6

7 1 0
                                    

Decidiram, por fim, explorar os subterrâneos, onde as sombras  ganhavam vida. Primeiro, desbravaram vielas estreitas, habitadas por mendigos e ladrões que temiam ou respeitavam Hawk. Depois, escadarias desgastadas, guiando-se pela tênue luz das lanternas furta-fogo. Enquanto desciam, o murmúrio distante da cidade se desvanecia feito um sonho meio esquecido.

Ao longo do trajeto, Hawk compartilhava segredos sobre a intrincada rede de túneis que escondia o refúgio dos Filhos de Ferrabraz. Sussurrava sobre os segredos enterrados na escuridão sob as fundações da cidade.

— Aqui, meu amigo, é onde a verdadeira batalha começa. Os subterrâneos escondem mais do que os olhos podem ver.

— Que Belenos ilumine nossos caminhos! — disse Arturo, clareando a passagem com a luz da lanterna. — E Elara? Onde ela está agora?

Hawk lançou-lhe um olhar sério.

— Partiu rumo ao acampamento orc. — As palavras do ladino ecoaram pelo túnel; notando isso, ele diminuiu o tom da voz. — Caso consigam atravessar o portal, ela fará o mesmo caminho, vindo sorrateiramente por trás deles.

— E se conseguirmos fechar o portal a tempo?

— Nesse caso — sussurrou —, nos reuniremos com ela no acampamento para pôr fim aos orcs.

Persistiram na exploração dos túneis úmidos, seguindo as pistas deixadas pelos mercenários. O som de seus passos reverberava nas paredes de pedra, criando uma sinfonia peculiar no submundo da cidade.

À medida que se aprofundavam nos corredores, Arturo sentiu vibrações arcanas, indícios de encantamentos e rituais ocultos. A tensão crescia a cada passo, alimentada pela incerteza do que aguardava nas sombras.

— Creio que estamos perto do covil deles — disse Hawk, com a voz contida pela atmosfera densa. — Oculte a luz da lanterna.

Ambos fecharam as portinholas de suas lanternas furta-fogo. Vozes e ruídos metálicos ressoavam à frente. Os mercenários estavam trabalhando. Ao dobrar uma esquina, depararam-se com uma sala ampla, iluminada por tochas e velas bruxuleantes. Havia estantes, barris, caixotes de madeira, baús. No centro, uma mesa coberta de mapas e pergaminhos.

Hawk apontou discretamente.

— Lá estão eles.

Os Filhos de Ferrabraz, agora compostos por nove almas, entre humanos, um anão, um halfling e dois tieflings, afiavam suas lâminas e mantinham uma conversa exaltada. No ponto mais profundo do salão cavernoso, um portal pulsava com energia sombria, como se fosse devorar o mundo. O ar estava pesado e abafado, e uma sensação de antecipação pairava no ambiente.

— Se os orcs vierem por ali. — Hawk murmurou, observando o portal. — Vamos dar boas-vindas a eles.

De súbito, a câmara subterrânea estremeceu, e a fenda dimensional exalou uma lufada de vento nauseabundo. Velas se apagaram e papéis voaram da mesa, enquanto uma garrafa de rum encontrou o chão, estilhaçando-se. Os mercenários, instintivamente, desembainharam suas armas.

Então houve um longo silêncio.

Do portal, não emergiu uma horda de orcs. Em vez disso, surgiu algo muito mais sinistro. Uma esfera de carne flutuante, do tamanho de um javali, com uma bocarra repleta de dentes afiados, um olho central imponente e inúmeros tentáculos, cada um terminando em um pequeno olho.

— Observador! — alguém bradou.

A criatura moveu-se, seus olhos multifacetados fixando-se nos mercenários surpresos. Os tentáculos, sibilantes, quebraram a tensa quietude, serpenteando pelo ar e disparando rajadas de luz de cada globo ocular.

O caos se instalou.

Pelos subterrâneos, ecoaram bravatas e gritos de pânico. Os mercenários lutavam desesperadamente contra a aberração. O Observador, impiedoso e ávido por destruição, rapidamente mostrou sua eficiência terrível. A mandíbula abocanhava e despedaçava, despedaçava e abocanhava. Os raios mágicos paralisavam, arremessavam, petrificavam e desintegravam.

O odor de sangue e medo misturou-se ao cheiro das tochas e paredes úmidas. Todos os ataques eram fúteis diante daquela criatura de pesadelos. O Observador ensinava aos mercenários o verdadeiro significado do horror.

Testemunhando a carnificina, Arturo e Hawk trocaram olhares. Um dos raios, por acaso, atingiu a fenda dimensional, dissipando a magia que a mantinha aberta. Com o portal agora selado, a sala mergulhou em um parco silêncio, quebrado apenas pelos gemidos agonizantes dos moribundos no chão.

Então o Olho Que Tudo Vê se virou para eles.

Então o Olho Que Tudo Vê se virou para eles

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.
AVENTURAS NA COSTA VORPALOnde histórias criam vida. Descubra agora