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Xiao Zhan

Eu estava apoiado na pá, minhas botas imundas submersas em esterco. Eu mal tinha feito a metade, mas não conseguia forçar meus músculos a obedecer à minha vontade. Patético. Deixei a pá cair e me inclinei no portão de madeira. Minha respiração curta, meus batimentos cardíacos acelerados, eu senti que o dia estava acabado.
Lillian passou pela barraca aberta e parou, medindo-me com seu olhar eterno.

— Vá descansar, Xiao Zhan . Se ele visse você agora, ficaria vermelho de raiva.

Eu sorri. — Eu gostaria de ver isso.

— Não. Ninguém quer ver isso. Vá, ou eu o carrego para fora daqui, eu juro.

— Oh, calma. Já vou.
Balançando a cabeça, empurrei a parede.

A caminhada de volta à casa principal foi longa. O sol da tarde aquecia o quintal e, mesmo à sombra dos antigos carvalhos, o ar dançava. Eu vim para o vestiário, encharcado de suor. Minhas roupas caíram no chão e enchi a banheira com água fria dos baldes preparados. O banho me refrescou um pouco e tive vontade de esperá-lo na poltrona junto à lareira. Ainda assim, não pude resistir à tentação da cama confortável. Eu mergulhei nos travesseiros e me estiquei, meus membros pesados como chumbo. Devo ter adormecido imediatamente.
Quando acordei, o ar na sala estava frio, mas minha bochecha estava quente.

— Xiao Zhan , querido.

A voz dele. Pisquei e o encontrei sentado na cama, vestindo o robe rubi. Ele acariciou minha bochecha, meu pescoço, e então beijou minha testa, leve como uma pluma e tão doce. Em minha mente, eu arqueei em direção a ele, agarrei-o pelo pescoço e o puxei para mim.
Mas mal tive forças para manter os olhos abertos.
— Você não comeu nada no jantar. Você precisa comer.
— Que horas são?
— Sete. Ainda nem está escuro.
— Eu sinto muito.
— Não faça isso.— Seu dedo traçou meus lábios. — Não se desculpe.

Eu não seria capaz de agradá-lo esta noite. Simplesmente não tinha forças. Ele deve ter visto a derrota em meu rosto porque ele suspirou e deu beijos suaves ao longo da minha testa e na minha têmpora. Ele parou perto do meu ouvido e sussurrou.
— Descanse, meu querido menino. Vou trazer o jantar.

Então ele se levantou da cama. Eu estendi a mão atrás dele, imediatamente me sentindo desolado. Ele tirou o manto dos ombros e me cobriu com ele, envolvendo-me com seu perfume.
— Eu volto já.

Deslizando uma camisa branca pela cabeça, ele saiu da sala. Ele voltou logo, carregando uma bandeja com vinho tinto, carnes frias e queijos. Eu não estava com fome, mas sucumbindo aos seus olhares preocupados, comi. Ele continuou acariciando minha pele suavemente.

— Por que você come?— Perguntei.

Ele riu, um som gutural que me aqueceu.

— Pela mesma razão que eu toco você. Eu poderia sobreviver sem ele, mas que eternidade sem graça seria.
— Você não sente fome?
— Não da mesma maneira que você, não. Mas eu posso provar, e eu desejo.
— Qual foi o melhor sabor que você já experimentou?

Ele sorriu, olhando para mim, seu olhar seguindo a abertura do manto, onde uma faixa da minha barriga nua era visível. — Seu sêmen.

— Eu estava falando sério.

— Eu também.

Eu peguei seu olhar, e o calor em seus olhos me queimou por dentro, assim como o cansaço amarrou minhas mãos. Eu detestava o que a doença me fazia. Não sabia se tinha energia para fazer amor, mas mesmo assim o desejava. E se eu não tivesse mais tempo?

"𝑶 𝑫𝒆𝒔𝒆𝒋𝒐 𝒅𝒐 𝑫𝒆𝒎𝒐̂𝒏𝒊𝒐"Onde histórias criam vida. Descubra agora