Capítulo 20: Jamais Terá O Fim Que Deseja

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"Ei garota, acorde. Está a salva agora, longe de perigo."

Eu entro em um estado de torpor, perdida na névoa entre o que é real e o que é apenas fruto de minha mente atormentada. "Damian...", sussurro, como se chamando seu nome pudesse trazê-lo de volta, mas em vez disso, sou confrontada com a presença do policial.

– Você não precisa explicar nada, vimos o que gravou na câmera. Podera ficar tranquila que iremos acreditar na senhorita.- ele tenta me acalmar, mas então pergunta sobre como consegui um telefone para chamar a emergência. Sinto-me atordoada, mas aos poucos recupero um pouco da minha compostura.

-Ah, me desculpe - o rapaz arruma a postura. – Sou policial Harvest. Conseguimos localizar a sua ligação, mas, não negamos foi difícil achar mesmo sendo milhares de agentes de procura.

Não consigo prestar atenção em que o homem  está dizendo, só me vem à cabeça as perdas que tive.

– É... - respiro profundamente para tomar coragem de falar. - Vocês acharam o Caden?

– Caden? - uma expressão de dúvida se alastra no rosto do policial. - Não. Não achamos ninguém com esse nome. Teve mais de um?

– Teve...Caden Clemontte e Charlotte Bechtel. Os dois eram irmãos, sempre ficavam juntos. Charlotte não aguentou o tormento e fez o pior. Caden foi arrastado pelas pernas em meio a mata.- minha visão começa a embaçar, estou prestes a chorar.

–Ficamos sabendo somente de Damian McCoy. - ao ouvir o nome, algumas agulhadas em meu peito começam a ficar forte. Deixo o assunto de lado e penso nas possibilidades que podíamos ter, logo o soldado começa a falar:

– Irei te levar para uma sala aqui mesmo na delegacia, uma moça quer conversar com você.

Me levantei e andei em um corredor longo. As paredes eram brancas, o chão parecia vidro de tão brilhante que estava, parecia que iriam quebrar a qualquer momento, e logo a frente uma porta.

O senhor Harvest abre-a e vejo uma mulher de óculos e cabelos loiros quase grisalhos segurando um caderno e uma caneta, onde a mesma me aguarda em uma mesinha com uma cadeira a minha espera.

Ela me pede para contar tudo desde o início, mas mal consigo articular as palavras, implorando por tempo para reunir forças. Quando ela menciona meus pais, recuso veementemente, consciente da relação turbulenta que temos.

Em um ato de desespero, peço para ser encaminhada a uma clínica psiquiátrica, eu não podia ficar naquele estado caótico, reconhecendo a fragilidade da minha saúde mental.

1995 Centro Psiquiátrico Jacksonville EUA
      09:00 AM

"Estou vivendo a minha "vida" agora em um centro psiquiátrico, voltei para minha cidade. O lugar não é tão ruim, tem pessoas boas e gentis aqui, mas...uma coisa que não sai da minha cabeça, por que eu fui sobreviver? Eu deixei eles lá, aquele momento, aquela imagem daquele criatura bizarra, me sinto traída por ter sido aquela pessoa...por que?"

Saio dos meus pensamentos quando vejo a porta sendo aberta, é o Dr. Lauder, ele me ajuda bastante a sair dos meus pensamentos que eu considero um pesadelo.

- Bom dia, Eleonor, como está? - ele me pergunta gentilmente enquanto está segurando uma prancheta contendo meu dados.

- A mesma coisa de sempre, Doutor, nada de mais - explico para ele. Vejo ele pegar uma caneta e escrever a mesma coisa que falei, na folha onde está a prancheta.

- Pois bem - ele dá uma pausa - Você está a dias e anos aqui neste lugar, portanto preciso saber o que aconteceu com você, que sempre se recusa a contar, se não falar não poderei lhe ajudar. - perguntou-se.

Olhei para ele como se eu estivesse dizendo "não me faça a fazer isso, por favor", mas não tenho escolha, nesse lugar minha vida é um livro aberto.

Sinto-me diferente, meus cabelos escuros como penas de corvo, algumas mechas brancas e olhos mais claros do que antes.

De repente, um mal-estar me domina, resultando em vômito negro. O doutor oferece ajuda, mas uma voz grave emerge de mim, anunciando-se como: Adelilah Ardglass , ela nunca desiste. Luto contra a invasão da minha própria consciência, travando uma batalha interna pela minha própria consciência e uma batalha interna pela minha própria identidade.

Eu não estava mais no controle com meu próprio corpo, Adelilah estava me usando.

– Senhorita Daunt, esta tudo bem? - apenas consigo ver o doutor tentando encostar em meu ombro.

– Eleonor? - Adelilah se apossou de mim, ela irá fazer o seu joguinho sujo. – Tenho pena de você senhor Lauder, tentando ajudar uma jovem moça a cuidar de sua mente abalada? Tenha dó. - aquela maldita risada, como posso sair desse transe?

– Por favor senhora, eu apenas estou fazendo o meu trabalho. - ele está assustado, ele terá de pedir ajuda urgente.

– Está com medo? ‐ consigo sentir meu corpo sendo levitado, Ardglass está fazendo isso. Preciso dar um jeito.

"Adelilah pare com isso! Me deixa em paz, já faz anos do ocorrido da floresta!"

– Esta escutando, doutor? É Eleonor tentando te ajudar, você não irá fazer o mesmo? - não está adiantando, merda...

– Irá querer fazer companhia para mim e para a senhorita Daunt, no inferno? - gargalhadas que podem fazer tremer o quarto inteiro, ecoam pelo ambiente.

Antes que o doutor Lauder falasse, Adelilah avança no rapaz e faz ele gritar de dor. Logo as demais pessoas que trabalham na clínica, vê o desastre, por puro azar não conseguem abrir a porta. Eu estou em completo desespero e horror.

Sinto meu corpo amolecer e sinto caindo no chão fazendo um barulho alto, mais terror estava acontecendo naquele momento. Logo uma escuridão se apossou de mim, eu estava em meu estado de morte mas, dentro de minha cabeça. Posso escutar vozes de meus amigos, mas não eram, a senhora Ardglass estava lá: sangrenta, olhos de fúria e em completo poder.

Vejo a mulher de vestes pretas sumindo em minha frente, em minha consciência. Estou caída naquela escuridão completa, sinto meu corpo gelado e minha pele pálida, logo, não sinto mais nada, nem as vozes ao meu redor e nem Ardglass. Ela conseguiu o que queria as últimas palavras dela ao sumir em minha frente, me deixou em crise e estado de pânico:

"Jamais terá o fim que deseja..."

Sinto sendo levada à um lugar. Uma terra molhada me cobria. Não terei meu fim. Não terei paz daqui em diante.

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Chegamos ao fim de uma história que demorou para acabar, mas eu jurei que até o final do ano estaria completa, dito e feito. Eu estava pensando em um final feliz, mas não, não iria ficar bom. Então fiz, um plot e um final trágico e talvez podemos dizer, dramático?

Só tenho a agradecer a todo o público que está lendo, não é muito mas mesmo assim, vejo que muitos gostam de histórias construídas nesse tema.

Um feliz Ano Novo para todos vocês (eu sei que ainda é véspera, mas com certeza irei esquecer) e um ótimo 2024!! 🤍🥂

Trilhas da Névoa Onde histórias criam vida. Descubra agora