Pedra Hope

3.

Mil ideias planejadas e muito bem visualizadas, ideias que eu sabia que iriam dar certo, que claramente foram direto ao lixo depois de quase
terem sido descobertas em duas grandes ocasiões. Mentiras eram minha fonte de ajuda, e cara, eu era muito bom nisso. Agora aqui estou,
em estado de crise e com a raiva crescendo profundamente dentro de mim, todas as ideias que escrevi em um pedaço de papel foram eliminadas como um fracasso total.
Já se passaram cinco meses e minha
permanência aqui foi mais longa, eu mesmo percebi que não estou fazendo nada. Realmente nada para conseguir.

No entanto, agora, me senti muito diferente. Sua presença começou a despertar em mim algo tão estranho que, justamente, é dificil para mim
pensar que exista. Cavalgar naquele campo enorme onde há muitas flores, enquanto o sol se dirige ao horizonte para dormir tranquilo, onde deixa seus raios caírem sobre seu rosto. Aquele rosto tranquilo e sereno, aquele rosto lindo. Seus
olhos permanecem fechados sentindo como o sol fraco acaricia suas bochechas, o vento faz o
mesmo mas mima seus cabelos.

Estou com ciúmes, pela primeira vez estou com ciúmes.

Quero parar de olhar para ele, quero parar de admirar como ele se acalma com aquelas carícias, não consigo, definitivamente não
consigo parar de fazer isso. Tudo está a seu favor e isso me chateia.
Há aquele sorriso suave de novo, não gosto disso. Não gosto de como suas bochechas pálidas ficam carmim, odeio ver como ele sorri
com ternura, como seus olhos deixam de ser tão intimidadores e ele se transforma em um felino
domesticado. Mas o que posso dizer com certeza, o que posso dizer que odeio, é a sensação no meu peito quando ele faz isso, quando ele me diz algo que o deixa feliz e sorri, meu batimento cardíaco fica tão alterado que acho que estou
doente. Estou doente. Eu me sinto mal e é tudo culpa dele.

Ao abrir o seu coração, ele se apresentou a mim como um ser humano e não como um rei. Ele me
contou seus medos e sua felicidade, o que não gosta e o que o mantém forte, o que sonha, o que odeia, o que ama, suas fraquezas. Ele me
mostrou sua alma nua e vulnerável, me contou tudo. E eu me sinto um completo bastardo, porque não fui honesto, ele ainda pensa que sou
Hope e nada mais, ele não sabe nada sobre mim.

E repetindo mais uma vez, pela primeira vez, estou apavorado. Estou perdendo a conta e fiquei surpreso ao ver como estou sentindo algo que nunca senti antes. Ainda estou com medo.
Não quero que ele me veja de verdade, não quero que ele saiba que sou Jack, um maldito ladrão.

O meu corpo repousa sobre a cerejeira que se encontra no enorme jardim do castelo, o céu está enfeitado com muitas estrelas e embora me sinta acompanhado por elas sinto-me sozinho, toda a minha vida estive sozinho o que não deveria me afetar. Aprendendo com a minha solidão eu tinha encarado isso como algo positivo, pelo fato de
poder fazer o que quisesse da minha vida, agora, me pergunto se é isso que eu realmente quero, é tudo culpa do Min. No fundo meu ser não
quer se sentir sozinho, mas meus pais nunca quiseram me ter em suas vidas e para falar a verdade não preciso deles. Essa sensação de dor
penetra meu peito, dói.

- Posso sentar? - Fico assustado ao ouvir sua voz, ele não quer rir, vejo isso em seus gestos sendo
forçado a permanecer sério.

- Por que está aqui? Por que sinto que está nostálgico?

- Eu não estou - eu me defendo.

- Você está, é a primeira vez que consigo sentir uma emoção sua dessa forma. É bom sentir
saudade uma vez na vida, você pode expulsar todas as coisas ruins que você guardou há algumas horas ou muito tempo atrás - ele me
olha nos olhos - Isso faz você se sentir real.