O recomeço

63 6 10
                                    

Rodolffo chegou devagarinho, atravessou a ponte e aproximou-se do local onde Ju estava deitada na toalha, de bruços.

À primeira impressão pareceu-lhe que ela dormitava.

Desmontou sem fazer barulho e sentou-se ao lado dela admirando a sua beleza.

Deitou-se de costas e ali ficou sem dizer nada até que ela acordou.

A princípio assustou-se mas logo se recompôs e deitou a cabeça no peito dele que permaneceu imóvel.

- Estás aí há muito tempo?  Porque não me acordaste?

- Estavas a dormir tão bem.  Era maldade acordar-te.  Não dormes de noite?

- Esta noite não.

- Porquê?  Quem te atrapalhou o sono?

- Tu.  Sabias que eu vinha e não estavas.

- Tive que ir visitar um amigo.

- Ou  foi de propósito para não me veres?

- E se fosse?

- Foi isso?

- Também.   Não é fácil.

- Como foi lá com o meu pai?

- Foi bem.  A gente se entendeu.  Até tomámos café juntos.

- Ele mudou muito desde que o socorreste.

- Vais voltar para cá?

- Depende.  Não sei.

- Depende de quê?  Qual é a dúvida?

- Nós.

- Nós?  Não há dúvida.  Seremos amigos se quiseres.  Só amigos.

- Essa fazenda que foste visitar é a do pai da Bianca?

- É,  porquê?

- Curiosidade só.  Acho que vou indo.

- Não queres ir ver o meu estúdio?

- Quero.

Atravessaram a ponte e entraram na tapera.  Juliette ficou encantada com   a transformação.

- Está muito lindo.  E tens muito talento.  Estas telas estão lindas.   E esta tapada, o que é?

- Essa ainda não podes ver.  Só quando terminar.

- Deixa.  Juliette fez menção de retirar o pano que cobria a tela.
Rodolffo abracou-a por trás e impediu-a.

- Não pode.  Anda ver a minha sala do café.

Levou Juliette à outra sala e ela ficou a admirar a paisagem pela grande janela.

- É tão lindo aqui.

- Contigo cá fica mais lindo.

Tirou-lhe uma mecha de cabelo de rosto e beijou-a na testa.  Ela abraçou-o e encostou a cara ao peito dele.
Rodolffo tinha vontade de a beijar mas iria resistir.   Desta vez queria que ela sentisse falta dele.  E depois ele tinha vacilado com a Flávia e esse assunto ainda não estava esclarecido.

- Vamos regressar?

- Já?  Não  quero.  Quero ficar aqui, disse Ju sentando-se no sofá.
Senta  aqui um pouco.   Vamos conversar mais um pouco.

- Sobre o quê?

- Sobre nós dois.

- O que tem, nós dois?

- Vamos começar do zero?  Faz de conta que não aconteceu nada.  Eu tenho saudades do meu amigo mas também do homem que me amava.

- Amo.

- Então?  Vamos tentar.  Sem Flavias e sem Biancas.

- A Flavia foi resultado de uma bebedeira e nunca nem vi a tal Bianca.  Só concordei contigo.  Nunca fui nessa fazenda.  Inventei isso para não te ver.  Andei por aí o dia todo às voltas.

- És muito tolinho. 

- Completamente tolo quando se trata de ti.

Juliette sentou-se no colo dele é iniciou um beijo apaixonado.
Rodolffo correspondeu completamente rendido.

Ali seria o refúgio deles, ali trocariam beijos e se amariam quando sentissem vontade.
E agora tinham e muita.  Se beijaram e se amaram.

Juliette regressou segunda a Morrinhos para tratar do regresso a casa.  Talvez o fizesse no próximo fim de semana pois está semana tinha muito trabalho.

Juliette era muito metódica.   Anotava tudo sobre o seu trabalho.  Locais,  nome de clientes, espécie de atendimento etc.
Tinha um caderno onde estava tudo explicado além da sua agenda normal.  O caderno era quase um diário.

Sexta-feira deveria ir vacinar os cães de um empresário abastado que morava a 20 kms de Morrinhos.   Era o último cliente da semana.

Juliette não gostava muito dele pois toda a vez que ia lá era assediada por ele.

Se hoje voltasse a acontecer ela iria prestar queixa à policia.

Ligou ao Rodolffo e disse que ia para a fazenda no sábado.  Na semana seguinte iria buscar o resto das coisas e entregar o apartamento.

Partiu para o último cliente e ficou contente quando a informaram que ele não estava.

A casa era enorme e estava isolada do resto da povoação.

O empresário vivia sózinho.  Apenas uma pessoa ia lá fazer as tarefas domésticas e almoço.  Hoje estava um senhor estranho para me receber e levar até aos cães.

Eram 15 horas, eu já tinha vacinado os animais e o senhor estranho atendeu o telefone e disse-me para ir até à casa para receber o pagamento pelos serviços.

Arrumei os materiais no jeep e fui até lá.   Ele abriu a porta que dava para uma enorme sala e lá estava o fulano.

- Boa tarde Juliette.   Que prazer estar aqui com tamanha beleza.

- Boa tarde, mas eu vou indo.  Depois faça uma transferência do valor para a minha conta.

- Não tenha pressa.  Vamos tomar um chá os dois.  Das outras vezes nunca tivemos oportunidade.

Virei-me para a entrada para sair e fui surpreendida por uma grande mão que me colocou um trapo embebido com algo muito forte.
Inspirei aqueles vapores e apaguei completamente.

Tapera caídaOnde histórias criam vida. Descubra agora