Meu capitão - Imagine Shanks, O Ruivo

Diário de bordo: Senhor brutamontes e senhorita desajeitada

Agitação era a verdadeira qualificação para as noites nas tavernas localizadas às margens do oceano naquele vilarejo e, em uma daquelas em que as bebidas baratas haviam se tornado um atrativo para os piratas e as risadas altas demais chamavam atenção e envergonhavam os que não compreendiam a animação, que aquela história verdadeiramente teve início.

Procurá-lo era demasiadamente chato e cansativo; Shanks, o ruivo, era um homem conhecido e bastou Sakura pisar em terra firme para que fosse inundada por aquele nome e por suas proezas, embora em momento algum tivesse tido um vislumbre qualquer daquele homem e a foto no cartaz de procurado nada mais era do que linhas escuras certamente feitas por uma criança cega – em uma tradução literal, ela não sabia quem estava procurando e contava com a inocência de alguém para lhe revelar quem diabos era aquele pirata. E exatamente por estar exausta daquela busca que a rosada se permitiu beber alguns canecos de cerveja independente de quanto as mulheres ali presentes, acompanhadas de seus companheiros, considerassem sua atitude deselegante e até mesmo frívola. Costumes, costumes tolos, como sempre, de uma sociedade machista.

Por óbvio, e com um toque saudosista, Sakura havia abandonado as velhas e confortáveis vestimentas da Marinha, optando, entretanto, por amarrar em um rabo de cavalo as madeixas rosadas e mantendo, de uma forma padrão, roupas clássicas e tradicionais do porto, tal como calças de couro deveras colada ao corpo e uma blusa vermelha de mangas bufantes que deixava à mostra sua cintura esguia. Suficientemente normal, diga-se de passagem, tendo em vista que sua intenção não era chamar a atenção de ninguém.

Permitiu-se ela, por fim e durante todo o lapso temporal em que restou naquele ambiente animado, a ter conversas duradouras com os frequentadores e até mesmo flertes de belos homens que, ousados, sentavam-se ao seu lado nas cadeiras vazias daquele modesto balcão de atendimentos. Serviu até mesmo de ombro amigo ao ouvir histórias longas e fracassadas daqueles heróis do mar e, mesmo quando ousaram insistir por a ela acerca de contato mais íntimo, refutou-os de forma cortês e polida, sob a prerrogativa de tinha outros interesses em mente.

Verdade era que queria permanecer sozinha, eis que pouquíssimas eram as oportunidades em que poderia se ver livre da companhia de outros, fossem estes oficiais ou companheiros. E [nome] era uma apreciadora da solidão, talvez por nunca a ter verdadeiramente experimentado – e sentia-se, internamente, frustrada por não fazer ideia de quem era o ruivo, ou de como encontra-lo de fato.

E somente quando finalmente pusera-se de pé, dando por encerrada àquela noite, foi capaz de ouvir a conversa das moças reunidas em uma mesa próxima; três belas jovens de idade tenra e sorrisos fáceis, interessadas em namoros e casamentos, tocaram em seu nome e permitiram-se risinhos tolos de amantes inexperientes, o que facilmente despertou a atenção de Sakura. Afinal, aquele era um assunto deveras interessante para ela.

—... Então ele terá de se casar. Dizem que Shanks tem várias pretendentes. Será que deveríamos nos alistar também?

A garota de fartas bochechas e sobrepeso começou, o rubor tomando conta de suas belas feições quando um olhar de desdém de outra jovem recaiu sobre ela, calando-a ao ser obvio de que aquela ideia era tola.

Shanks tem pretendentes? Ele tinha engravidado alguém que tinha de casar? Ao que tudo indicava, ponderou a rosada, arqueando a sobrancelha esquerda, aquele homem, considerado uma lenda, era na verdade uma vergonha aos seus pares, e só naquele instante, o que demonstrava a pouca experiencia e até mesmo idade da jovenzinha, notou que não havia sequer traçado um plano de como apanhá-lo; se Shanks estava prestes a se casar com alguém, não podia simplesmente chutar a porta de sua residência, fosse ela qual fosse, e arrastá-lo pelos cabelos até a justiça.