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Estamos a uma distância considerável, vejo-o por trás da multidão. Algumas poucas pessoas no salão identificavam o grupo de delinquentes por trás da figura loira, conversando em sussurros apavorados. A maioria, ainda desavisada, compadecia-se pelos sentimentos dos jovens, supostos, amigos do falecido.
Pelas descrições de meu irmão, o mais baixo, loiro, com a aura calma e olhos pesados, era sem dúvidas "Mikey o Invencível". Atrás, aquele que falava e guiava Mikey pelo velório, "Draken", quem tem sua maior confiança. Por sequência, Um jovem de cabelo platinado e expressão pesada. Com aquele olhar de traços ambos gentis e tristes eu reconheci logo, porque estava sem os piercings nos furos das orelhas.
O capitão da segunda divisão, Mitsuya Takashi, caminha à frente de Mikey com o balançar de suas cabeças em concordância. Com delicadeza deposita suas flores ao peito do corpo, falando uma meia dúzia de palavras baixas. Se meu irmão pudesse abrir os olhos agora, ele estaria muito feliz. Seu admirado capitão dando as mais belas flores e respeitos pelo seu espírito lutador, pela sua amizade sincera.
Não posso chorar mais. Não hoje, não agora. Mikey já notou meu olhar nele, e preciso continuar o plano. Não há espaço para falhas. Com um sinal simples de minha cabeça e olhar, me movo para os fundos do prédio, esperando que sigam meu caminho mais por trás.
Uma vez tendo o olhar de Mikey e Draken de frente pra mim, sei que é chegada a hora de falar. Luto contra o nó pesado em minha garganta, as lágrimas escondidas, e falo em bom tom. Ninguém nos ouviria de dentro do salão, os choros não deixavam.
ㅡ Eu presto o meu coração à Toman. ㅡ O meu pulmão enche-se de ar e esvazia rápido, me preparando para continuar a falar, mas antes que eu possa fazer Mikey me interrompe.
ㅡ Sabe... Eu cheguei a pensar que era o fantasma do Goichi. Mas agora eu me lembrei, ele dizia vez ou outra que tinha uma irmã.
Ele estava certo, em parte. Por mais que eu tenha cortado meu cabelo e pego algumas roupas dele, minha voz e minha altura ainda não mudam completamente quem eu sou. Entretanto, eu já deixei a identidade de "Fujie" pra' trás a muito tempo, e só quem sabia disso era o Goichi.
ㅡ Ele dava duro pra' deixar o território do bairro de vocês limpo. Foi falha da Toman o'que aconteceu. Vamos cuidar disso. ㅡ Dessa vez foi Draken quem me interrompeu, completando a suposta parte de Mikey. Eles estavam começando a se curvar em empatia, luto, despedida... Mas eu vou falar agora.
ㅡ Eu sei muito bem que vão. Ele me ensinou. ㅡ "Mexeu com um, mexeu com todos.", o lema que ele admirava. Dei uma pausa, esperando eles interromperem seus movimentos e me olharem nos olhos novamente. ㅡ Acontece que, eu quero vingá-lo. Eu tenho que fazer isso.
Cada palavra foi cuspida usando quase todo o meu fôlego. Meus punhos tremiam e os nós de minhas mãos embranqueceram. De dentro do prédio Mitsuya se juntou a eles, sua expressão agora ilegível, as fofocas devem ter se espalhado até minha mãe. Força, preciso de mais força. Eu já sentia seus olhares me julgando, era como se eu ouvisse as vozes dos delinquentes da Moebius: "Aproveita que ela tem medo, já me deixa pegar nela.", "Só segurar firme e dar uns socos no rosto que ela cala a boca.", "Ah que merda, ela vai querer resistir. Caralho, esses chutinhos tão me deixando puto".
ㅡ Você aprendeu... o chute alto? ㅡ Uma voz suave me tira do transe. Mitsuya me olhava por detrás de Mikey e Draken, caminhando para o lado deles.
ㅡ Não... não nós... não conseguimos aperfeiçoar. O Goichi caía muito. ㅡ Me forço a dizer, me lembrando dos meios da semana que Goichi resolvia me ensinar seu estilo de luta.
Na verdade, era um bando de golpes que ele via Mitsuya ou Mikey fazendo raramente e achava legal ficar repetindo. Ele era um nerd, de certa forma. Mas golpes incríveis feitos de maneira solta não nos ajudaram no final das contas.
ㅡ Entendo... ㅡ Mitsuya olha para Mikey e depois para Draken, de cabeça baixa, como se pedindo um favor. ㅡ Como era o seu nome? O verdadeiro.
Isso me surpreendeu. O capitão sabia mais do que a admiração nerd de Goichi, as intenções de deixar o bairro seguro de gangues e nossos "treinamentos" infantis. Mas se era assim, então ele era muito próximo de Goichi, não apenas respeitado.
ㅡ [Nome]. Eu deixei "Fujie" faz anos, ela estava fora de lugar. ㅡ Dizer isso pra alguém pela primeira vez sempre me embrulha a barriga. Não é um medo das pessoas, mas de sua retaliação, sua reação. Mas Goichi sempre me ajudou a lutar, agora é tempo de impor minha identidade, eu só preciso quebrar a barreira do medo.
ㅡ Então, ainda tem o uniforme contigo? ㅡ Mikey pergunta, com um sorriso sutil como se fosse uma conversa de fim de tarde.
ㅡ Sim...
ㅡ É "Sim, senhor", ô palerma. ㅡ Draken fala mais alto, o tom grave e autoritário dele me assustam levemente, me forçando a me corrigir, também em posição de sentido.
ㅡ Sim, senhor! ㅡ Mikey porém apenas ri, o que arrebata risadas de Draken e Mitsuya também. "Eu fiz algo errado?".
ㅡ Então tudo certo, te vejo na terça no fim da tarde. Sabe o local né? ㅡ Ele dá meia volta, não esperando por minha resposta enquanto o vice-líder o segue. Seus passos em saltinhos lentamente parando em passos pesados até chegar ao portão do terreno, quando ele para ainda sem me olhar de volta. ㅡ Ele estava certo, né, Kenzinho?
Draken apenas concorda com um murmúrio, e eles voltam a andar para fora de vista. O que ficou, Mitsuya, estava lá olhando minhas roupas, talvez reconhecendo-as.
ㅡ Ainda que sirva bem, talvez a calça ainda esteja muito comprida. Passa nesse endereço na terça de tarde, eu dou um ajuste. ㅡ Ele sorri fraco, me passa um papel com o endereço já escrito e me estende a mão em um punho. Dessa vez eu não hesito, batemos em "soquinhos" em concordância. Com isso, ele sai pelos mesmos portões na mesma direção que os outros garotos. Hoje teve coisa demais pra todos nós.
. . .
[Notas minhas!]
Basicamente to nervosa porque nunca mais escrevi uma fic com tanta vontade, mas seja oque vier. Gosto de interagir então não me incomodo com comentários! Sinta-se livre.
