Capítulo 4: Conflitos

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— Não Cervejinha, eu sabia que na primeira oportunidade você se viraria contra mim. A arma está sem balas, Victor não fez nada. Vai rapaz dê um fim nele. — Com a calmaria de sempre, Robert fala com Victor apontando para mim com a cabeça.

— Dessa vez não, chefe. Eu estou cansado dessas mortes estúpidas, estou cansado de ver meus irmãos morrendo. — Victor, com uma lágrima escorrendo dos olhos, saca sua arma e mira em Robert.

— Escuta aqui, essa merda virou a casa da mãe Joana? O que é isso? Então quer dizer que todos vocês me odeiam? Que querem tomar esse lugar para vocês? — Robert permanece frio como o cano da arma.

— Você nunca entenderia nossos reais motivos, patrão. Afinal, nunca fora escorraçado como fomos. — Victor atira na barriga de Robert, que cai estirado ao chão.

— Filho da puta, eu vou atrás de vocês até no inferno. — Robert cai, apertando com as patas, o local em que fora baleado.

— Então é para lá que você vai. — Digo, dando-lhe um chute com as duas patas traseiras e pegando impulso para fazer um salto em direção à saída do local.

Corremos do lugar o mais depressa possível, já estávamos planejando uma fuga há uns 5 dias, mas hoje foi a oportunidade perfeita. Nós sabíamos que isso poderia custar nossas vidas, então obviamente planejamos algo além de apenas sair correndo, o que não estava nos planos era matar Robert, isso de certa forma nos abriu uma possibilidade maior para o futuro, mas a curto prazo tínhamos arranjado um problemão.

— Venham gatunos, subam aqui. — Dois gatos estavam nos ajudando a subir em uma laje.

— Caralho, vocês dois são loucos, isso foi insano. — Diz um gato branco. 

— É, isso não estava nos planos — Coço a parte de trás da minha orelha direita — Enfim, não é como se eu ligasse também, rápido, precisamos sair daqui quanto antes.

(Conheci esses jovens felinos enquanto vendia nossas mercadorias no gueto. Quando os questionei sobre o que faziam, eles responderam que apenas andavam pela cidade cometendo pequenos delitos.

Certa vez apareceram no gueto, desesperados a minha procura, tinham mexido com um gato forte que os jurou de morte. Eu poderia apenas ignorá-los e dizer que não era problema meu, mas eles tinham algo que eu desejava, conhecimento sobre as ruas da cidade! Então eu fiz o serviço e acabei com as suas momentâneas preocupações, em troca eles ficariam a me dever um favorzinho...)

— Você tem razão. Vamos! — Diz um grande gato rajado, com a sua voz imponente.

Começamos nossa expedição para uma casa abandona que se localizava bem longe do gueto, precisávamos estar atentos em cada passo, pois, a essa altura os outros membros já tinham percebido quem eram os culpados pela merda que fizeram com Robert. E se existiam felinos que eram fanáticos por ele, eram aqueles gatos do gueto! A lavagem cerebral que aquele maníaco psicopata era capaz de fazer me surpreende até hoje.

— Cerveja, eu... eu o matei. — Victor, completamente paralisado, demonstra estar incrédulo com o que acabara de acontecer.

— Acorda cara, isso não é hora para devaneios ou lamentações, já foi, aconteceu. Tá tudo bem, precisamos nos concentrar em continuar andando, se não quem vai virar espetinho, somos nós. E outra, aquele fodido iria morrer uma hora ou outra, se não você, quem iria matá-lo seria eu. — Digo dando um tapinha de leve, quase como um afago, em sua cara.

— É, pode até ser, concordo com você Cerveja. Mas eu não estava pronto para lidar com isso, pelo menos não agora. — Eu faço sinal de negativo enquanto um dos gatos nos chama a atenção.

— Venham por aqui, sabemos de um atalho. — Ecoa a aguda voz do gato branco.

O sentimento que me controlava durante o entardecer, era o medo. Conforme caminhávamos e as horas iam se passando, o pressentimento de que iriam acabar nos encontrando pelo caminho era inevitável.

— Ei, branquinho, qual o seu nome mesmo? — Pergunto curioso.

— É Richard, eu já tinha te falado, Cerveja. — Ele se mostra um pouco desapontado.

— Desculpa Richard, eu lidava com tantos gatos diariamente. Seria impossível me lembrar de todos os nomes. E o rajadinho aí, qual seu nome?

— Meu nome é César, chefe. — Ele me encara por alguns segundos e então — Você nos ajudou muito daquela vez, mas não pense que estamos fazendo caridade aqui. Richard e eu temos nossos planos e sonhos, então vamos pagar nossa dívida e ir embora, certo?

— Claro, negócios são negócios, eu não esperava que fosse diferente. — Digo com pesar no pensar, eles seriam úteis em nossa jornada. — Aquela foi a última vez que os vi, por onde andaram?

— Chefe, olha aqui, eu já disse — Ele faz uma pausa em sua fala — Apenas negócios, sem papinho, nós não somos amigos. — César diz em um tom firme e ameaçador.

— Certo! — Aceno com um sinal de positivo com a cabeça.

A noite ia caindo e enfim chegamos ao nosso esconderijo, era uma cabana velha, feita inteira de madeiras, que a essa altura, já estavam todas podres, porém de alguma maneira ainda de pé. Por um lado fiquei aliviado por termos chego ao nosso destino, por outro completamente assustado com as condições daquele inóspito local. O cheiro forte de mofo, poeira e tudo que há de ruim penetrava em minhas narinas, os espirros eram inevitáveis, mas esse sacrifício era necessário, visto que, para termos nossa vingança contra aqueles que tentaram contra nós, teríamos que ter uma nova base, mesmo que temporária.

— Cerveja, eu ainda não estou conseguindo lidar com o que fiz, o Robert era muito poderoso, uma hora ou outra eles vão nos encontrar e...

— MERDA, porra Victor, cê vai ficar chorando até quando irmão? — César balança a cabeça com um sinal de negativo, se vira e sai da casa balbuciando algo — Aquele bosta só queria nos usar, cara, para e pensa um pouco, Robert estava enriquecendo com o nosso suor, às custas do trabalho de todos nós. Diz quem é que tinha uma vida boa naquela espelunca? Apenas ele, e outra, você é um gato ou é um rato? Seu frango, pra mim tu é um frango rapaz. Se alguém tentar nos matar, a gente mata eles primeiro, ué, fica na paz, se bote no seu lugar. Você é o gato que matou o Robert... — Paro imediatamente após ouvir um burburinho do lado de fora do abrigo.

— O que tá acontecendo aí, César? — Digo abrindo a porta e quando olho para fora vejo dois gatos ameaçando ele com armas.

— Olha o Cerveja ali! — Diz um deles apontando a arma para o César e outro para mim. Sem pensar duas vezes, eles puxam os gatilhos e...

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Gato CervejaOnde histórias criam vida. Descubra agora