Um

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Ana Rivera Connelly

Surpresas! Eu amava surpresas, mas não quando vem com problemas, e é isso que encontro ao ver meus filhos sujos de lama, como eles saem no jardim e voltam assim? É um enigma, não chove há três dias! Ária é toda sorridente com o rosto sujo de areia, já Aaron puxou um pedaço de planta de seu cabelo liso. Olho para os dois tentando — a todo custo — não brigar com eles.

— Aí meu Deus! Como isso aconteceu? — Allie vem em minha direção com um sorriso travesso no rosto, sua barriga inchada por debaixo do vestido curto florido. Seu cabelo loiro amarrado em um rabo de cavalo com trança.

— Eu é que pergunto dona Allysson! — Digo a repreendendo com o olhar. Suas bochechas adquirem um tom mais rosado.

— Eles queriam brincar com a mangueira no quintal.

— Queriam? Até hoje de manhã eles não sabiam nem o que era água saindo de uma mangueira! — Digo, ela pisca os olhos tentando parecer inocente, nem aqui e nem na China!

— Vamos, vou te ajudar a dar banho neles — Ela tentou prosseguir e a parei.

— Você não vai a lugar nenhum! Eles são travessos e vão acabar te derrubando no banheiro — Como a gravidez dela é de risco acabamos a protegendo demais, fazem semanas que ela nem sai de casa.

— Ana! — Ela tentou, mas só tentou, fazer com que eu mudasse de ideia. Mas eu já estava no meio do caminho com os gêmeos para o banheiro.

— Chata! — Ela gritou e acabei rindo.

Meia hora depois tenho um Aaron pronto, de calça jeans, blusa social vermelha e o tênis preto. Encaro Aria sentada assistindo no celular vídeos infantis brasileiros. Encaro os cachos perfeitos após penteados e ela sorri exibindo os poucos dentinhos. Visto o vestido vermelho, a meia calça e a botinha preta. Coloco a tiara com o laço vermelho com pérolas e um chapéu de papai Noel no Aaron. Os dois estão as coisitas mais lindas! E fui eu que fiz!

— Não entendo porque esses jornais ainda existem, não, era algo sobre reciclagem de papel….. — A voz do Nate some ao ver os gêmeos arrumados para a noite de Natal.

— Estão lindos! — Ária gostou do elogio ao tocar na barra do vestido.

— Fica de olhos neles, enquanto me arrumo? — Peço, ele balança a cabeça, dou um beijo rápido e encaro os meus gêmeos arrumados mais uma vez.



— Dá para calar a boca! Nenhum de vocês estão preparados para isso! — Adam diz, reviro meus olhos, ele está usando um terno preto,  na verdade, esse ano eles quiseram estar todos de terno, com uma gravata vermelha e o combinado era que nós meninas passássemos de verde, mas sou supersticiosa e me neguei, não quero engravidar no próximo ano, obrigada. Então estamos de vermelho e verde. Ada e Jade de verde, eu, Sirena e Allie de vermelho.

— Você está estragando a infância da minha filha! — Logan diz com raiva, mais uma certa diversão no olhar. Adam coloca a mão no peito indignado.

— Eu? O comércio cria um personagem e eu sou o culpado? — Ele colocou na cabeça que papai Noel não existe, o pobre é traumatizado, quando criança viu um bêbado vestido de papai Noel e tudo o que recebeu foi um “Iaê colega?” vindo do velho.

— Papai Noel não existe? — Luna questiona, sentada no chão de pernas cruzadas brincando com o baralho montando castelo.

— Não escute o que o tio Adam diz, Luna, ele bateu a cabeça hoje de manhã — Jade diz tocando no cabelo dela.

— Fala isso agora, mais sei que pensa como eu.

Não tivemos infância normal, Adam vivia em eventos como o filho troféu, perfeito e alinhado. Natal? Em festas, nunca em família.

— O que vocês pediriam então? Ao velho? — Adam pergunta depois de poucos segundos calado, durou foi mais dessa vez.

— Eu? Nada, já tenho tudo — Nick diz e isso é lindo porque ao dizer isso ele olha para Sirena e Caroline.

— Deixa de ser brega, todos aqui amamos nossa família, mas vamos lá! Sejam criativos! — Adam esnobou a emoção do Nick. Ada escondeu o sorriso no ombro do Logan, ela sempre faz isso.

— Bem, vamos lá. Eu pediria uma viagem para o Ceará — Digo, Adam aponta para mim animado.

— É disso que estou falando! Estamos pensando grande aqui — Bateu palmas.

— Mais isso você pode fazer a qualquer momento, é rica, e por que o Ceará? — Fitz pergunta. Dou de ombros.

— Eu dificilmente compro passagens, e seria ótimo ganhar isso, Ceará é lindo, tenho vontade de conhecer o estado todo — As praias….

— Tá, eu pediria um livro que nunca foi lido — Nick diz e acabo rindo.

— Como assim?

— Seria maneiro ser o primeiro a ler o livro — Concordo! Bato na sua mão apoiando seu pedido. Encaro mais uma vez Aria e Aaron que estão brincando com Caroline no chão com jogos de montar.

— Pediria uma cesta de biscoitos — Ada diz empolgada, Adam gosta da ideia e sorri.

— Dividiria comigo?

— Não, seriam só meus — A gravidinha diz com um sorriso travesso. Aperto a mão do Nate enquanto acho graça, sinto-o beijar meu ombro, enquanto vemos nossos amigos discutirem sobre presentes.

Há alguns anos não conseguia entender o porquê de ter tantos amigos, mas observando minha família hoje, porque, sim, eles são minha família, entendo o porquê. É ótimo estar rodeado de amigos, principalmente daqueles que fazem seus dias melhores.

Olho para cada um e sinto vontade de chorar, quando fui sequestrada achei por um momento que nunca mais iria vê-los, e aí eles me salvaram, porque é assim que somos.

Se um de nós morresse, uma parte de cada um morreria.

Pensava na morte como uma fase da vida, mas agora tenho medo dela. Não dá minha, mas dá deles. Eu não conseguiria viver sem as piadas sem graça do Adam, do lado doce da Ada, dos imprevistos da Jade, de compartilhar o amor por livros com o Nick, dos estresses do Fitz que combinam com os meus, da seriedade do Logan e de como ele sempre sabe de tudo, da Allie e de sua parceria e do Nate que é o grande amor da minha vida.

Que brega! Eu sei, mais ultimamente me sinto feliz, me sinto em casa.

Um conto de Natal - Um grupo em Nova YorkOnde histórias criam vida. Descubra agora