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Pov S/n

O despertador ecoou, interrompendo os sonhos e marcando o início de mais um dia. Abri os olhos, recebendo a luz do novo amanhecer. A rotina matinal começava, e, como de costume, a primeira parada era o banheiro.

Tomei um banho, permitindo que a água caísse suavemente sobre mim, um ritual revigorante que, por um momento, afastava as preocupações. Ao sair do chuveiro, o espelho me aguardava, refletindo uma imagem que, ao longo do tempo, aprendi a aceitar, mas que ainda carregava as marcas das batalhas interiores.

Fiquei apenas de cueca diante do espelho, observando meu corpo. Os traços masculinos eram evidentes, uma manifestação da minha intersexualidade. Não havia seios, uma característica que, por vezes, gerava um desconforto silencioso. Mas eu, ao longo dos anos, aprendi a apreciar e aceitar essa singularidade.

Contudo, as sombras do bullying passado sussurravam dúvidas cruéis. Apesar de gostar do meu corpo, a ideia de que, se tivesse nascido dentro dos padrões normativos, seria mais aceita e, talvez, mais feliz, teimava em emergir. Era como se a sociedade impusesse um padrão de felicidade baseado na conformidade com a norma.

Enquanto me olhava no espelho, surgiam questionamentos profundos sobre a verdadeira essência da felicidade. Seria possível alcançá-la em um mundo que muitas vezes parecia determinar a valia de alguém com base em padrões rígidos?

Vesti-me, deixando esses pensamentos de lado por um momento, mas sabendo que eles permaneceriam presentes, entrelaçados à minha jornada diária.

Ao deixar o quarto, as preocupações e reflexões ficaram temporariamente guardadas, dando lugar à rotina acolhedora da manhã. Na cozinha, minha avó, uma figura que emanava carinho e sabedoria, já estava ocupada preparando um simples, mas reconfortante, pão na chapa.

Corri até ela, uma expressão de afeto iluminando meu rosto. "Vó, não precisava se preocupar tanto," disse, tentando aliviar a carga de trabalho dela.

Ela sorriu gentilmente, balançando a cabeça. "Que isso, meu amor."

Com carinho, tomei as rédeas da cozinha. "Deixa que eu termino. Venha, se sente."

Guiando minha avó até a mesa, eu a fiz acomodar-se confortavelmente. Voltei à frigideira, terminando de preparar os pães na chapa. Enquanto eles cozinhavam, aproveitei para preparar também ovos mexidos com queijo, tomate cereja e manjericão, uma explosão de sabores para começar o dia.

A mesa foi cuidadosamente arrumada, e o café foi servido. Priorizando minha avó, enchi sua xícara primeiro e só depois a minha. Sentamo-nos juntas, compartilhando o aroma do café recém-preparado e a simplicidade de um café da manhã partilhado.

Ela, com os olhos brilhando, começou a falar sobre suas adoradas orquídeas. "Sabe, querida, as orquídeas são como filhos para mim. Cada uma tem seu jeitinho, suas preferências."

Eu, sorrindo, concordei. "Deve ser incrível ter um jardim tão especial."

"Ah, é mesmo! Mas não se preocupe, vou te ensinar tudo sobre elas. Primeiro, precisamos escolher as mais bonitas para plantar."

Eu, concordando "Claro, vó. Será um aprendizado."

"E, querida, cada orquídea tem um significado especial. Algumas representam amor, outras prosperidade."

Segredos do Coração - Hailee e S/n(G!p)Onde histórias criam vida. Descubra agora