A chegada

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Eu não estava acreditando que a minha mãe, a mulher que me carregou por 9 meses na barriga, estava fazendo isso comigo.

Soa dramático, né?

Mas imagine você no auge dos seus 15 anos (quase 16, ok?) tendo que passar suas férias inteiras na casa dos seus avós no interior porque sua mãe decidiu fazer um curso de verão fora do Estado.

— Mas Lana, eu te perguntei se você queria fazer esse curso de férias comigo! — minha mãe exclamou da porta do quarto dela, a bagunça lá dentro era notável.

— Sim, você perguntou, e eu disse não porque esperava ficar aqui na nossa cidade com meus amigos nas férias- protestei enquanto subia as escadas em direção ao quarto dela.

— Você realmente achava que eu ia te deixar sozinha em casa nos próximos dois meses?- ela perguntou indignada.

— Sim! — gritei antes mesmo dela terminar a pergunta- Ah, mãe, eu não sou criança mais, não preciso que a vovózinha fique me vigiando, consigo me virar sozinha...

— Lana, você não sabe nem fazer um arroz!

Ok, agora ela me humilhou.

— Você sabe que eu não vou para Santa Bárbara há muito tempo, não conheço uma alma a viva lá!

— Seus avós não estão mortos, Lana — mamãe diz séria enquanto dobra a última camisa em sua mala — Aliás, acho melhor você arrumar suas coisas, combinei com Max de te buscar daqui 2 horas.

Max era praticamente nosso motorista, não como eu e minha mãe fossemos ricas para termos um, mas ela trabalha muito, então quando precisamos contratamos Max para me levar aos lugares, ele é confiável e é um amigo da nossa família, o que torna a viagem bem mais segura já que minha mãe morre de medo de Uber e apps de transporte.

— Uh, tá!

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Me despedi da minha mãe em um abraço longo, porque mesmo que eu estivesse chateada com ela, iria sentir sua falta. A viagem foi longa, aproximadamente 5 horas enfurnada no carro, mas como eu parti por volta das 10h da manhã, quando cheguei em Santa Bárbara ainda estava sol.

Pela janela consegui observar um grupo de jovens, aproximadamente 2 anos mais velhos que eu, saindo da praia com pranchas de surf, cadeiras de praia e bebidas. Não acho que a vida deles deve ser chata por morarem aqui, ao contrário, não duvido que aqui seria um local maravilhoso se eu tivesse meus amigos comigo, mas nenhum aceitaria passar o Natal e Ano Novo longe da própria família.

Santa Bárbara estava linda, bem mais linda do que a última vez que eu vim para cá, quando tinha aproximadamente 6 anos de idade. Era no interior da Califórnia, não tinha tantos shoppings, nem prédios, mas tinha sorveterias, praias e clubes. Uma pena eu não conhecer ninguém.

Quando finalmente chegamos na casa que eu ia passar as minhas férias todas eu entrei em choque, foi como a ficha tivesse caído. A casa de vovó Anna não estava tão diferente, não era larga, mas tinha dois andares, era toda branca com um quintal grande e um pula-pula ao lado da garagem, ele era para quem? Não interessa, com certeza eu vou usá-lo.

— Querida, quanto tempo! — Vovó Anna vinha em minha direção, ela parece mais baixa do que a última vez que a vi - Você está tão magra, sua mãe não te alimenta?

— Falando em comida estou morta de fome Vó- falei abraçando ela, sendo sincera, até porque ficar 5 horas sem comer não faz meu estilo, sou magra, mas é totalmente por conta de genética, sou apaixonada por comer.

— Claro, docinho! Preparei a mesa de café da tarde especialmente para você — Vovó Anna é um anjo- Seu avô vai chegar só a noite, está resolvendo um problema na lancha dos Fullermans, nossos vizinhos.

Quando entrei na casa com minhas humildes 3 malas avistei uma mesa cheia de guloseimas, mas por mais que eu estivesse morta de fome eu precisava tomar um banho, estava com um pouco de dor de cabeça pela viagem longa, além disso queria arrumar minhas coisas no meu quarto.

Ele estava exatamente igual da última vez, tinha uma cama de casal cheia de ursinhos, um papel de parede rosa-claro e uma penteadeira branca. Era infantil? Era, mas me trazia memórias boas e cheirava bem. Por mais que eu não gostasse do fato de que eu iria passar o meu verão todo, sozinha em Santa Bárbara, lá não era um local onde eu me sentia mal, pelo contrário, a casa da minha avó é extremamente confortável.

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Desci as escadas com uma regata branca e um short jeans preto, descalça. Ao chegar na cozinha dei de cara com uma menina loira, um pouco mais alta que eu, ela era levemente bronzeada e tinha um cabelo longo com cachos nas pontas, estava usando um biquíni e um short branco, ela tinha olhos escuros e uma quantidade incrível de cílios.

— Ah, oi! Você é a Lana, né?- a garota disse amigavelmente- Eu sou Helena, prazer!

— Prazer Helena, sou a Lana sim, como você sabe?

— Estou aqui por sua causa, boba! Minha avó pelo visto é muito amiga da sua, então ela me chamou para vir para cá para eu conseguir te apresentar a parte boa dessa cidade! Você tem 16, né?

— Praticamente...

— Perfeito! Eu também, que tal irmos à praia amanha depois do almoço? Eu sei que de manhã é melhor, mas quero deixar você dormir até tarde já que sua viagem foi longa...

— Ah! Por minha pode ser, se você não se importar...

— Jamais, Lana! Prometo fazer suas férias ficarem divertidas, mas agora vamos procurar nossas avós para podermos comer, elas devem estar no quintal!

Essa garota é muito interessante, ela é carismática, simpática e muito bonita, como uma menina tão linda assim consegue não ser uma megera?

Conseguimos achar nossas avós, comemos e conversamos até anoitecer, depois nos despedimos e minha avó me contou que elas moram cerca de dois quarteirões de distância da nossa casa, o que me deixou feliz, já que só meu avô tinha carro e ele quase nunca para em casa, aliás não vi ele até agora.

Não desfiz 100% das malas, mas já tirei a maioria das coisas e coloquei no guarda roupas, já que vou ficar 60 dias aqui é melhor eu acomodar as roupas dessa maneira. Coloquei um pijama e fiquei me encarando no espelho da penteadeira, queria assimilar o que estava acontecendo, tinha descoberto nesse mesmo dia pela manhã que eu não iria ficar em um apartamento, sozinha em Los Angeles com meus amigos. 

Aliás preciso falar com eles.

Eu falo como tivesse muitos amigos, mas só tenho dois, Frank e Alice, somos um trio e eu tenho certeza que vou sentir falta dos planos que fizemos juntos para essas férias, como maratonar toda a sequência de Invocação do Mal ou as várias festas do pijama que nós iriamos fazer na minha casa. Amo muito os dois, passei a viagem inteira de carro vindo para cá desabafando com eles, amanhã irei ligar contando como foi meu primeiro dia em Santa Bárbara.

Mas, agora estou exausta, quero descansar o máximo possível para poder conhecer Helena melhor amanhã, por mais que ela tenha um jeito meio estranho de ser extrovertida até demais, ela é a única pessoa da minha idade que eu conheço aqui e se mostrou extremamente aberta para ser minha amiga.

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