Ciclame

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Querido eu, venho por meio desta dizer que estou cansado de você cansado dos seus dramas repetitivos e habituais

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Querido eu, venho por meio desta dizer que estou cansado de você
cansado dos seus dramas repetitivos e habituais

o senhor sabe muito bem as coisas que te machucam e vive se colocando em diferentes situações que acabam tendo o mesmo desfecho de sempre
e isso faz com que eu te questione
aliás, me questione: até quando?

não cansas de fazer o teu pobre coração andar pelas mesmas vielas quebradas de sempre?
que no final de cada capítulo da tua vida há se deparar com a mesma história de sempre?

não vês que já não é mais aquele rapaz de 15 anos?
que se não tomares tu a iniciativa de te juntar teus trapos e cativares o amor próprio, ninguém o farás por tu?

aliás meu caro eu, eu te pergunto
o que tanto procuras nos outros que não consegues encontrar em ti?
quantas e quantas vezes já lhe falei para parar e respirar

parar e se dar um tempo
parar de se culpar por cada mísero tormento que te aflinge
claro que eles são unicamente seus e afetam exclusivamente você
mas quem foi que colocou na tua cabeça que é culpa sua?

consequências elas vêm, isso sem sombra de dúvidas meu senhor
mas pare, apenas pare de se torturar desse jeito
sua cabeça, pobre coitada, o tormento que há nela é mil vezes maior do que a dor que assola o teu peito

e o que dizer dele? tão grande, tão amoroso, tão...hipócrita!
sim! hipócrita!
tu sabes que és um grande hipócrita
porque amas a deus e o mundo
mas contigo mesmo não tens um pingo de piedade

na frente do espelho, pura vaidade
mas se te perguntam quem tu és, não sabes falar nada que não te exalte
tens vergonha do que é fraco
e finges tão bem que quase chega a ser inabalável

covarde! não passas de um covarde
tu, que outrora era tão corajoso
que age toda maldita vez que nem louco
pula de cabeça em mares rasos
de novo, de novo e de novo

ah eu, eu estou cansado, estou farto de ti
tu que sabes de tudo o que guarda pra si
e que sem se importar, sai distribuindo pedaços de ti
me espalhando em lugares que sei que depois não hei de me achar
tomando atitudes que só hão de me arruinar

ah eu, o que farei de ti?
como corrigir tamanha crueldade sendo que sou ruim desde o dia que nasci?
pra onde ir? e se for, aonde te deixo?

não quero mais você amigo, não vês?
eu já não sou mais o mesmo
gosto de ti, me apiedo de ti
mas tudo o que tu tens feito é me destruir

não pode eu, não pode ser assim
ah eu, me diga, por favor me diga o que farei eu de ti
tu que és tão imaturo, tão inseguro, tão duro consigo mesmo

és tão cabeça dura, que de tanto bater, fura a ti o teu próprio peito
não tens ninguém além de mim e eu à ti
então o que fazer eu? o que fazer?

eu te suplico corpo meu e te suplico Deus:
faça com que meus ouvidos me ouçam
que o meu saber sobre quem eu sou se faça maior sobre as minhas inseguranças
acabou eu, já passou o medo da infância
eu estou cansado eu, e sei que você está

à minha mente e coração, peço perdão
por todos esses anos de incessante humilhação
e a minha intuição, eu peço perdão
e as cicatrizes do meu corpo, também peço por perdão
e as vezes que te calei minh'alma, perdão
e as vezes que me trai com promessas falsas, perdão

à tudo o que eu vivi e sobrevivi até aqui, nada disso terá sido em vão

Cartas de um Jardim Onde histórias criam vida. Descubra agora