"Dois"

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   Passou-se algumas horas. Derek já dormia há bastante tempo. Porém, Clover estava na sala, tentando se distrair com a TV. Qualquer novela, notícia que passava, ela parava naquele canal. Suas unhas já estavam roídas, seus cabelos embaraçados de tanto coçar a cabeça, e marcas das unhas em seus braços e pernas. Claramente inquieta. A preocupação ocupava sua mente por completo. Faity não aparecia há, pelo menos, quatro horas, para mais. Nenhum barulho pela casa a não ser a TV. Sem rangidos, sem passos. Um completo silêncio. 

   Clover vê as cortinas da sala se mexerem. Arregala os olhos e observa a janela. Não enxerga nada além do completo breu. Seus olhos se fixaram na janela, até ouvir um estalo na porta da frente e se assusta. Se levanta para ver se tinha alguém por perto, talvez um bicho, quem sabe. Ao se aproximar da porta e tentar abri-la, a maçaneta se move, e Clover dá um passo para trás. A porta se abre lentamente, produzindo um rangido agudo ao caminho para a parede.

   -Faity? Não acredito! Finalmente voltou! - Se vê lágrimas se formando abaixo de seus olhos - Por que sumiu desse jeito, quer me deixar louca?

   Quando chega perto de Faity para dar-lhe um abraço carinhoso, Clover sente um frio em seu peito. Como se seu coração tivesse congelado em questão de segundos. 

   -Eu não vou à lugar nenhum, tia Clover. Não vão se livrar de mim fácil assim. 

   A jovem dá um sorriso olhando na alma nos olhos de Clover. Olha para baixo, em direção ao colo da mulher, e uma lágrima cai dos olhos de Faity e seu sorriso se apaga ao ver a faca em suas mãos entre os seios da tia, com as lágrimas da mesma caindo em suas mãos. Ela observa aquela cena e seu sorriso volta vagarosamente, escutando o barulho do sangue pingando no carpete na frente da porta.

   -Não há mais opção, Clover, Não precisa mais chorar. - A mulher tenta chamar o nome da sobrinha com bastante custo e, ao mesmo tempo, é impedida por um empurrão com a faca até a beira do sofá. - Era pra vocês cuidarem de mim depois de tudo aquilo. Mas acabaram como meu pai! Só querendo que eu saia da vida de vocês! - Ela deixa o corpo caído no sofá e retira a faca - Principalmente o tio Derek.

   Faity olha em direção ao quarto onde estava o homem. Vai caminhando lentamente até o local, para que não hajam rangidos de madeira que possam acordá-lo. Ao chegar à ponta da escada, vê de canto de olho o sangue se espalhando pelo chão e passando por debaixo do sofá. Olha para cima novamente para continuar se trajeto até o quarto. 

   -Ah, tio. Você não aprende, não é mesmo? - Ela abre a porta tentando conter o rangido e entra no quarto. - Tantas vezes que te acordei entrando aqui com uma faca nas mãos e você nunca percebeu.

   Porta fechada. A jovem se aproxima da cama e marca a cabeceira com a faca em mãos e a manchando de sangue.

   -Sempre tão cansado e sonolento. E nunca prestando atenção na sobrinha. Chega a ser triste.

   Ela passa a faca no lençol para retirar o excesso de sangue. Aproxima a mesma do rosto de Derek, como se quisesse que seu subconsciente entendesse que aquele era o fim. Caminha o objeto pela bochecha, mandíbula, pescoço, até ser cravada em seu peito. Foi forte e rápido. Faity abre um sorriso ao sentir o sangue respingar em seu rosto. Porém, dura poucos segundos. Quando ela percebe os olhos do homem abertos e suas mãos nos pulsos da menina. Ninguém disse que seria fácil. Assim como ela achou que os tios não se livrariam fácil dela, ali não seria diferente. Derek pressiona as mãos dela para cima e as afasta. Ela o apunhala novamente com um movimento brusco, e ao tentar repeti-lo, ele é capaz de empurra-la e impedir mais um golpe. Derek tenta correr e abrir a porta, mas assim que sua mão pega a maçaneta e consegue abrir a porta, Faity finca a faca no chão enquanto ainda está a segurando, fazendo ele tropeçar. O homem cai escada a baixo. Ele sente uma enorme dor, já não bastava o furo em seu peito, e sua visão ainda estava escurecendo e embaçando, mas ela voltaria aos poucos. Até que ele olha para o corrimão no andar superior da escada, e vê a sobrinha cambaleando com uma das mãos em seu rosto. Derek não consegue assimilar muito bem, mas assume que ela se machucou. Ele inclina a cabeça para trás para conseguir puxar ar para o pulmão. A última coisa que ele avista é a jovem sobre seu corpo e sangue caindo do rosto dela.

No One Ever Loved Me (cap.II)Onde histórias criam vida. Descubra agora