02: Um casal problemático

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Ainda em julho de 2023

- uma semana depois -

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Min Jully

Há pessoas que, verdadeiramente, têm dificuldade em entender coisas básicas, mesmo que elas sejam explicadas da maneira mais literal existente.

Eu, por minha vez, tenho que ser sincero, sou a pior pessoa para falar algo como: "nossa, que coisa chata ter que ficar explicando coisas óbvias". Afinal, o autismo foi um grande inimigo pro meu convívio social quando passei pela tão bela — adjetivo que com certeza é usado na ironia — adolescência.

A primeira vez que escutei essa palavra aconteceu nos meus exatos 13 anos. Eu estava passando uma semana na casa da minha avó, e foram duas noites consecutivas que não conseguia dormir por conta do relógio presente na sala dela. Eu me ergui na ponta dos pés quando passei pelo tapete de textura estranha do quarto que ela separou para mim — inclusive, foi por culpa dele que comecei a usar meias em todos os lugares e ocasiões possíveis — e só deixei meus calcanhares relaxaram no chão de madeira maciça, porém, deslizante até demais. Seria mais seguro andar com crocs, ou com algum sapato antiderrapante, porém, meus pais acharam minha ideia boba.

Eu estava prestes a subir em uma árvore de Natal. Tocar nas folhas falsas não me agradava, mas seria preciso, pois só poderia dormir depois que o "tique-taque" do relógio parasse. Com os pulmões cheios de ar, meus olhos passaram pelo entorno da sala iluminada somente pela chama da chaminé, e encontrei um banco da altura perfeita para apoiar meu joelho esquerdo e pegar impulso para subir. Ficar em pé ali seria uma altura considerada suficiente para que eu conseguisse tirar as pilhas do relógio?

Estava na ponta dos pés sobre o assento quando minha mãe chegou. Sua mão veio a cintura, a expressão preocupada bordou cada pedaço da sua faceta.

"Min Jully!", a necessidade de advertir com um grito sempre me assustava. "Desça já daí!"

"Não", claro que iria impor minha vontade, após noites sem sono. Nenhum ser humano normal pensa corretamente depois do seu descanso ser ameaçado, e falo isso baseado em fatos científicos.

Contudo, na minha família a negação é algo que não pode chegar aos ouvidos dos meus pais. Tanto eu como meus irmãos aprendemos isso cedo demais.

"O que você disse?"

A discussão, depois da pergunta de minha mãe, ainda me faz ter que apertar os braços quando me vem à mente. Não que meus genitores fossem violentos ou algo do tipo. Mas gritos me deixam apreensivo, ao ponto que chego a me sentir fora da realidade quando começam.

"Tudo para esse menino se torna um problema! Isso é culpa sua que o mimou demais!", meu pai xingou, e, minha nossa, eu só conseguia pensar que queria me livrar do tique-taque do relógio.

Flamme - DegustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora