Capítulo 01

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N.A: Gostaria de ressaltar que
muitos fatos deste capítulo foram repassados para mim pelas
pessoas por quem fui criada.
Portanto não tenho certeza
absoluta da ordem dos acontecimentos.

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As coisas não
são como de-
sejamos, ape-
nas funciona
dessa maneira.
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Meu nome é Laisa Silva Da Cruz, nasci no dia 25 de fevereiro de 2005 e atualmente tenho 18 anos. Sou a caçula dentre quatro filhos, tendo dois irmãos e uma irmã.

Minha mãe conta que a gestação foi complicada, devido á trombose que ela havia desenvolvido há bons tempos antes de eu nascer. Além de ter passado do tempo, vindo ao mundo com quarenta e duas semanas, muito pouco me alimentei em seu peito. Devido á este fato, ela logo pode voltar ao trabalho, meu pai logo se mudou para o  município de Viamão, onde reside até hoje fazendo sua ausência notada em grande parte de minha vida. Tivemos pouca convivência, ainda temos; o que resultou na maior parte da minha criação de infância ter sido na casa de meus padrinhos. Minha dinda se chama Ivone Silveira Leal e meu dindo Edgar Araújo Leal, á eles devo tudo que tenho e espero poder um dia recompensá-los por seu tempo gasto comigo. Eu amo vocês.

Continuando, minha infância foi extremamente tranquila por muito tempo, mesmo que tivesse uma péssima alimentação nunca tive nenhum tipo de problema de saúde. Lembro de ter sido colocada na creche por volta de meus quatro anos, onde não me adaptei e eles então resolveram esperar para me colocar na pré-escola, o que vocês possivelmente conhecem hoje como jardim de infância. Fui uma boa aluna por muito tempo, mas tinha dificuldade em me socializar criando laço apenas com uma garota chamada Bianca. Eu devia estar no segundo ano do fundamental quando tive uma das minhas primeiras decepções.

Era meu aniversário de sete anos e as aulas recém haviam começado, me recordo de ter sido em um dia chuvoso e minha mãe ter feito um bolo de brigadeiro e beijinho. Haviam balas de goma encima em formato de coração, eram minhas favoritas. Meu pai, milagrosamente, havia combinado de ir. Minha tia Ruth que hoje já se encontra com Deus fez grande presença na festa, mas ele não apareceu. Dias depois fiquei sabendo que ele estava em um churrasquinho de rua na cidade, bebendo e falando que provavelmente a festa iria até tarde então daria tempo para ele aparecer. Ele não apareceu.

Por muitos anos, Dionísio Araújo da Cruz, meu pai teve problemas com alcoolismo, vivendo solitário enquanto seus dois filhos moravam em Arroio dos Ratos. Mal o víamos, ele também pouco visitava e nunca sequer pagou pensão, ao que minha mãe conta.

Elieth Gonçalves da Silva é minha mãe, uma mulher que fez de tudo por si e por seus filhos. Falaremos mais sobre ela mais tarde pois ela é muito importante, visto que foi quem me deu á vida.

Durante a infância, pouco me lembro sobre minha relação com meus irmãos. Anderson e Eliege, que são os mais velhos, sendo ambos apenas por parte de mãe.

Alyson, sendo meu único irmão por parte de mãe e pai, recebeu muitas vezes bronca em meu lugar. Brigávamos quase tanto quanto protegiamos um ao outro, a ele devo minha vida. Ele me salvou muitas vezes sem nem imaginar, mesmo que minha criança interior culpe ele um pouco pelo que contarei agora.

Ainda nesta faixa etária, aos sete anos, vivia de segunda a quinta com meus padrinhos e aos finais de semana ia para minha mãe. Apenas para ver seu rosto algumas horas, antes de ser mandada para a casa de Flávia, minha babá. Naquela época, revoltada com o quão distante meus pais eram, entendia que meu pai não me amava suficiente para estar perto e que minha mãe não gostava de estar comigo em casa, visto que eu a via apenas no domingo de tarde antes de voltar para a casa de minha dinda.

Em uma das vezes que fui para a casa de Flávia, lembro como se fosse ontem o dia em que Igor, seu irmão mais novo, me trancou consigo dentro do banheiro e me fez assisti-lo tomando banho. Mais tarde, naquele mesmo dia, enquanto usava um vestido rosa da Tinker Bell cujo modelo era como uma regata encima, mas sua saia era comprida suficiente para chegar em meus joelhos.

— Pode ir dormir. Quando tu acordar podemos ver filme. — Disse ele, após organizar a sala para que eu fosse dormir.

Durante todo esse tempo, Flávia estava bêbada em seu quarto com um dos três homens que ela levava lá.

Naquela tarde, Igor me tirou o que eu julgo como tesouro para uma menina. Eu lembro exatamente de minha inocência e também das dores que senti. Ao menos, quando comecei a chorar e pedi que ele parasse, ele atendeu meu desejo. Mesmo que tenha sido na quinta ou sexta vez.

Isso se repetiu uma segunda vez, dentro de minha própria casa, enquanto minha mãe estava com um dos quatro namorados que teve naquele ano.

— A mãe pediu pra que eu lavasse a louça, mas se tu não lavar por mim, vou contar pra ela que tu fez sexo com o Igor. — Alyson disse, mudando o contexto e favor diversas vezes, por longos anos.

Eu não sabia o que era sexo.
Ele sim.
Só não entendia nada sobre estupro.

A partir disso, fiquei obcecada com o assunto. Mesmo sendo uma criança de, naquela época, oito anos de idade, consumia pornografia de todos os tipos. Me perguntava sobre porque das mulheres demonstrarem gostar e rir daquilo, quando havia doído em mim.

Uma das psicólogas que tive naquela época, Jaíne, disse que sempre carregamos um pedaço da nossa primeira vez conosco. Não tenho orgulho dos fetiches que possuo hoje, visto que fico excitada quando sinto dor ou quando me sinto forçada a algo durante a relação sexual.

Voltando ao assunto. Oito anos. Uma nova fase. Um novo capítulo.

• Autobiografia | Laisa Cruz •Onde histórias criam vida. Descubra agora