"Três"

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   O mês já se acabava. Faity não fazia ideia do que fazer de sua vida. Arranjou um trabalho na bilheteria de um cinema para que conseguisse se mudar e parar de ouvir seus tios sempre perguntando o que acontecia com ela.

   Uma noite, havia voltado do trabalho duas horas mais tarde. Estava tudo escuro, um silêncio praticamente mortal pela vizinhança, e ela pisou para dentro da casa apenas alguns segundos antes de uma chuva forte começar a cair. Faity viu toda a escuridão ao seu redor. Procurava seus tios por toda a casa, então percebeu uma linha de luz iluminando o chão. Saía do quarto deles, com a porta semiaberta. Ela ouvia eles sussurrando algo, mas não entendia o que era, e chegou mais perto sem que eles percebessem.

   -Não adianta Derek! Você não percebe? Não é de um mês que ela tá desse jeito! Faz mais de um ano... - diz Clover, eufórica.

   -E você acha que deveríamos fazer isso? Acha algo tão sério assim? Pode ser só uma fase difícil que ela esteja passando! Fim do colegial não é fácil. - retruca Derek

   -Isso não é motivo pra ela ficar assim, Derek! Nunca vi alguém assim, e esse não é o normal dela!

   -Então... Acha mesmo que essa seria a melhor decisão pra ela? - o homem escutou o ranger do chão, e os dois olham para a porta, e veem a garota ali.

   -O que é a melhor decisão? É pra mim? - questiona Faity, com uma das mãos no batente da porta e olhando para os dois.

   -Faity... Ainda está acordada, querida? - Clover diz, com um sorriso sem graça no rosto e um pouco reclusa com a feição da jovem. 

   -Não me chame de querida, tia - ela diz enquanto entra no quarto e encosta a porta - e não mude de assunto. Que decisão é essa? 

   O ambiente fica um pouco tenso e o silêncio domina o cômodo. Os mais velhos se olhando e Faity os encarando, impaciente para uma resposta.

   -Não têm nada a dizer? - Insiste a jovem.

   -Bom, é complicada a situação, Faity. Ainda não temos certeza de nada. Estamos pensando muito. - Diz Derek, se sentindo pressionado.

   -Digam logo, não sou nenhuma fraca! Já ouvi muita coisas.

   Derek e Clover se olham, a mulher com os olhos brilhantes de lágrimas, e o homem começa a explicar:

   -Olha, Faity. Estamos há um tempo pensando... Em te levar à um psicólogo... Não sabemos onde isso pode dar, mas pode te ajudar um pouco. - Ele olha diretamente para a menina, e ela está o encarando sem muita expressão no rosto, mas com ódio e, ao mesmo tempo, confusa. - Faity...

   -Eu já disse - ela interrompe - que não sou louca. Por que acham que estou? Eu só não gosto daquele lugar, estar quieta não quer dizer que estou louca!

   -Não dissemos que está louca, querida, queremos apenas ajudar. diz a tia Clover, mas ela rapidamente impedida de falar qualquer outra coisa pela sobrinha em tons agressivos.

   -Chega! Já chega disso! Chega dessa ideia, chega de me chamar de "querida" o tempo todo, não aguento mais pedir isso! Vocês não pensam nem um pouco em mim! Acham que aquelas pessoas vão poder fazer alguma coisa?

   -Mas Faity, isso é temporário! Só pra ver se você não tem alguma coisa, não sabemos!

   -Eu não sou louca, tá bem? Só por que tenho problemas em me adaptar?

   -Não é problema em se adaptar, está claro que é mais que isso. Bem mais sério. - Diz Derek, um pouco surpreso com a reação da jovem, mas firme com as palavras.

   -Não vou à lugar nenhum! Me amarrem se quiserem mesmo me levar para um hospício!

   -Ninguém disse em hospício, querida! - Antes que a mulher pudesse ser ouvida, Faity desce as escadas e vai para fora de casa para não precisar falar com eles, e nem ouvi-los.

   -Não adianta, Clover. Você sabe bem de quem ela é filha.  

No One Ever Loved Me (cap.II)Onde histórias criam vida. Descubra agora