Lótus

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já perdi as contas de quantas vezes eu disse que tenho focado em mimmas tem sido mesmo assim?

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já perdi as contas de quantas vezes eu disse que tenho focado em mim
mas tem sido mesmo assim?

passo horas preso no labirinto que a minha mente se tornou
a cada esquina que eu viro tem algo novo pra testar a minha sanidade
o quanto eu aguento não deveria ser algo a ser questionado

e eu tenho questionado
como eu tenho me perguntado sobre tudo e qualquer coisa
coisas complexas do tipo: o que o amor vira quando chega ao fim?", as mais idiotas como: "quantas folhas caem de uma árvore por hora?"

e eu tenho me cobrado por maturidade
mas isso é algo que dá pra se cobrar?
algo que você mesmo consegue se ensinar?

tenho vivido uma tortura onde constantemente tenho que me dar um chega pra lá
a minha mente é tão barulhenta
e quando se junta com o barulho do mundo é demais pra mim lidar

tenho me cobrado por cura quando o que eu deveria estar fazendo era sentar e esperar
sentar e cultivar a minha dor
esticar as minhas raízes no chão
me regar com as minhas lágrimas
e então morrer com todo o sal que me contaminou

tenho me cobrado pra desabafar
mas quem garante que eu sempre vá ter o que falar?
não deveria simplesmente me calar?
aproveitar as raras vezes em que fico em silêncio?
por que militar em cima do meu próprio sofrimento?

isso não faz mais nada do que me gerar mais tormento
e mais tormento é uma cabeça cheia de pensamentos pra pensar
e horas de sono que sei que vou perder tentando a mim mesmo calar

não deveria me calar quando quero falar
mas pra tudo há uma hora certa
então o que fazer se não sei o que escutar?
e se à razão dou ouvidos, isso não é o suficiente pra dor do meu coração aliviar

eu me sinto como água corrente em uma peneira
estou me esvaindo em todas as direções
tenho parado de buscar conforto nos outros
e tentado achar em mim

passo constantemente nos lugares que tanto convivi na esperança de achar algum pedaço que perdi
e se encontro, de nada vale pois o molde não se encaixa
não faz mais parte de mim, já não vale de nada

tenho gastado todas as minhas fichas de amor em mim
na esperança de que isso alivie um pouco a minha dor
e que dor boa é essa que sinto
é uma daquelas coisas que faço que me sinto vivo
e ao menos uma vez, não é tortura

eu olho para minha dor e abraço ela
rolo no chão com ela, digo o quanto senti falta dela
pois ela me lembra o que há de humano dentro de mim
faz com que eu pare de fugir de mim

arde, queima, faz com que eu queira gritar, faz com que eu chore
quanta falta eu sentia de chorar
quanta falta me fazia sentir que eu sou real

me desfiz de todas as minhas barreiras
uma por uma eu derrubei
me despi do meu casulo em que por vários e vários anos eu me tranquei

e que liberdade é essa que sinto
acredite em mim pois há verdade em cada palavra que digo
se me perguntam se estou bem, eu digo
falo que não e me sinto tão bem por isso

e de repente eu me despeço de todas as ideias falsas eu mesmo inventei de mim
e de todas as opiniões que as pessoas têm que antes importavam tanto pra mim
achava que tinham me destruido e em partes, foi por aí

e agora eu passo horas sentado comigo
me descobrindo, cutucando cada pedacinho da minha dor
deixo bem exposta cada uma das minhas cicatrizes
e viro um alvo ambulante que ninguém consegue acertar

esses últimos tempos tem me mostrado que tenho muito a resolver e que não tenho do que me envergonhar
que eu consigo me achar se de fato eu me procurar

que sou muito mais que um bode expiatório que um dia as pessoas decidiram crucificar
eu não sou o que os outros dizem que eu sou

eu ainda tenho muito pra melhorar
e isso vai levar mais tempo do que eu gostaria
mas esses últimos tempos também me ensinaram que logo vou ter domínio sobre a arte de esperar

e enquanto não curar, vou espiar
uma, duas, seis vezes se precisar
até parar de me incomodar
até lá não vou me culpar

levei tempo pra entender o que estava acontecendo
e isso responde a algo que venho me perguntando há muito tempo
as vezes a maturidade pode sim ser forçada
mas você precisa saber a maneira certa de fazer isso

eu achava que me evitar era o melhor caminho até lá
que com o tempo eu iria me moldar
mas não foi o que funcionou pra mim
e também não foi o caminho mais saudável a se tomar

não vou mais encobrir a minha dor
ela vai ficar exposta pra quem quiser olhar
vou deixando ela crescer e quando chegar a hora vou cortar pela raiz

cansei de carregar a mesma dor por tanto tempo
eu deixei esse fardo me consumir por tempo demais
isso foi loucura, insanidade
seria cruel demais até pra mim supor que isso foi culpa dos meus pais

fui eu quem fez isso comigo
fui eu que me rejeitei
fui eu quem destruiu me própio abrigo
fui eu que me matei
eu sei muito bem aonde foi que eu errei

deito no chão, me abro comigo e de mim mesmo me torno o meu melhor amigo
me abraço, choro, grito, peço desculpas
me peço um milhão de desculpas
tenho compaixão por mim mesmo
enfim a borboleta sai do casulo pronta pra desbravar o mundo sem medo

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