XXI-Entrando

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Com o incêndio das torres laterais, alguns escaladores subiram o muro e adentraram o Palácio.

Junto com o resto do exército, eu avancei contra os primeiros subordinados de Edward. Acertei três de uma vez com minha clava, e abrindo caminho pela esquerda, matei uma dúzia. Cane, na minha retaguarda, pulou de seu cavalo e abateu vários homens com as mãos nuas, e com uma acrobacia, montou seu cavalo novamente.

-Divisão! - gritou Robin Hood.

Uma terça parte do exército avançou em direção à entrada do castelo, que havia sido aberta pelos escaladores. As outras duas partes foram em direções opostas: uma me acompanhou pela esquerda, e a outra seguiu Saoud na direita.

-Então, quais as ordens, João Pequeno? - perguntou à cavalo Dante. Além dele, estavam os comandantes populares Job, Sammy (o camponês que liderava os servos dos Harlin), Fernan (líder dos rebeldes de Bourson) e Otto (ex-braço direito do Clã Bwain).

Eu ordenei:

-A torre direita está destruída. Lá era um ponto estratégico dos cavaleiros de Sir Blackson. Agora que está destruída, podemos adentrá-la sem muitas preocupações. Subiremos as escadas até uma porta que leva para o interior do castelo, e vamos seguir até o Escritório de Administração, onde com certeza Edward está.

-Como sabe de tudo isso? - indagou Sammy.

Job respondeu por mim:

-Éramos amigos de Mary Blackson, a filha de Edward. Algumas vezes, entramos aqui.

Aquela resposta pareceu ter aumentado o respeito e admiração dos outros quanto a mim. Afinal, não eram todas da "gente comum" que podiam entrar na moradia do sheriff.

Deixamos os cavalos, e à frente dos nossos subordinados, subimos as escadas da torre. Uma brisa fumacenta infestava o ar, acompanhado de um leve - mas incômodo - cheiro de madeira queimada. Fomos subindo até que, no meio do caminho, numa parede, achamos a porta. Instruir a todos rapidamente, e lançando meu ombro sobre a abertura, a arrombei.

Como esperado, duas dezenas e pouco nos esperavam ali. Sacaram suas espadas e avançaram contra nós. Eu e os comandantes abrimos caminho para metade da companhia avançar e estes dizimaram uma boa parte dos soldados inimigos. Finalmente, o resto do grupo fez um ataque avassalador contra o restante dos oponentes, e no fim de alguns minutos, 20 e poucos corpos jaziam no corredor. Nas paredes, quadros enfeitavam-nas com algumas armaduras. Os camponeses logo pegaram partes das armaduras e as armas nelas.

-Ouço gritos e som de espadas cruzadas - sussurrou em meu ouvido Fernan. Seus cabelos ruivos longos e sedosos tampavam seu rosto, e mesmo assim, eu podia ver um certo medo nele.

-Isso significa que os Direitos já conseguiram subir a outra torre e penetraram o palácio. Temos ainda um caminho pela frente até conseguir chegar ao escritório. Os escaladores devem estar na parte central daqui, apenas esperando nós e os outros lhes encontrarem.

-Não, acho que não são os Direitos que conseguiram entrar - interrompeu Otto, olhando por uma janela.

Confusos, eu, Fernan e Sammy nos aproximamos e entendemos o porquê dele ter dito aquilo.

Uma cavalaria de bons 400 guerreiros havia passado pelo portão principal e massacrava os rebeldes camponeses que ali estavam. Dentre os corpos, pude ver o de Terry, líder dos revoltosos da Casa de Dinston.

-São enviados do Castelo de Nottingham - informou Otto - Provavelmente tem ordens do próprio regente João, irmão de Ricardo Coração de Leão.

-Mas como ele sabe que nós estamos aqui? - perguntou Fernan - João pequeno, você enviou algum mensageiro para próximo do Castelo?

-Não - eu respondi - Alguém escapou e contou tudo para ele - logo lembrei-me de Frederick, que havia fugido após o discurso de Robin Hood. - Deve ter sido um soldado de Edward que escapou de Nottingham.

-Pouco provável - Sammy discordou - Ele responde apenas a Edward, já que ele é seu senhorio.

-Já sei! - Otto estalou os dedos - Este fugitivo contou tudo que aconteceu ao Blackson, que pediu reforços vindos do próprio lord João.

-A forma como tudo ocorreu não importa - declarou Fernan, gaguejando de medo - O que importa é que logo estaremos mortos se não avançarmos!

-Concordo com Fernan - eu exclamei, e virando-me pros meus acompanhantes: - Vamos continuar nossa rota rumo à liberdade!

Continuamos andando por mais alguns corredores. Ali e aqui achávamos um ou dois militares inimigos, na qual matávamos com um golpe, ou o adversário fugia covardemente. Das armaduras que enfeitavam as paredes eram pegas as espadas, lanças, machados, escudos, elmos e outros utensílios.

Em certo momento, os gritos e o som de espadas aumentou mais. "Estamos próximos do local de combate", e foi pensando nisso que tardiamente ouvi um aviso vindo de Fernan:

-Cuidado com a corda no chão!

A minha canela encostou num fino e quase invisível fio, e então, as armaduras que estavam no fim do corredor viraram em minha direção e atiraram dois dardos de besta portátil. O ruivo jogou-se na minha frente e foi atravessado pelos projéteis.

-Viva para trazer aos meus colegas e amigos a liberdade tão desejada - foi sua última frase antes de suspirar.

Não tivemos tempo de chorar.

As armaduras vazias caíram no chão, fazendo um grande barulho. Um pequeno portão que havia no fim do corredor se abriu, e em fila, umas dezenas de guerreiros inimigos vieram até nós.

-Façam fila dupla! - eu mandei - Os que estão com escudo venham pra frente!

De forma veloz, os que estavam segurando escudos ficaram na frente do grupo, e espetando os soldados com as armas que tinham - lanças e espadas. Íamos avançando passo a passo. Até que uma dúzia de flechas foi lançada da porta e acertando alguns da linha de frente. Os corpos deles tombaram no chão, desfazendo a formação.

-É a nossa chance! - afirmou um dos adversários - Avancem! Obedeçam à Bernard!

-Sim, senhor! - os seus subordinados atropelaram os que estavam de escudo e em poucos segundos, o corredor havia se tornado um completo caos. Com minha clava, desnorteei alguns adversários, e me aproximei de Sammy e Job:

-Eu vou lhes dar cobertura, e levem alguns camponeses armados para aquele portão. Deixa que eu e o restante lhes damos cobertura.

-Não - negou Job - Nós te daremos cobertura. Vá você mesmo.

-Quê? Mas...

Fui interrompido por Sam: - John, você faz parte dos Merry Mens, e faz parte da essência do plano. Sem você, não há vitória e a luta será em vão.

-Não temos tempo, vá! - Job cortou a barriga de um militar. - E diga pro Robin que me arrependo de tudo que fiz. Eu era uma criança sem noção, não sabia nada. Espero que um dia eu possa ser perdoado...

-Tu já fostes perdoado há muito tempo - eu abri um sorriso.

Sammy e Job mandaram os nossos subordinados abrirem caminho adiante de mim. Logo um pequeno caminho livre havia enquanto os inimigos eram empurrados contra a parede. Eu corri até o portão, e passando por ele, tentei fechá-lo. Mas o tal Bernard me chutou, esbravejando:

-Não vou deixar você dar um passo a mais!

Robin Hood - O Encapuzado Misterioso (Ficção-Histórica)Onde histórias criam vida. Descubra agora