Capítulo 01

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Lilliane

Estava cansada, aquele deveria ser o quinto jantar que eu tinha de ir em menos de três semanas, era exaustivo pensar que teria de enfrentar novamente aquelas pessoas na sala de estar. Meus pais tinham mania de exagerar nas festanças, acho que é geracional, quando eu era mais nova tinha mania de ver álbuns de fotos da família e sempre encontrava fotografias de festas de escalas fenomenais.

Para mim aquilo era ridículo, mas fazer o quê? Essas festanças também eram consideradas joias da família.

- Lilliane? - a voz de minha mãe soou abafada atrás da porta do quarto.
- Pode entrar - anunciei - a porta não está fechada.
Está pronta? - questionou assim que adentrou o ambiente.
- Estou... não se preocupe - dei uma volta para mostrar-lhe a roupa que eu estava - botei até o vestido que a senhora mandou sua assistente comprar para mim - falei com um tom meio ácido, mas ainda sim com um sorriso no rosto.
Ela me olhou de cima a baixo, julgando como eu me apresentava com aquele vestido que havia comprado para que eu parecesse uma de suas joias para leilão - ficou ótimo, apesar de parecer um pouco apertado - tocou em meu abdômen - engordou?
- Não... - tirei os dedos dela do meu corpo - inclusive, eu emagreci...
- Verdade? - olhou desconfiada - Não parece... - alfinetou - enfim... desça que os convidados de seu pai já chegaram.

Do jeito que ela chegou, foi embora, igual a um raio. Suspirei ao me olhar no espelho, me questionando se havia engordado como minha mãe me acusou.

"Merda... melhor eu parar de olhar demais esse reflexo e descer. Antes que ela volte."

Desci para aquele inferno particular e assim que os primeiros olhos se voltaram em minha direção mascarei meu descontento e cansaço, até mesmo tédio por estar ali, com um sorriso brilhante. Segui em direção à enorme mesa de frios que estava num canto da sala para pegar alguma coisa para comer enquanto passava o tempo naquela festa.

- Lilli? Lilliane? - a voz de Andrew ecoou em meus ouvidos e eu me perguntei o motivo de ele estar sempre presente nas festas e lançamentos de coleções de joias que minha família tinha feito recentemente.
- Andrew McLister - o olhei - queria dizer que é uma surpresa encontrá-lo em alguma festividade de meus pais, mas parece que você virou cadeira cativa em nossa residência - comentei e ele riu desajeitado.
- Seu pai me convidou... disse que eu precisava ver as novas criações dele.
- Ah... imaginei que fosse ser por isso mesmo - disse com um sorriso fraco e vi que ele torceu o nariz - perdão... é que estou tão acostumada com ele e com as criações que ele faz que nem fico mais tão animada com o você.
- Claro que estou animado! Tenho de ver como a concorrência está! Negócios, sabe? - ele disse com um olhar quase infantil de animação.
- Fico feliz que esteja animado para ver como anda a concorrência de sua família - alfinetei - agora vou rodar, quero falar com algumas pessoas - disse depois que avistei Carmélia e Junne, minhas duas amigas de infância.
- Espere - segurou em meu punho - podemos conversar à sós depois? - questionou e eu estranhei.
- Claro... - falei antes de seguir em direção às minhas amigas.

"Isso foi estranho."

Quando cheguei perto, as duas estavam em uma conversa extremamente animada, quase não notaram que eu havia me aproximado.

Apenas quando pigarrei que perceberam que eu estava ali.

- O que tanto olham?
- Estávamos olhando o Pascha - Carmélia disse com uma carranca.
- Pascha? - não conhecia aquele lugar. Talvez fosse alguma boate de alta classe nova.
- Sim - Junne disse com uma animação travessa - um dos maiores bordéis da Alemanha.
- O que tem demais nele? - estranhei as duas querendo saber de um bordel. Mas não neguei que me atiçou a curiosidade também.
- Junne está fissurada de que quer ir visitar o local - Carmélia reclamou - eu acho um absurdo uma mulher querer ver um monte de puta...
- Carmélia! - a cortei repreendendo, apesar de tudo, minha amiga ainda tinha muitos preconceitos.
- Deixe, Lilli. Essa daí pode estar no século que for, mas ainda assim estará presa no passado! - as duas começaram uma discussão quase infantil e eu só pude rir.

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