Astromélia e Chuva de Prata

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Estava se sentindo o papel Noel.

Havia voado pelo planeta inteiro em menos de 24 horas.

Relacionamentos realmente demandavam energia.

Para se manter presente dentro do ritmo de vida de Helena precisava estar livre com frequência maior do que estava habituada.

E para os humanos, 24 horas sem dar notícias já era estar um pouco atrasada.

Olhou a mensagem que havia decorado, vagando no fundo da sua mente durante o dia todo.

Vinha com uma foto de um vaso de flores.

'Astromélia e chuva de prata. Vi esse arranjo e esqueci de você. Foi o momento mais equilibrado do meu dia. Não são lindas?'

Sorriu pela milésima vez daquele ser inusitado.

Realmente era muito bonito o conjunto.

As astromélias amarelas reinavam entre as chuvas de prata perfeitamente harmonizadas.

E, como havia lembrado por volta da tarde, as astromélias, se não se enganava, simbolizavam amizade.

Será que tinha sido de propósito?

Apertou na caixa digital que enviava as mensagens.

Olhou seus arredores pensando se tinha algo fotografável.

Seria meio difícil explicar como estava no telhado da National Gallery.

Tinha acabado de entregar a glória para uma restauradora que terminara um trabalho de uma vida inteira.

Uma mulher realmente formidável.

Dionísio devia estar agradecido.

O céu já estava num tom sombrio tão profundo que bastava não estar próxima das luzes artificiais para não ser avistada.

Arriscava que Helena ia gostar daquela vista, mas não adiantava remoer isso.

Tentou outra rota de possibilidade.

'Quais as chances de você estar livre alguma tarde essa semana? Vou passar em Porto Alegre e queria te ver'

'PS: melhor comprar uns cem vasos desses, separei um vestido meio fatal'

Resistiu a vontade de observar Helena recebendo a mensagem.

Por sua sorte, a Trafalgar Square servia entretenimento suficiente até para uma divindade.

Não precisou esperar muito, duas horas e a resposta já havia chegado:

'Sábado funciona pra você?'

'Coitadas das plantinhas. Tem limite pra tudo na vida'

Sorriu com a leitura.

Sábado funcionava para ela e aquela atitude coquete também.

'Te encontro 15h no MARGS'

Dessa vez a resposta veio imediata:

'Vai aguentar não subir nos pedestais? Tem seguranças lá, você sabe'

Riu do atrevimento:

'Não se preocupe, você ainda tem que trabalhar muito para merecer me ver de todos os ângulos'

A mensagem veio depois de alguns minutos:

'Quase deixei o celular cair. Você não sabe nem meu sobrenome, o que ia fazer se o bueiro levasse? Tome cuidado'

Mas o que Helena estava fazendo na rua uma hora daquelas?

Levantou-se num movimento automático.

Viu Helena cumprimentar um motorista de carro.

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