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eu tenho essa dor na garganta como se eu estivesse engasgando e me sufocando. ás vezes ela vem do nada, como prévia de uma doença, eu não sei o que significa, porque nunca fico doente depois, mas também nem sinto vontade de chorar. você acha que as dores que engolimos dentro de nós começam a se espalhar pelo nosso corpo? tentando se libertarem quando perdemos a capacidade de chorar. como pode gritos só se tornarem água salgada? sinta por todo o seu corpo como uma surra. há tantas coisas presas dentro de nós, coisas que talvez nunca iremos reconhecer e que aparecem por meio da violência. não só violência física contra os outros, mas contra você mesmo, seja de forma física ou psicológica. nem sei quem eu sou e tenho que carregar as dores dos outros jogadas pra mim, dores que nunca foram tratadas e passam de pessoa pra pessoa como uma gripe. seu passado me afeta e você nem sabe o que houve no seu passado para ser do jeito que é. engole pílulas que nem sabe pronunciar os nomes e parece o suficiente. é por isso que nunca funciona, você nem sabe porque toma os remédios, como poderia melhorar?

sabe, é que tem essa coisa que parece estar acorrentada a mim, eu a amo, como eu amo e sou viciada pela tristeza. como uma droga que reflete nos meus olhos. não posso fugir dela porque todo mundo pode ver, mas eu odeio por poderem ver tão facilmente. assim como também é um vício procurar a tristeza dos outros pra se sentir melhor com a sua, ás vezes você nem sabe do vazio que mora dentro de você, fica digerindo todas as partes dos outros por diversão e nem consegue sentir mais nada. há tantos vícios. estou sempre andando com bombas coladas em meu corpo, sempre quero voltar a ser nada e sempre quero destruir qualquer melhora que aparento ter. como ficar bem se você sabe que não merece ficar bem? eu sinto que tenho que ser castigada por existir desde que eu tinha 10 anos. eu não sei explicar de onde vem e nem posso perguntar ao meu eu do passado. eu não sei quando começou, eu não sei porquê. eu só acordo sempre porque devo acordar e não porque quero há tanto tempo, não é assim que as coisas normalmente são? todos não se sentem assim também? é isso que é. essa angústia nunca vai embora, você só aprende a viver com ela. e que merda que é. eu tenho que levantar todos os dias lutando contra a minha mente, porque ela me implora toda hora pra morrer, não há um segundo que me sinto em paz. eu tomo uma colherada de sopa e penso na morte, todo o santo dia. eu sinto que nasci pra ser punida. acho que algumas crianças nascem pra carregar um peso que não as pertencem. e às vezes pensar em me matar me acalma, meios, cartas de despedida, reações, tudo é tão tranquilizador e silencioso. aqui, agora, eu busco pelo silêncio mas sempre estou em fuga dele. apesar da morte ser feia, é melhor do que ficar brigando consigo mesma todos os dias. e eu nem desejo mais ser diferente, eu só quero acordar um dia e finalmente ter a coragem de acabar com tudo.

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