo de um lampião queimado. Meu coração dispara e meus olhos correm pelas ruas geladas, esperando ver alguma coisa. Um vulto, talvez. Minhas mãos tremem em antecipação enquanto acompanho meu parceiro a passos vacilantes.

— Ele estará aqui a qualquer minuto. — Branch me observa com um semblante indecifrável. Seu rosto assume uma tonalidade vermelha, possivelmente obra do clima gélido. — O que foi?

— O que foi o quê?

— Eu sei que você está nervosa. É nítido. — Ele franze as sobrancelhas e desvia o olhar, como se percebesse que suas palavras escaparam mais ríspidas do que o necessário. Então dá de ombros para mim. — Apenas mantenha o disfarce. Eu faço o resto.

Olho para baixo, constrangida. Eu queria retrucar, ser capaz de dizer alguma coisa. Mas eu sei que, no fundo, ele só está fazendo o que acha certo. Por mais que tenha chegado até aqui, nunca me parece o suficiente. Não sinto que fiz ou que faço o suficiente. Ninguém nunca me deu alguma credibilidade, então por que ele o faria? O que seria diferente?

Não posso culpá-lo. A maioria dos detetives não se impressiona facilmente nem tinge o cabelo de rosa. Também confesso que meus métodos não são muito, digamos, convencionais, mas eu faço o meu melhor. Não é isso que importa?

— Continue alerta — diz ele, se aproximando enquanto me entrega a maleta cheia de dinheiro sujo. Suas mãos se fecham no meu sobretudo e me envolvem.

— O... que está fazendo? — Pergunto, evitando contato visual.

Não que sua proximidade me intimide. Bem, talvez um pouquinho. Ele é uns irritantes centímetros mais alto que eu.

— Melhor prevenir do que remediar. Não quero você apanhando um resfriado no meu turno.

— Oh. Obrigada! Você é tão prestativo...

Sorri alegremente para ele, genuinamente surpresa com sua iniciativa. Branch se afasta quase que abruptamente, tossindo. Ele levou a mão em punho aos lábios e pigarreou, olhando para o lado como se visse algo mais interessante na imensidão noturna. Ouvimos um estalo alguns metros adiante e olhamos na direção do som simultaneamente. Tudo o que vejo a essa distância é a silhueta de um homem, que desce a ponte e se afasta. Branch me lança um olhar furtivo, indicando que devemos segui-lo.

Então eu desço, os pés escorregando, pela extremidade íngreme. Não admira que a ponte esteja interditada; tudo aqui parece remoto e abandonado. Branch segue na minha frente e eu seguro a mala com força, o conteúdo pesa em meus braços. O sujeito está apenas alguns metros à nossa frente, de costas para a parede pichada.

— Amigos de Elizabeth Hammond?

Branch enfia as mãos nos bolsos sorrindo de forma presunçosa.

— Não. Apenas fazendo um favor.

O homem dá um passo a frente e tira seus óculos escuros. Quem usa óculos escuros à noite? Aparentemente aquelas novelas policiais estavam certas.

Criminal RomanceOnde histórias criam vida. Descubra agora