Se alguém um dia me perguntasse meu maior medo no topo da minha lista estaria perder minhas filhas. A pior noite da minha vida foi a primeira depois do tratamento, não tinha a menor possibilidade de fechar os meus olhos para dormir sabendo que no quarto ao lado minha filha estava doente. A possibilidade, por menor que fosse, de ela não conseguir passar por isso me consumia de maneiras indescritíveis. Toda a organização que vinha com o tratamento era insana. Teríamos que deixá-la longe da escola por um período, ou seja, lições de casa por um tempo. Sem viagens e lugares aglomerados por um tempo. As visitas de seus amigos vão diminuir. Decidi trabalhar em casa por um tempo, pelo menos até o final do tratamento, com as minhas idas ao escritório e outros lugares apenas em momentos necessários. Nossa rotina tinha virado de cabeça para baixo em questão de minutos.
Permiti que Anne ficasse em casa com Grace para que ela ficasse mais calma e se sentisse mais segura. Nós três combinamos de conversar sobre essa situação toda durante o almoço e no período da manhã resolveria algumas coisas sobre meu trabalho para durante a tarde terminar o resto das coisas para o início do tratamento de Grace.
Não me surpreendeu quando três da manhã ouvi duas batidas em minha porta e a figura de Grace. Abri um pequeno espaço na minha cama para que ela se deitasse ao meu lado. Quando era pequena e começaram a dormir em quartos separados, Grace sempre dava um jeito de dormir comigo pois tinha medo de ficar sozinha num quarto enorme sem a irmã que sempre a protegia. Percebi suas mãos trêmulas e apesar da escuridão, sabia que ela estava chorando. Passei meus braços ao redor dela, sentindo seu corpo se aconchegar e relaxar com meu carinho.
''Eu estou com tanto medo.'' Grace murmurou baixo, segurando em minha camiseta com força.
''Eu também estou, meu bem. Você vai conseguir Grace, eu sei que vai.'' Beijei os cabelos dela e senti o cheiro de seu perfume de lavanda suave. ''Eu vou estar aqui o tempo todo, assim como sua irmã e vovó e o vovô.''
''Meu cabelo vai cair, eu vou ficar tão feia.'' Grace murmurou deixando um soluço baixo escapar.
''Você é linda de todas as formas, meu bem.'' Tentei acalmá-la puxando seu corpo para mais perto. ''Nós podemos comprar perucas, lenços, o que você quiser.''
''Podemos?'' Concordei, limpando as lágrimas do rosto dela.
''Claro que sim, mas agora você deveria descansar. Tente dormir, ok? Amanhã vamos ter um dia longo e cheio de preparativos para o começo do tratamento.''
''Tudo bem.'' Grace colocou a cabeça em meu ombro e fechou seus olhos. ''Eu sinto muito, mamãe. Eu te amo.''
''Não há nada para se desculpar Grace. Nós vamos passar por isso juntas. Eu te amo.'' Suspirei a observando adormecer ali.
Não demorou muito tempo para que Anne aparecesse e se deitasse ao lado da irmã. Sabia que ela estava tão preocupada como eu. Não podia dizer que entendia o funcionamento do vínculo que elas tinham, até porque meus irmão fizeram o mesmo que meus pais cortando contato permanentemente. Entre elas era algo poderoso, tão puro e sentimental, que nunca sequer ousei questionar ou duvidei do que elas sentiam uma pela outra. Era uma coisa tão forte e delicada de se ver, me aquecia o coração só de vê-las sendo irmãs. Tinha certeza que a maior apoiadora e cuidadora de Grace nesse período não seria eu e muito menos Diana, seria Anne. Elas eram a rocha uma da outra.
Meu coração estava quebrado em milhares de pedaços, eu não podia negar. Vê-la neste estado me deixava absolutamente apavorada. Eu sabia, tinha certeza, que ela ia superar tudo isso e no futuro não se passaria de uma situação que nos testou apenas por testar. Ela não estava sozinha e nada mais importava.
Passei a noite acordada, não conseguia me permitir relaxar para dormir. Quando estava quase conseguindo, um sentimento de medo tomava meu peito e eu tinha que acordar para me certificar que Grace estava segura e respirando. Ela estava bem e segura dentro da nossa casa. Me levantei eram cinco e quinze da manhã, tendo certeza que minhas filhas dormiam tranquilamente. Coloquei meu robe e e fui em direção a cozinha, esperando Hamilton para que pudéssemos dar sua volta matinal. Tirei um tempo maior para isso, deixei que o vento frio do outono tomasse meu rosto e levasse consigo toda a angústia e o medo que cresciam em mim, mal percebi o cachorro em minha frente confuso e me encarando. Fiz um leve carinho em sua cabeça e voltamos para casa.
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The Archer (A.H)
FanfictionO destino é muito temido pelas suas artimanhas inesperadas na vida das pessoas. Um reencontro após longos anos pode levar Aaron e Taylor a caírem em uma armadilha do universo? Poderiam ser eles quem tanto procuram? Quem está disposto a partir? Mas q...