Tá brincando, não é?

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Nessa Barrett

Jaden foi até o carro enquanto eu fazia o check-out na recepção. Dei uma última olhada no saguão ao redor, querendo gravar cada memória da viagem. Quando sai, vi Jaden de pé ao lado do manobrista. Meu coração batia acelerado. Eu ainda estava anestesiada. Eu entendia que ele tinha me dado muitas chances de dizer o que eu queria, mas eu estive muito insegura sobre a possibilidade de ficarmos juntos. Aparentemente, ele era mais corajoso do que eu.

Estou me apaixonando por você.

Meu estômago se revirou deliciosamente.

O sr. Gugliotti avistou Jaden e se aproximou. Eles apertaram as mãos e trocaram amenidades. Eu quis andar até eles e me juntar à conversa como uma igual, mas fiquei com medo de não conseguir esconder o que estava acontecendo em meu coração, e de meus sentimentos por Jaden ficarem estampados em meu rosto. O sr. Gugliotti olhou para mim, mas aparentemente não conseguiu me reconhecer fora de contexto.

Ele voltou a olhar para Jaden, assentindo para algo que ele disse, e essa falta de reconhecimento me fez hesitar ainda mais. Eu ainda não era alguém para ser notada. Os papéis do check-out, a lista de afazeres de Jaden e sua pasta estavam na minha mão. Eu era apenas alguém na periferia, uma estagiária.

Mantendo-me longe, tentei aproveitar os últimos momentos da brisa que vinha do oceano. A voz grave de Jaden chegou aos meus ouvidos através dos poucos metros que nos separavam.

-- Parece que você ofereceu algumas boas ideias. Estou contente que a Nessa teve a chance de participar desse exercicio.

-- A Nessa é esperta. Tudo correu bem. - O sr. Gugliotti assentiu.

-- Tenho certeza que logo vamos poder fazer uma teleconferência para começar o processo de entrega do material.

Exercício? Começar? Não foi isso que eu tinha feito? Eu tinha entregue ao Gugliotti os contratos para ele assinar e enviar de volta pelo correio.

-- Bom. Vou pedir para a Annie ligar e marcar as datas. Gostaria de ler os termos com você. Ainda não me senti à vontade para assiná-los. - O Sr. Gugliotti disse.

-- É claro.

Meu coração acelerou quando a espiral de pânico e humilhação se espalhou por minhas veias. Era como se a reunião que fiz tivesse sido um mero exercício para mim, e o verdadeiro trabalho aconteceria entre esses dois homens, de volta ao mundo real. Essa conferência inteira foi apenas uma grande fantasia? Eu me senti ridicula ao lembrar os detalhes que tinha contado para o Jaden de como estive orgulhosa por ter cuidado desse trabalho enquanto ele estava doente.

-- Sophie mencionou que a Nessa recebeu uma bolsa da UCLA. Isso é fantástico. Ela vai continuar na VH depois que terminar? - Perguntou a Hossler.

-- Ainda não sei. Ela é uma ótima menina. Mas definitivamente precisa amadurecer um pouco. - Jaden disse e eu perdi meu fôlego repentinamente, como se meu ar tivesse sido aspirado todo para fora.

Jaden tinha que estar brincando. Eu sabia, sem que Wilson precisasse me dizer (e ele disse, várias vezes), que eu poderia ter o emprego que quisesse quando terminasse meu MBA. Trabalhei na VH por vários anos, ralando muito para manter o emprego e conseguir meu diploma. Conhecia algumas das contas melhor do que as pessoas que as gerenciavam. Jaden sabia disso.

-- Madura ou não, eu a contrataria num piscar de olhos. Ela foi muito bem na reunião, Jaden. - Gugliotti riu.

-- É claro que sim. Quem você acha que a treinou? A reunião com você foi uma ótima oportunidade para dar a ela um pouco de experiência, então agradeço sua ajuda. Com certeza ela vai se dar bem no emprego que tiver. Quando estiver pronta. - Jaden disse.

Ele não soava como nenhum Jaden Hossler que eu conhecia. Não era o amante que esteve comigo poucos minutos antes, grato e orgulhoso de mim por tomar seu lugar quando foi preciso. E também não era o Cretino, elogiando a contragosto. Aquele era alguém completamente diferente.

Alguém que me chamava de "menina" e agia como se tivesse feito um favor para mim. Senti meu rosto queimar de raiva e voltei para o saguão do hotel, sentindo de repente como se não houvesse oxigênio suficiente em nenhum lugar. Amadurecer? Eu fui bem na reunião? Ele era meu mentor? Em qual universo?

Fiquei encarando os pés das pessoas que passavam na minha frente, entrando e saindo pela porta giratória. Por que eu sentia como se meu estômago tivesse desaparecido, deixando nada além de um buraco cheio de ácido?

Eu trabalhava no mundo dos negócios há tempo suficiente para saber como tudo funciona. As pessoas no topo não chegam lá compartilhando crédito. Eles chegam lá com grandes promessas, grandes afirmações e egos ainda maiores.

"Nos meus primeiros seis meses na VH, eu consegui uma conta de sessenta milhões de dólares."

"Eu gerenciei o portfólio de pele da L'Oréal, de cem milhões de dólares."

"Eu projetei a atual campanha da Nike."

"Eu transformei uma empresa do interior em uma grande empresa nacional."

Sempre senti que ele me elogiava contra sua vontade, e por isso eu gostava de provar que ele estava errado, gostava de exceder suas expectativas, quase que para irritá-lo. Mas agora que nós tínhamos admitido que nossos sentimentos se transformaram em algo mais, ele queria reescrever a história.

Ele nunca foi um mentor para mim, nunca precisei dele. Jaden não me impulsionava para o sucesso na verdade, até aquela viagem, ele sempre tinha atravancado meu caminho, agindo como um cretino para tentar me fazer pedir demissão. Eu me apaixonei apesar de tudo isso, e agora ele estava me jogando debaixo de um ônibus apenas para se desculpar por perder uma reunião. Meu coração se estilhaçou em mil pedaços.

-- Nessa?

Levantei a cabeça e encarei sua expressão confusa.

-- O carro está pronto. Achei que você ia me encontrar lá fora. - Jaden disse.

Pisquei, passei a mão no olho como se tivesse caído algo nele, e não como se estivesse prestes a chorar no saquão do hotel.

-- Certo. - Eu me endireitei, peguei minhas coisas e olhei em seu rosto. -- Eu esqueci.

De todas as mentiras que eu já contei para ele, aquela foi a pior, porque ele percebeu. E, pela maneira como suas sobrancelhas se juntaram e ele se aproximou, com olhos ansiosos e tentando entender, ele não fazia ideia de porque eu precisava mentir sobre algo como aquilo.

-- Você está bem, linda? - Ele perguntou.

Pisquei novamente. Eu tinha adorado quando ele me chamara assim vinte minutos antes, mas agora parecia errado.

-- Apenas cansada. - Eu disse.

De novo, ele sabia que eu estava mentindo, mas desta vez não insistiu. Colocou a mão nas minhas costas e me conduziu até o carro.

IRRESISTÍVEL - NADEN Onde histórias criam vida. Descubra agora