A capa Vermelha.

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Blood era uma garota de 14 anos que vivia em uma pequena aldeia chamada Red Moon.

Ela não se sentia bem em sua aldeia, não se sentia 'em seu lugar'. Sempre foi uma menina deslocada por sua aparência, seu jeito de ser e sua linda capa vermelha.

As outras meninas da aldeia tinham bochechas gorduchas ou coradas, mas as suas eram lisas e bem pálidas; a maioria das garotas tinham belos cabelos loiros, Blood tinha cabelos negros como a noite, mas o que realmente a destacava de todos naquela aldeia eram os seus olhos. Ela possuía olhos extremamente profundos e melancólicos.

Adorava subir nas árvores. Ela escalava até os galhos mais altos apenas para ter o gostinho de ver todas as pessoas pequenas e insignificantes abaixo dos seus pés, vivendo uma vida de inseto num espaço mínimo. Ela se perguntava como aquela gente se contentava com tão pouco.

Sua mãe era uma bela mulher de corpo perfeito. Roseline, assim como a filha, também não estava feliz em Red Moon. Para piorar a situação, vivia em um casamento sem amor, a única coisa que a impedia de sair daquele lugar era a sua Blood.  Perguntava-se como uma menina perfeita como ela poderia ter nascido num lugar como Red Moon.

Ninguém conhecia a aldeia pelo nome, mas todo o reino já tinha ouvido falar das histórias. Red Moon era uma aldeia amaldiçoada por um mal terrível... Uma besta voraz.

Não se sabia a verdadeira aparência da fera, pois todos que o viram morreram. Milhares de caçadores já tentaram capturá-lá, mas todos fracassaram. Há muitas gerações o mal corria pelas ruas.

Toda vez que a lua cheia era erguida, uma certeza era erguida com ela: Alguém morreria. Todos os aldeões esperavam pelo abate, tudo o que restava a eles era rezar e pedir aos anjos para que passassem a vez. Houve um tempo em que famílias inteiras eram mortas pela fera, mas isso foi na geração dos anciões da aldeia.

Um dia, a mãe de Blood, sabendo que a avó estava doente, mandou a menina levar uma cesta com bolos e doces até a casa dela. Advertiu-a dos perigos de ir pela floresta e mandou que fosse pelo bosque, pois na floresta densa, poderia se esconder uma fera grande e má.

Blood foi para a casa da avó numa sexta-feira à tarde, o céu estava feio naquele dia, às nuvens tampavam o Sol não permitindo que ele brilhasse e iluminasse o bosque por onde Blood era obrigada a passar para chegar até a casa de sua avó.

O bosque estava estranhamente sombrio naquela tarde, Blood tentou se convencer de que aquilo era apenas efeito do céu escuro e chuvoso.

O caminho do bosque era o mais longo, então a garota começou a colher flores para se distrair. No entanto, uma ideia brotava em sua mente ao avistar frutinhas venenosas.

E se matasse a avó moribunda? A mãe se veria livre de mais um peso e quem sabe pudessem partir para uma aventura, somente as duas contra o mundo.

A besta já espreitava, até que ela surpreende a menina surgindo da mata na forma de um lobo grande e horrendo, dizendo:

– Onde vai garotinha?

– Vou à casa da minha avó, na primeira casa depois da floresta, ela está doente e minha mamãe me mandou levar uns doces para ela. - Falou bem desconfiada. A cesta repleta de veneno.

– Sabe, eu sou um protetor dos viajantes do bosque. – Disse a besta, muito esperta. - Um espírito da natureza.

– Minha mãe disse que aqui há uma besta horrível que devora gente sem piedade...

– Por isso vou à frente e te livrarei de todo o mal! – Falou a fera, que foi ardilosa ao enganar Blood.

A fera saiu desesperadamente, correndo para chegar logo na casa da vovó e executar seu plano maligno.

Ao chegar lá, à besta matou a vovó, cortou e preparou sua carne. Colocou o sangue dela em uma taça.

Quando Blood chegou, bateu na porta, a fera mandou-a entrar.

– O que faz aqui? – Perguntou a menina estranhando. – Onde está a vovó?

– Ela mandou eu lhe avisar que foi ao médico. – Mentiu a fera. – Mas ela me disse que fez um almoço especial para você!

A fera serviu-lhe a comida (a carne e sangue de sua avó), ela comeu sem desconfiar, saboreando muito bem a refeição.

O lobo mandou-a se despir e jogar suas roupas no fogo, assim que terminaram de comer, e ir deitar com ele. Ela fez tudo o que ele pediu, de bom grado.

– Que olhos grandes você tem. - Blood pousou a mão gentilmente em seus pelos.

– É para te olhar melhor. - Respondeu a fera, hipnotizado pelos olhos da jovem.

– Que nariz grande você tem... - Gemeu, assustada e instigada.

– É para te cheirar melhor, minha querida. - Passou o nariz pelo pescoço dela.

– Que mãos grandes você tem...

– É para acariciar melhor! - Passou as mãos pelas coxas de Blood, arranhando suavemente.

– E que boca grande você tem.

– É para te devorar melhor... - Beijou a garota com força esmagadora.

A menina gemia desesperadamente, mas ninguém conseguiu ouvi-la... E quem teria coragem de ir ver do que se tratava? Blood vivia num lugar onde só existia medo, um ruído no meio da noite já era motivo para pânico na pequena aldeia.

A garota de capa vermelha pensou rápido e ofereceu sua cestinha de doces como sobremesa. Somente assim poderia sair dali com vida. Uma sobremesa onde o lobo morre no final.

Contos da meia noiteOnde histórias criam vida. Descubra agora