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"Um homem leva sua tristeza para o rio e a joga no rio, mas ainda fica com o rio

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"Um homem leva sua tristeza para o rio e a joga no rio, mas ainda fica com o rio. Um homem pega sua tristeza e joga fora, mas ainda fica com as mãos" — Richard Siken

Buttercup trotava graciosamente a caminho da loja de penhores. Ele não havia reclamado uma vez sequer naquele dia, pelo menos não da neve ou da estrada. Havia comido as cenouras que caíram da sacola de compras e isso deu um certo prejuízo. Porém, ninguém podia culpá-lo. Se algo estava ao seu alcance, ele deveria pegar. Estava de bom humor. Não relinchava nem desviava do caminho. Na verdade, Buttercup parecia estar vivendo a versão mais feliz de si mesmo. Talvez ele soubesse que a nevasca poderia atrasar um dia e que isso lhe renderia um encontro certamente agradável com as amoras da vizinha.

Todo ano, a Srta. Kim aparecia com uma cesta de amoras para presentear Minho. Era óbvio, ela tinha uma certa queda por ele, e ele tinha uma queda no fato de ela ter uma queda por ele. Decerto, já saíram duas ou três vezes, trocaram uns beijos em certas ocasiões, mas nunca saíram disso. Ela mostrava-se empenhada em agradá-lo; ele, em sorrir e sair aos trotes com Buttercup, seu cavalo.

Buttercup era um belo gateado e tanto. Majestoso. Comum, porém curiosamente atrativo. Talvez o seu trote meio quieto lhe trouxesse certa classe. O que era o oposto de Minho, que sempre saía de qualquer jeito, andava desleixado com passos largos e cabelos desgrenhados. Até suas botas andavam sujas. Agora ele usava um cachecol ao redor do colarinho da jaqueta bomber de couro marrom com acabamento em franjas. Ele odiava aquela jaqueta, mas a roubou do achados e perdidos da delegacia há alguns anos. Não queria comprar outra. Seria um desperdício de dinheiro. Não depois de comprar aquela calça preta que comportava-se no seu corpo quase como uma skinny. Ok, talvez fosse uma skinny, mas não uma ridiculamente apertada. O bom é que o cumprimento passava dos tornozelos, sinônimo de que não receberia uma rajada de vento frio no espaço entre as botas e a calça.

Minho piscou os olhos ao avistar a placa da loja de penhores. As ruas estavam movimentadas, mas todos já estavam acostumados com o louco e vagabundo Minho e seu cavalo Buttercup. San não ligava para o que as pessoas falavam pelas suas costas, contanto que não ficassem no seu caminho nem procurassem brigas. Ele era livre para ser e fazer o que quisesse. E, sendo livre, queria conseguir alguns trocados para uma cerveja ou quem sabe um uísque. Sabe, numa noite tão fria quanto aquela, era preciso ter algo para se aquecer.

O trote de Buttercup foi ficando cada vez mais lento. Seu dono segurava as rédeas com firmeza, mantinha o corpo ereto e olhos atentos. Perto da concessionária, ele fez o cavalo parar, desceu da sela e amarrou Buttercup numa árvore, perto de uma pequena área verde. Ele sabia que o animal poderia acabar com a arborização local, e esse era um dos motivos de deixá-lo ali. Não bastava só não importar-se com nada, tinha que destruir a festa de quem se importava.

Puxou sua bolsa transversal para o lado esquerdo do corpo e andou vagarosamente pela rua. Assim que chegou em frente a loja, respirou bem fundo. A porta fora empurrada pelo seu corpo, o sino anunciou sua entrada, o ar quente enlaçou seu corpo. A porta fechou atrás de si, e suas botas deixaram rastros da geada à medida que avançava para o balcão. O estabelecimento estava vazio, senão pela presença do proprietário e um suposto rapaz que estava de costas, levantando uma árvore natalina na vitrine, ao lado da porta de entrada. Do ângulo em que estava agora, Minho não conseguia ver seu rosto. Não era importante.

saddle tramp | min+ sung  ver.Onde histórias criam vida. Descubra agora