Definição

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Eu não sabia o que fazer, como agir, apenas... Não sei o que estava sentindo, parece que o mundo parou de girar, faltou ar... Corri o máximo que pude para pegar a bolsa com o celular que deixei no sofá da sala para ligar e pedir uma ambulância.

— Alô!!! Pelo amor de Deus!!! Preciso de uma ambulância urgente, meu pai está caído no chão!!! Pelo amor de Deus!!! - Foi horrível ter que falar com a atendente e nem saber como verificar a situação do senhor Edward, ter que responder perguntas que não sabia e verificar seu estado, fiquei tão nervosa quase nem lembrei o endereço. Eu não queria toca-lo para saber se estava vivo, eu queria ter um pouquinho de esperança até a ambulância chegar.

Tentava fazer os primeiros socorros, mas nada, ver se ele estava respirando elevar sua cabeça para passagem de ar, fazer as compressões e todo o procedimento de CAB que via na TV, mas nada dele acordar! — Acorda!!! — As lágrimas que lutei para não derramar, saíram. - Por favor... — Senti quando entrei em estado de choque e não conseguia andar, tirar os pés do chão, pensando em outra vez que iria perder alguém de novo — Que inferno, meu Deus... O que foi que fiz para merecer isso... — Falei quase sem voz, repetindo até ouvir o som de fortes batidas na porta depois de alguns minutos e fui no automático abrir a porta.

— Aonde está? — Eu apenas apontei a direção do quarto. Eu fiquei na sala em pé sem reagir ouvindo os socorristas falarem. — Continuem com as compressões! Desfibrilador! 200, choque... — Eu não via mais nada pela visão embasada pelo choro. — Choque! — Foram minutos de angústia até que houve esperança.

— Sinais vitais voltando! Vamos leva-lo, transferência em 1, 2, 3!

— Ai meu Deus! Obrigada! — Voltei a respirar. — Como ele está?! — Perguntei assim que vi eles levando meu pai.

— Vamos leva-lo para o hospital mais próximo. — Peguei minha bolsa. — Tem alguma documentação dele? — Perguntou o socorrista.

— Vou pegar! — Vi a carteira em cima da mesa de canto e segui eles.

Preenche a ficha, assim que chegamos no hospital. Ainda estou com muito medo de perder ele e pelo que ouvi na ambulância, ele teve sorte. Eu não aguentava mais sofrer, estava tão cansada emocionalmente, meu psicológico estava um caco. Eu não poderia ser feliz só um pouquinho? Eu preciso de paz, não estou aguentando mais, eu só caminhava de um lado para o outro na recepção com estes pensamentos.

Tinha o trabalho e a faculdade, não estava dando conta, minha saúde mental e todo o esforço que eu estava fazendo para manter o teto na cabeça era demais, o custo de vida em Nova York é muito caro e as nossas economias em não comprar roupas e sapatos, fechar as torneiras e comprar alimentos mais baratos não estavam ajudando muito e piorou depois que o senhor Edward de um tempo para cá começou a se queixar de dores da idade, com seus 63 anos.

Apesar do seu grande currículo, seu Edward estava "velho" demais para os muitos diretores das escolas que ele procurava vagas para trabalhar, não diziam isso na cara dele, mas nós sabíamos e com o tempo que passou em Angola, o senhor Edward nunca tinha contribuído para sua aposentadoria nos EUA, então agora dava aulas para reforços que complementavam nossa renda. Mesmo com todos os percausos, lembro-me bem dos seus conselhos para ter amigos e me divertir, ele me disse que eu era a Tiana do filme 'A princesa e o sapo' e agora veio um sorriso no meu rosto, pois eu sempre quero trabalhar e estudar, não quero saber de amigos e festas, a maioria das pessoas só querem curtidas e status, andam com quem de alguma forma irá ter benefícios.

Lembranças on:

— Já disse a você para arrumar um namorado, amigos, ninguém foi feito para viver sozinho. — Senhor Edward me disse.

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