Caelum - O Tesouro de Estrah

| prologo¹ | o início do fim

[algum momento em 5000 a.C.]

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Ela de repente parou.

Por que eu estou correndo? Eu não estou com medo.

A criança soltou a tesoura de prata banhada em sangue no chão, estava machucando seus dedos.

Ela olhou para seu próprio vestido, estava sujo de sangue, o sangue de alguém que ela não se lembrava exatamente o nome. Não importava mesmo.

Ela havia feito o que tinha que ser feito. Se quisesse ser poderosa, primeiro precisava mostrar a elas que merecia o poder.

Para ter poder, é preciso ter coragem.

Tinha coragem para muitas coisas, já havia tido inúmeras aventuras onde precisou ser corajosa para sobreviver. Agora não seria diferente.

Já havia demonstrado coragem antes. Mas faltava algo.

Nunca se atreveu a tirar a vida de um ser vivo, e olhando agora para suas próprias mãos, não foi tão difícil.

Teria sido mais simples se ela não tivesse tentado lutar contra. Apenas aceite seu destino, a morte será mais rápida, com sorte, você sentirá menos dor.

Ao seu redor, a floresta escura sussurrava entre as copas, ela não sabia o que queriam dizer. A luz da lua iluminava o rosto jovem e inocente, ao longe, podia escutar a comoção vinda das cabanas.

De alguma forma, sentia a natureza ao seu redor evitar sua presença. O verde estava cinza agora.

Ela segurou a barra do vestido branco e longo com as duas mãos e tentou o esfregar com os dedos, a fim de tirar as manchas de sangue.

Odiava quando ele sujava, era seu vestido preferido.

Era seu único vestido.

— O que foi que você fez?!

A voz esganiçada de uma mulher ecoou na floresta. Ela soava raivosa e parecia chorar.

A criança se virou para ela, sem expressão, apenas esperando.

— Lenore. — pronunciou o nome da líder quase sussurrando, era um lembrete para si mesma.

— Não! — a mulher se aproximou a passos largos, apontando o indicador para o rosto da criança — Não diga o meu nome, não tente me persuadir, apenas me diga o que estava pensando quando fez isso...

Ela não se moveu, continuou olhando Lenore nos olhos com o rosto inexpressivo.

— Me responda! — gritou raivosa.

Ela olhou para baixo, para seu próprio vestido.

— Pode me dar um novo vestido? Eu vou queimar este. — disse com a voz calma

Lenore franziu as sobrancelhas, confusa, assustada e com medo. Nada assim nunca tinha acontecido, aquela garota sempre fora tão gentil, tão inteligente, ela tinha um potencial assim como as outras, por que ela fez algo assim, o que a levou a destruir sua própria alma?

Ela agora tinha olhos vazios, um rosto pálido e sombrio.

— Vá embora, — sussurrou estática — vá e nunca mais volte.

Será que ela não entende?

— Eu não sei o que houve com você, mas a natureza fará o que for necessário para punir sua alma.

Não sou eu quem devo ser punida.

Ela sorriu.

Um sorriso doce, que fazia seus olhos quase se fecharem, lhe dando uma aparência angelical.

— Eu disse que conseguiria. — comentou olhando para Lenore, como se esperasse dela um olhar orgulhoso. Mas tudo o que recebeu foi incompreensão.

— O que?...

— Ser mais poderosa que você. — ela se abaixou e pegou de volta a tesoura, a segurando pela ponta — Eu fiz algo que você nunca seria capaz de fazer, mas você pode conquistar seu título novamente agora.

A floresta continuou a sussurrar.

— Me mate. — estendeu a tesoura para ela — Se você é realmente poderosa Lenore, faça a única coisa que eu fui capaz de fazer e você não.

Lenore piscou. Aquela garota não fazia ideia do que estava falando.

— Você é louca. — deu um passo para trás.

— E você tem medo. — sorriu.

Lenore alcançou a tesoura e a arrancou das mãos da criança, começando a se afastar logo em seguida.

— Vá embora daqui... Daqui em diante, você está morta para Physis. — sua voz se perdeu na imensidão da floresta, enquanto dava meia volta em direção às cabanas.

Ela continuou ali, parada, absorvendo as palavras da líder.

Estava feliz, satisfeita e confiante.

Seria poderosa, mas não precisava de muito, só precisava ser mais poderosa do que Lenore. Ela sentiria orgulho um dia. Tinha certeza.

Determinada a encontrar um novo vestido, ela caminhou floresta adentro.

Sem perceber estar sendo observada.

| Continua |