O sol já brilhava forte há cerca de 8 horas, o calor de 31 graus assolava a pequena cidade litorânea no norte do estado de São Paulo.
Marcos abriu a porta de vidro da padaria local e entrou sem se abalar, com os olhares se voltando para si. Realmente, não estava nem um pouco apresentável.
Os olhos fundos com olheiras perderam o brilho, a barba rala por fazer o fazia parecer largado, a bolsa transversal que carregava parecia pesada, usava um moletom manchado e chinelos de casa. Todos do bairro movimentado o conheciam, mas pela primeira vez em muito tempo o viram novamente naquele estado.
Marcos deu alguns passos até chegar ao quadro de avisos da padaria, não muito distante do balcão, então abriu a bolsa que levava e tirou de dentro dela um cartaz e uma tachinha branca, a fim de deixar ali seus últimos esforços.
Mas, ao analisar com mais cautela o quadro em sua frente, deixou os braços caírem ao lado do corpo. Frustrado, era como se sentia.
Virou-se em direção ao balcão com a testa franzida e encontrou a figura de alguém familiar que já o observava do outro lado do balcão com pena.
— Beatriz… — chamou alto o suficiente para que ela o ouvisse dali.
A barista suspirou em rendição e se aproximou alguns passos, permanecendo atrás do balcão sem dizer nada.
— Onde estão meus cartazes? — o homem apontou para o quadro atrás de si, com alguns anúncios de moradores e avisos do estabelecimento.
— Senhor Marcos, eu sinto muito. — Ela abaixou o olhar enquanto falava.
Marcos se aproximou a passos largos do balcão, ficando frente a frente com a garota.
— Não, senhorita. — Sem se assustar com a aproximação, ela apenas fixou o olhar nos sachês próximos às suas mãos. — Quem os tirou dali?
— Nosso gerente…
— E por que ele fez isso?
Silêncio.
— Beatriz. — Ela o encarou.
— Não concordo com as atitudes dele, mas também não posso perder o meu emprego — explicou com a voz falha — então, por favor, não coloque mais cartazes aqui, senhor Marcos.
Um soco foi dado contra o balcão, atraindo os olhares dos clientes.
— COMO PODE ME PEDIR ALGO ASSIM?!
Beatriz abraçou o próprio corpo, estava chateada, apesar de não o culpar por agir daquela maneira.
— Sei o que o senhor deve estar sentindo, ela era minha melhor amiga.
— Exatamente! Onde você estava quando ela desapareceu dentro desse lugar?
— Eu…
— Como Beatriz… Como é possível que ela tenha sumido aqui? — Os olhos caídos se tornaram vermelhos não só pelo choro, mas também pela raiva — E agora estão tirando meus cartazes, por que estão fazendo isso?
A barista se curvou sobre o balcão e abraçou cuidadosamente os ombros do homem que desabava em sua frente.
— Eu não sei… — uma lágrima caiu — mas ela vai aparecer.
No andar de cima da cafeteria, no mezanino, duas senhoras tinham vista privilegiada da cena.— É uma pena que coisas assim aconteçam com pessoas tão boas. — Uma delas, com cabelos curtos e pretos, comentou sentida.
— Pobre Marcos, isso ainda vai enlouquecê-lo. — A mais velha entre as duas misturou novamente o café já frio em sua frente com uma colher de prata, enquanto fofocava sobre a vida do velho amigo. — Primeiro a esposa e agora a filha… Ele realmente não é um homem de sorte.
— Mas o caso da garota é recente, ainda existem chances de encontrá-la. — acrescentou a senhora de cabelos curtos, ao tomar mais um gole de seu chá.
— Acredita mesmo que a esposa dele morreu?
— Mas é claro, acharam o corpo e tudo mais… — a senhora encarou sua amiga com os olhos cerrados — Você acha que não Dulce?
A senhora encarou os arredores, impaciente — Faça-me o favor, Regina, aquela sem vergonha, com certeza fugiu com outro homem e abandonou a filha e o bom marido aqui sem dar explicações! — explicou sua teoria, com uma carranca no rosto flácido e envelhecido.
Senhora Dulce conhecia a ex-esposa de Marcos, desde que a desaparecida se mudou para o bairro há muitos anos, logo após a oficialização do casamento de ambos. A senhora Dulce cuidava de Marcos como um filho, e não gostava muito daquela mulher, não via verdade nela.
— Odeio estrangeiras, a maioria delas apenas se casa com os homens do nosso país por interesse. — Bebericou um pouco do café amargo, do jeito que gostava.
— Sim, eu já vi isso em uma matéria na internet uma vez — sua amiga concordou. — Muitas fazem isso, pelo visto, conheci uma mulher que se divorciou porque o marido a traiu com uma estrangeira, que só queria lhe tirar dinheiro.
— É uma pena que Marcos esteja passando por isso, já tentei o avisar, mas ele se nega a acreditar que a esposa, na verdade, era uma sem caráter.
A senhora Regina balançou a cabeça e piscou algumas vezes antes de terminar seu chá.
— Bem, vamos rezar para encontrarem a filha dele. — concordaram com pequenos acenos de cabeça. — Aquela garota tinha um futuro brilhante, precisam encontrá-la para que ao menos termine a faculdade.
As senhoras riram e voltaram a encarar o térreo da cafeteria, onde Marcos estava sentado em uma mesa isolada com o semblante abatido, sendo carinhosamente atendido por Beatriz, que o servia uma água enquanto o acariciava as costas.
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Caelum - O Tesouro de Estrah
FantasiaEm uma realidade onde tudo o que você conhecia se foi, o que é preciso fazer para voltar para casa? Em busca de uma resposta, Alice embarca em uma jornada repleta de mistérios, amizades, inimigos, amores e surpresas, onde sua maior descoberta pode s...