Shakespeare

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Dia 70, ela se lembra.

Michael tinha um mal pressentimento sobre aquele dia. Suas espinhas se arrepiaram quando pisou na frente do teatro, aguardando por Shax novamente.

Uma sensação estranha invade seu peito, uma ansiedade incomum. Sua intuição diz que ela estava sendo observava. Mas talvez fosse apenas uma paranoia. Ela sabia que o que estava fazendo não era correto, e sua consciência pesava cada vez mais.

Mas a ideia de esquecer Shax era muito mais dolorida do que qualquer lei criada pelo céu e inferno.

Mas não era certo. Não estava certo. Nada disso era certo.

Malditos pensamentos. Malditas leis. Maldita ética e consciência.

- Desculpe o atraso - A voz rouca atrás dela chama sua atenção, fazendo-a se virar - Problemas com as trevas - Revira os olhos suavemente

- É com o seu substituto de novo? - Tenta soar natural

- Ele tem sido um... suporte inconstante - Brinca, jogando os ombros para desviar o assunto - Vamos? - Indica para a porta

- Sim! - Sorri docemente, seguindo Shax até a entrada do teatro

Elas encontraram duas cadeiras distantes em um camarote central que dava uma visão muito ampla do palco. O arcanjo tinha certeza de que é onde Shax escolheria, já que era alto o suficiente para observar tudo.

O lugar era imenso, as cadeiras de veludo vermelho ornavam perfeitamente com as cortinas douradas. Era tudo belo. Mas nada tão belo quanto os olhos azuis do demônio que brilhavam quando observava todo teatro. Michael concluiu que ela adorava a arte, e isso era tão puro de se ver, especialmente para um demônio como Shax.

- Aqui parece bom – Shax diz, sentando-se na cadeira de veludo, acompanhada por Michael eu sente ao seu lado – Você o conheceu?

- Quem? – O arcanjo franze o cenho, tentando não parecer que sua mente estava em outra coisa

- Shakespeare – Aponta

- Sim, infelizmente – Ela revira os olhos, se esquecendo por um segundo que Shax adorava as obras do artista – Digo...

- Ele era um idiota! – Ela interrompe antes que Michael tenta-se se corrigir – Um egocêntrico

- Você o conheceu também?

- É... algo do tipo – Shax murmura, subtendida que não estraria no assunto

As luzes se apagam, mergulhando o teatro na escuridão. O silêncio cai como um manto sobre o público. Shax se sente completamente absorvida na experiência que está prestes a acontecer. Os olhos azuis brilhantes do demônio, que estavam tão vivos momentos atrás, agora refletem apenas a fraca luz do palco.

Michael, por outro lado, sente-se inquieta. Seus pensamentos estão longe da peça que está prestes a começar. Ela olha para o palco, mas suas percepções estão obscurecidas pelas memórias tumultuados em sua mente.

A voz do ator principal ressoa no teatro, recitando as primeiras linhas do famoso monólogo de Hamlet. Mas Michael mal ouve as palavras. Ela observa Shax, ligeiramente, admirada com luz do palco iluminado seu perfil, destacando sua expressão fascinada.

A cicatriz.

A maldita lembrança da cicatriz torna aos pensamentos do arcanjo. Ela não pode evitar pensar em como Shax conseguiu aquela marca tão presente em sua pele, em direção ao seu coração. Ela a viu apenas uma vez, e por poucos segundos, mas foi o suficiente. Mais do que suficiente. Sua memória perfeita ela uma bênção, e uma maldição.

Memories - AngelStorkOnde histórias criam vida. Descubra agora