Capitulo 04

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Você não conhece
o amor, até que
ele te machuque
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Aos treze anos, Letícia desaparecia devagar de minha vida. Não a julgo, eu vivia bêbada, matando aula, sendo completamente o oposto do que Ivone esperou de mim. Chegava na praça a noite, quase sempre com roupas vulgares demais e uma maquiagem leve. O cabelo cacheado sempre solto, eu gostava quando puxavam. Naquela praça a noite, conheci James. Ele pediu para que suas irmãs falassem comigo, antes que ele viesse. Eu o esperei sentada em um banco, havia me atraído de longe. Ele estava com uma jeans azul e camiseta branca, seu perfume era ótimo e conversamos por cerca de meia hora até sair pra caminhar. Ele me beijou em frente à estátua do mineiro, seu piercing gelado foi uma novidade. Foi a primeira vez que vi meu beijo encaixar perfeitamente com alguém. Ele parecia uma droga, e eu estava viciada. Ficamos por três semanas até que ele descobriu minha idade e, tendo dezenove, sumiu. Dava desculpas e aquilo me frustrava. Eu comecei a beber um pouco mais depois daquilo. Culpava meu corpo e personalidade, por que não era madura suficiente para entender o lado dele.

Depois de James, veio Christian, Alex e Rael. Eles eram amigos e andavam sempre juntos. De alguma forma, consegui os três e, para alguém recém dispensada, me senti no topo do mundo.

Com meu ego ferido, estava me tornando a pior pessoa que podia ser. Quanto menos caráter eu tinha, melhor me sentia. Eu conversava com os três, saia com os três e beijava os três. Isso durante a noite, de manhã no colégio via os três andando juntos no intervalo. Gostava de me sentar e comparar sobre qual era mais bonito, carinhoso ou tinha o melhor beijo. Numa quinta feira, parece que eles estavam conversando sobre mim. Foi quando fui chamada na diretoria. A briga foi feia. Eu ri tanto, no banheiro feminino. Naquela época não imaginava como me sentiria culpada hoje. Tudo que pude dizer era que eu estava solteira.

Quando completei 14 anos, estava focada em conhecer mais sobre sexo. Julgava pessoas com base de "Bom para beijar, mas apenas isso". No dia 14 de setembro comecei a sair com Dalila, que se tornou minha melhor amiga. Fechamos diversos "quatro é par", nos beijamos muitas vezes quando não tinha ninguém interessante ao redor.

Em uma noite, dia 28 de setembro, havíamos comprado uma garrafa de vodka e Dalila tinha brigado com sua mãe e seu irmão.

– As vezes eu queria sumir. Fugir de casa, sei lá. – Ela falou.

– Então vamos. – Eu respondi.

Dalila e eu tivemos a ideia genial de ir até minha casa, arrumando duas mochilas com meia dúzia de roupas, uma garrafa d'água, metade de uma rapadura e a escova de dentes. Escondemos as mochilas e voltamos para a praça. Tinha um garoto, Taylor, que ela já tinha ficado, mexendo em uma das plantas. Curiosas, fomos ver o que podia ser. Dalila achou 5g de maconha, que enfiamos nas mochilas. Saímos de arroio dos Ratos a pé, com duas facas pra o caso de tentarem fazer algo conosco. Fomos cantando músicas do Konai até o parque Eldorado, caminhando devagar. Nossos celulares ficaram em casa.

Um homem me reconheceu, era cliente de minha mãe. Ele ligou para ela e em quatro minutos ela chegou onde estávamos. Fiquei uma semana sem ir para a escola, mas isso não mudou minhas amizades. Lembro de ter sido a primeira vez que ganhei um tapa no rosto. Naquela noite, ela também descobriu que eu me automutilava. Não mencionei isso antes por não lembrar exatamente quando começou.


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⏰ Última atualização: Jan 17, 2024 ⏰

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• Autobiografia | Laisa Cruz •Onde histórias criam vida. Descubra agora