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O CAVALEIRO SOMBRIO

                   Lan Wangji

Eu estava com medo e minha fraqueza me incomodou. Algumas noites atrás, ele gritou e tremeu durante o sono. Sua pele estava fria, sua voz fraca. Desde então, nunca mais saí da cama à noite, sempre o tocando enquanto ele dormia. A besta dentro de mim insistiu que eu o protegesse quando ele estivesse indefeso. Pela primeira vez, não lutei contra seus impulsos. Eu adorava ver Xiao Zhan  dormir, senti-lo em meus braços.

Só quando o sol nasceu e Xiao Zhan  abriu os olhos, sorrindo para mim, o animal se acalmou. Eu beijaria meu querido amante e iria embora em silêncio, deixando-o descansar um pouco mais. Eu estava ansioso para passar o dia com ele. Talvez vê-lo fora de casa, se divertindo, diminuiria minha preocupação.
No domingo, quando os campos estavam vazios e as igrejas cheias, Xiao Zhan  e eu cavalgamos juntos. Ele estava nervoso de excitação quando subiu na sela. Até Troll parecia feliz, a alegria de Xiao Zhan  era contagiante.

Eles seguiram pelo caminho em um passo rápido, Xiao Zhan  murmurando palavras alegres e tolas para o cavalo, que ouviu como se ele entendesse, as orelhas se mexendo. Minha égua, Bichen, parecia observá-los de sua altura superior com calma dignidade.
Assim que saímos dos jardins e nos aventuramos nos campos, o caminho ficou largo o suficiente para que pudéssemos cavalgar um ao lado do outro.
— Você aprende rápido — eu disse a Xiao Zhan .
Ele já parecia à vontade na sela, controlando o cavalo em um trote com confiança.
— Jona é uma boa professora. E Troll é paciente comigo.

Eu sorri. — Ele gosta de você. Você encontrou um bom amigo.

Os olhos de Xiao Zhan  ficaram tontos com o elogio. Ele se abaixou e deu um tapinha no animal.

— Eu também gosto de você, Troll. Você é o mais gentil.

O sol não estava tão forte como poderia estar neste final de maio, e uma brisa suave esfriou nossa pele. Eu trouxe água para Xiao Zhan , e quando paramos nos campos depois de meia hora, ele pegou a bolsa de mim e bebeu com avidez.
— Até onde vai a propriedade?— ele perguntou quando me devolveu a água. — Podemos dar a volta?

— Levaria dez dias nesse ritmo.
— Dez dias? Não admira que você vá todos os dias, trabalhando.
Quantas pessoas vivem em suas terras?

— Cinco mil pelo último censo.
— Oh.— Xiao Zhan  olhou para longe, perdido em pensamentos. O que o fez franzir a testa? — E há quanto tempo você mora aqui?

— Setecentos anos.
— Setecentos anos,— ele repetiu, sua voz muda, oca. Troll relinchou baixinho, imediatamente percebendo a inquietação de Xiao Zhan .

— O que você está pensando?

Xiao Zhan  balançou a cabeça e fez o cavalo se mover mais rápido.
Eu estava curioso demais para deixar para lá. Sabendo que ele teria que responder se eu perguntasse diretamente, eu o alcancei. — Me responda, Xiao Zhan . O que fez você franzir a testa? O que você está pensando?

— Pensei na diferença entre nós. Sobre sua riqueza. Sobre quantos homens você deve ter tido. E então eu me censurei por ser tolo, — ele disse apressadamente, seu tom irritado. — Você não deveria me fazer dizer essas coisas.
— Eu sinto muito.— Mal sabia ele que eu era o idiota, manipulando-o porque precisava saber o que estava por trás de cada sorriso e suspiro.

— A maior diferença entre nós está na sua beleza e na minha monstruosidade.

Ele desviou o olhar para os campos, escondendo o rosto da minha vista. Ele não pareceu gostar da piada. Em vez disso, tentei ser sério.
— Nenhum dos homens foi cavalgar comigo, Xiao Zhan . Nem uma vez em mil anos.
Ele se virou para mim, seus olhos arregalados, um rubor em suas bochechas.
— Venha, vamos para o rio e descansar um pouco na sombra.
Ele sorriu suavemente e acenou com a cabeça.

"𝑶 𝑫𝒆𝒔𝒆𝒋𝒐 𝒅𝒐 𝑫𝒆𝒎𝒐̂𝒏𝒊𝒐"Onde histórias criam vida. Descubra agora