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A área litorânea de Sutton-on-Sea é plana e linear, diferentemente dos penhascos tortuosos. Os iates roçam de leve na água como pipas reluzentes, suas velas capturando a brisa do oceano. As praias são planícies amplas: lisas e profundas próximas à trilha, mas então a areia se torna mais firme, como açúcar mascavo em pacotes, ao que se aproxima da orla.

Eles se sentam no quebra-mar e observam os iates. Há um fino traço de madeira fragmentada, como dentes, mais longe da praia e Harry sugere que é um naufrágio. Draco, menos inclinado a fantasias, diz que é os restos de um píer. Uma discussão trivial se estabelece mas logo se dissipa quando viram suas atenções para dois banhistas enfrentando o mar e nadando por entre as ondas.

-Eles devem estar congelando - Harry observa. Mesmo no verão, o mar aqui deve ser de um frio indesejável.

O sol lentamente se afunda no céu, lançando longas sombras no continente. Logo, o céu se transforma numa tarde fria e nebulosa e os iates lentamente voltam para a praia. Até mesmo os banhistas voltam para o orla, parando na areia úmida para se secarem com uma toalha e ir rapidamente para o estacionamento.

Draco e Harry voltam para o carro e Harry se pergunta se Draco vai lhe pedir para escolher um outro lugar. Talvez eles continuem dirigindo, até que a primavera se derreta no verão. Um verão de verdade, ele pensa, com um céu azul-propano e campos dourados.

Mas Draco se senta no banco do passageiro e abre o atlas, e então Harry entende o sinal e se senta no banco do motorista. Ele reajusta um pouco os espelhos e dá a ré, quase esperando Draco dizer algo sobre sua habilidade inadequada no volante. Harry percebe, ao longo da jornada, que Draco é de fato um motorista habilidoso.

Mas Draco não diz nada a não ser:

- Vire na Road Sutton - e não demora muito para Harry perceber que Draco está levando eles dois para casa novamente.

Ao que os últimos raios solares morrem do outro lado do continente e a noite lentamente se faz presente, Harry se pergunta se eles viajarão próximos a um rio. Ele quer ver aquelas estrelas refletindo, caindo ao redor dele ao que ele dirige na escuridão.

Em algum momento após passar por Huntingdon, Draco cai no sono.

*

Londres parece nada mais nada menos do que uma névoa alaranjada no horizonte, um borrão de luzes iluminando, a fumaça pairando próxima da cidade. A cidade se aproxima lentamente, como uma onda que lentamente os cobre. A fileira de casas logo se levantam e caem, transformando-se em blocos de apartamento e prédios comerciais, e logo, Harry percebe, ele está quase chegando em casa.

Eles chegam no apartamento às nove horas. Harry percebe que nem ele nem Draco não comeram o dia inteiro; Harry odeia incomodar Draco sobre sua falta de apetite mas mesmo assim ele vai fazer chá e também pegar uma porção de torradas, cansado demais para fazer uma refeição de verdade. Draco parece estar de acordo; ele come as torradas sem comentar e desaparece no quarto de hóspedes sem dizer nada. Sem dúvida ele necessita de um sono bem longo, Harry pensa. Draco começou o dia normalmente, mas era óbvio que ele se cansou ao longo do dia e, quando a noite chegou, ele estava claramente exausto.

Ir embora é fácil. Voltar para casa é difícil.

Hermione havia lhe avisado sobre isso, ele pensa. Ele especificamente mencionou os efeitos colaterais, mas ela não se aprofundou nos detalhes. Draco provavelmente precisa de cuidados médicos, Harry pensa preocupado. Pessoas que realmente devem saber sobre causas e sintomas e esses tipos de coisas. Lugares que poderiam oferecer medicamentos apropriados. Ou até mesmo a Mansão, onde Draco poderia se cercar de cômodos familiares - luxuosos e nao um quartinho de hóspede no apartamento de Harry - e receber a atenção da mãe, que o conhece melhor do que qualquer um, e ser mimado pelos elfos-domésticos.

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