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Era mais uma quarta-feira azul normal quando saí do refeitório da escola todo apressado após comer o mais rápido possível, apenas para poder desfrutar da sala de música sozinho, sem ninguém para me atrapalhar, sem vozes multicolor para confundir o...

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Era mais uma quarta-feira azul normal quando saí do refeitório da escola todo apressado após comer o mais rápido possível, apenas para poder desfrutar da sala de música sozinho, sem ninguém para me atrapalhar, sem vozes multicolor para confundir os meus sentidos. Apenas eu e meu melhor amigo, meu querido violoncelo.   

Enquanto eu caminhava pelos corredores da escola, gostaria de ter colocado os fones de ouvido para poder ocultar um pouco as vozes, risadas e os sons daquele ambiente, no entanto, eu os havia esquecido em casa. Como eu esqueci? Não faço a mínima ideia. Portanto, tive que percorrer toda a extensão dos corredores com uma confusão crescente dentro de mim. E ainda havia o fato de que estava frio, bem frio e minhas mãos estavam congelando.

Alguns adolescentes passavam por mim correndo ou andando, todos conversando alto e rindo ainda mais alto. E todas as vezes, a sensação que eu sentia era de estar sendo invadido por universos coloridos. Por isso, eu sempre caminhava de cabeça abaixada, evitando o contato visual o máximo que conseguisse.

Sinceramente? Não é de todo ruim ter sinestesia, eu gosto, me sinto de certa forma privilegiado ver o mundo de outra maneira. Mas se eu puder evitar de vez em quando algum sentido sensorial despertar, não medirei esforços, afinal, cores em excesso me deixavam atordoado e com dor de cabeça, por isso eu usava óculos de grau, aliviava um pouco.

Quando virei no corredor em direção à sala de música, meus ouvidos se apuraram em um som que não o reconheci de imediato. No entanto, as notas musicais coloridas se fizeram presente, as formas vibrantes se desenrolando diante os meus olhos. Estanquei no lugar, ponderando se deveria continuar o meu percurso ou apenas ignorar, porque geralmente a essa hora numa quarta-feira a sala de música fica vazia.

Entendam, eu não sou de muitos amigos. Não que isso fosse algo ruim, havia Jeon Jungkook, o garoto tímido que por acaso acabou se tornando meu melhor amigo, e o único na escola que sabe sobre o meu estado de sinesteto. Quando um assunto novo e diferente cai nos ouvidos alheios, é normal sentir-se curioso sobre aquilo, buscando saber mais e mais, e muito das vezes, deixando um clima desconfortável. Claro, com Jungkook não foi diferente, mas o garoto soube respeitar o meu espaço e bom, se a escola inteira ficar sabendo que tenho sinestesia, por Deus, quero nem imaginar a loucura que isso seria.

Portanto, apesar de eu manter uma boa conversa com algumas pessoas, isso não quer dizer que estou aceitando currículos para amigos. Em algum momento, talvez eu deixe alguém mais entrar, todavia, não agora.

Então, por mais que eu não quisesse conversar com ninguém neste momento, meus pés haviam criado vida própria e quando percebi já estava em frente a porta da sala de música. Aquele som, eu o conhecia. Era a melodia suave de Secrets — OneRepublic, sendo tocada pelas notas agudas de um violino.

As notas eram tocadas com tanta destreza que me deixou abismado, enquanto diversas cores pareciam dançar bem diante os meus olhos, formando formas diferentes e vibrantes. E não era isso que havia me deixado surpreso, mas sim o fato de eu estar vendo a cor amarela chamuscada ao redor daquelas notas. A melodia adentrava em meus ouvidos, me fazendo arrepiar por inteiro, deixando-me quase sem fôlego. Era deslumbrante, absurdamente lindo como o som agudo era ressoado tão resplandecente e como eu tive a sensação de que havia vozes humanas no fundo.

E tenho que admitir: eu adorava as cores das notas musicais sendo ressoadas, e claro, não posso deixar de parabenizar a pessoa que está tocando com tanta intensidade, pois deixou a música com um toque aveludado, quase palpável.

Sem mais delongas, abri a porta lentamente, podendo por fim observar quem era o responsável por trazer aquele som e aquelas cores até mim.

Em pé no centro da sala de música se encontrava um garoto, de costas para mim, portanto, eu não consegui vê-lo. Porém enquanto ele tocava, também seguia dançando singelamente conforme o ritmo da música. Meus orbes se hipnotizaram no mesmo instante pelo garoto e o tom amarelo que o envolvia, parecia a cena de um filme mágico, um conto de fadas. As cores pareciam brilhar ao seu redor, os seus movimentos e o violino soavam quase magicamente. Com certeza, era uma cena que eu gostaria de gravar na memória para sempre.

Como se meus pés tivessem vida própria, eles me guiaram até uma cadeira onde já estava com um violoncelo disposto ao lado, me sentei trazendo o instrumento até o meio das minhas pernas. Eu não sabia o que estava fazendo e o garoto sequer havia notado a minha presença.

Todavia, me concentrei e comecei a tocar Secrets acompanhando o ritmo ditado pelo garoto, e devo agradecer ao fato de eu conseguir ver as cores das notas, pois consegui o acompanhar perfeitamente. Não sabia que havia prendido a respiração até ter os olhos arregalados do garoto sobre mim, me olhando assustado, finalmente notando a minha presença. Por um instante achei que ele fosse parar ou que fosse me pedir para sair, no entanto, ele continuou tocando.

Sua expressão suavizou enquanto um pequeno sorriso torto se abriu em seus lábios assim que ele notou que eu o acompanhava com o violoncelo. Ele não parou de dançar, mas ao contrário de antes, seu olhar se mantinha sobre mim. E olhando em seus olhos, consegui sentir o cheiro adocicado que vinha dele, não sei dizer o que era, mas era bom e muito atrativo. Como um calmante que penetrava a minha derme, me deixando anestesiado, foi então que tive a sensação de estar em um campo regado de girassóis.

Meus olhos arregalados denunciaram o quanto eu estava surpreso, porque em todos esses meus anos de vida, nunca sequer conheci uma pessoa tão amarela quanto Jung Hoseok.

E talvez ele realmente fosse um girassol.

O meu girassol.

Todavia, Hoseok era uma incógnita, porque apesar do amarelo vibrante que o cerca, havia um toque escuro ao seu redor. Um azul opaco beirando ao preto que se manifestava lentamente.

E eu não gostava quando via o tom preto nas pessoas, pois significa tristeza.

Tristeza profunda.

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Amarelo em Você | sopeOnde histórias criam vida. Descubra agora