A Coroa de Sangue

Liene - Entre Sombras

Liene adentrou sua casa na capital com passos hesitantes, o eco vazio do corredor parecia ressoar seus próprios pensamentos tumultuados. O silêncio era ensurdecedor, contrastando com a agitação emocional que ainda a envolvia.

A luz fraca do sol filtrava-se pelas cortinas entreabertas, lançando sombras dançantes nos móveis familiares. Ela depositou sua bolsa com um suspiro pesado e desviou o olhar para a fotografia na parede: uma imagem de sua família unida, Aedam com um sorriso travesso e Aranys ao seu lado, radiante como sempre.

O silêncio foi quebrado pelo sussurro das memórias da discussão com Aedam. As palavras amargas, o desapontamento estampado no rosto do filho, a acusação que ecoava em sua mente. Ela se afundou no sofá, fechando os olhos para conter as lágrimas prestes a escapar.

O turbilhão de emoções confusas, incertezas e remorso se misturava em sua mente. Liene se sentia aprisionada em um labirinto de sentimentos, incapaz de encontrar uma saída clara. Ela desejou poder retroceder no tempo, apagar as palavras ditas e abraçar seu filho, explicar as circunstâncias que a levaram a partir, a real razão de sua viagem.

No entanto, a alvorada havia rompido o horizonte e agora estava sozinha, cercada apenas pelas sombras silenciosas de sua casa. Ela sabia que, no fundo, as palavras não ditas doíam mais do que as proferidas. Liene ficou ali, imersa em seus pensamentos, esperando pelo amanhecer que talvez traria clareza para essa confusão.

Liene ouviu o estampido da porta se abrindo, anunciando a chegada de Lorde Woodrock. Seus passos pesados ecoaram no corredor enquanto ele adentrava a sala, uma aura de raiva o cercava, evidente em seu semblante.

"O que houve, Woodrock?", indagou Liene, erguendo o olhar para ele.

Ele bufou, descarregando sua frustração. "Aquela reunião foi um desastre. Aranys está determinada a seguir adiante com esse casamento com o Príncipe Alburgo. Eles estão comprometidos com essa aliança com a coroa, não estão dispostos a ceder."

Liene arqueou as sobrancelhas, preocupada. "E o que você fez?"

"Troquei ameaças, Liene. Estamos à beira de um conflito aberto. Não posso permitir que ela leve os Craven a apoiar a coroa e esses soldados mouros!", exclamou ele, agitado.

"Um conflito não resolverá nada, Woodrock. Precisamos encontrar uma maneira de contornar isso sem derramamento de sangue", sugeriu Liene, tentando acalmar os ânimos.

"Você sempre foi muito ingênua quanto a esses assuntos, Liene. A hora de agir é agora. Precisamos eliminar Aranys e tomar o controle da liderança dos Craven para começar a rebelião", afirmou Woodrock, com determinação nos olhos.

Liene se levantou, encarando-o com firmeza. "Não podemos simplesmente recorrer à violência, Woodrock. Há outros caminhos para alcançarmos nossos objetivos."

Os olhos dele faiscaram de raiva. "Você sempre foi contra minhas decisões, Liene. Chegou a hora de mostrar quem verdadeiramente lidera esta casa!"

A tensão encheu o ambiente, as palavras de Woodrock ecoaram no espaço vazio da sala. Liene permaneceu firme, ciente de que precisava encontrar uma maneira de acalmar os ânimos exaltados de seu marido antes que algo irreversível acontecesse.

Liene respirou fundo, tentando encontrar as palavras certas para acalmar a ira de Woodrock. "Escute, Woodrock, há algo que precisa saber. Aedam não está alheio a essa situação. Ele está disposto a defender Aranys, a manter a família unida."

Woodrock franziu o cenho, cético. "Aedam? Defender Aranys? Isso é impensável! Ele é nosso filho, deveria apoiar nossa causa."

"Ele não vê isso como uma questão de lados opostos, Woodrock. Aedam quer preservar a família, não vê Aranys como uma inimiga a ser eliminada", explicou Liene, com tom conciliatório.