Memories - AngelStork

Remember

"Ela merecia ter os cabelos queimados", pensou Shax.

Shax odiava leões. Na verdade, demônios odiavam leões. E estar tão perto de um, a fez reviver todas as doutrinas de Lúcifer sobre ficar longe daquele animal. Assim como eles deveriam ficar longe de criaturas celestiais.

Mas Shax falhou. Falhou no segundo que sentiu seu coração pulsar quando Michael segurou sua mão para acalmar sua ansiedade. Aquilo, de fato, era algo que o demônio deveria se envergonhar. Mas, mais uma vez, Shax pouco se importou. Tudo que ela queria, era aquele aperto.

- Shax, isso é lindo! Não é nem um pouco estúpido...

Palavras que ecoaram sua mente por dias depois que entregou a Michael a correntinha dourada que ela comprou alguns dias atrás. Seu coração palpitou em ansiedade e medo pela possibilidade de o arcanjo não gostar ou menosprezar seu agrado. Afinal, era um demônio presentando um arcanjo.

Mas era Michael, e nada mais importava.

- Eu não tenho nada pra você... - Michael arfa decepcionada consigo mesma

- Sua companhia - Shax se vê dizer tudo que estava pensando - É mais que suficiente

Ela se lembra, dia 70.

Aquele dia, tinha tudo para ser perfeito, mas Shax não esperava que realmente fosse.

Ela estremece ao pisar no teatro, e a sensação de que algo estava errado invadiu sua alma.

- Desculpe o atraso – Ela chama a atenção do arcanjo - Problemas com as trevas - Revira os olhos suavemente

Naquele dia, Furfur havia visitado Shax novamente, estava preocupado com a possibilidade de Michael falar com Gabriel sobre a cicatriz. Isso de fato, tirou o sono de Shax, mas o suporte persistente de Furfur estava esgotando sua paciência.

Mas sua mente logo se distraiu com o arcanjo que cultivou certa afeição com o tempo. Shax era fascinada por teatro, a ela sabia que Michael havia reparado isso quando a convidou para assistir sua peça favorita.

Shax sente a tensão no ar desde o momento em que se aproximou do teatro. O olhar preocupado de Michael, as espinhas arrepiadas, tudo a alerta para a turbulência no coração do arcanjo. Ela não pode ignorar a ansiedade que envolve Michael, mas, ao mesmo tempo, está ciente de que é parte da trama que se desenrola entre elas.

Ao escolher as cadeiras no camarote central, Shax não seleciona apenas um lugar com boa visão do palco, mas também um local estratégico para observar Michael. Ela nota os olhos do arcanjo vagando pelo teatro, absorta em pensamentos tumultuados. A habilidade de Shax de ler as emoções é uma faca de dois gumes, pois, embora a conecte mais profundamente a Michael, também a torna ciente da luta interna que a arcanjo enfrenta.

Os conflitos morais e as barreiras que as separam, era algo que ela tinha certeza que Michael pensava, o que não era um empecilho tão grandioso para Shax. Ela deseja dissipar essas preocupações, oferecer um refúgio, mas também compreende as complexidades de sua relação.

Ao notas os dedos inquietos de Michael, Shax decide quebrar uma das barreiras que as separavam, esticando sua mão para entrelaçar os dedos. Ela não pensa com todos os botões ao fazer isso, mas arrependimento não era algo presente naquele momento.

Ela sente a textura da pele do anjo sob seus dedos, consciente da intensidade do toque. Shax entrelaça seus dedos com os de Michael, transmitindo uma conexão mais profunda do que palavras poderiam expressar. Tentando ignorar o nervosismo persistente do arcanjo.

Enquanto a peça chega ao fim, Shax sente o alívio e a frustração em Michael. O conflito entre certo e errado, céu e inferno, ética e desejo, é evidente para Shax. Ela sabe que esse momento pode mudar tudo, e a incerteza do futuro as envolve. No entanto, uma chama de esperança arde em seu ser, alimentada pela crença de que, talvez, o destino tenha reservado algo extraordinário para elas, algo que transcende todas as barreiras preestabelecidas.