57 | Blair olha para mim...

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B l a i r

"Espera, o quê?" O homem de braço tatuado interroga-me, afastando-se ligeiramente de mim. Mordo o meu lábio inferior, receosa que ele mudasse a sua atitude repentinamente, algo que podia vir a acontecer devido à razão apresentada. Eu errara e, agora que já não há nada a fazer para que esta situação mude, ele pode vir a perder o emprego. E tudo isto por minha culpa.

És inútil como um raio, Blair Wayland! O meu subconsciente aponta, gritando de forma bem audível dentro de mim.

"Zayn, eu não fiz de prepósito, nem fui descuidada nenhuma vez!" Eu tento explicar-lhe, ligeiramente amedrontada com o que se pode, eventualmente, suceder. "Ela tirou-me o telemóvel das mãos quando estava a falar contigo e acabou por ver antes que eu pudesse fazer alguma coisa."

"Ela vai-me despedir?" Zayn volta a inquirir com um tom mais suave do que aquilo que eu calculava que ele fosse ter. Sinto que ele não me deixara de encarar por vez nenhuma mas eu não consigo permanecer dessa forma, tento, por isso, o meu olhar fixo no chão do seu dormitório. Aqui estou eu, completamente acobardada, sem o conseguir olhar nos olhos enquanto assumo o meu erro.

"Eu não sei mas eu pedi-lhe para que não o fizesse..." Esclareço-o, brincando com as minhas mão, uma na outra. "Eu compreendo se te quiseres afastar de mim para manteres o teu emprego. Tu precisas dele, não de mim."

"De que é que estás a falar, Blair? Porque é que te estás a subvalorizar deste modo?" Zayn pergunta com um tom de voz calmo, parecendo-se um pouco confuso. "Não é o meu emprego que me vai dar apoio, nem é o meu emprego que me faz sorrir após um dia exaustivo. É claro que é ele que me dá dinheiro e estar a trabalhar aqui, na universidade, é o que eu verdadeiramente amo fazer mas o dinheiro eu sempre posso arranjar noutro lugar qualquer e posso afeiçoar-me a outra coisa profissão. Contudo, Blair, eu nunca hei de encontrar uma pessoa como tu..."

O meu rosto aquece de uma forma incontrolável e tenho quase cem por cento de certezas de que estou com um tom rosado na minha face. Acho que nunca havia corado com palavras meigas e, ou eu estou muito apaixonada por este homem sádico, ou estou demasiado perto daquela altura do mês.

"Blair, olha para mim..."

Elevo o meu olhar e, antes que eu pudesse ter qualquer tipo de reação, os seus lábios quentes e molhados tocam nos meus fazendo-me quase perder os sentidos. Zayn era tão problemático a princípio que eu nunca me apercebera do quanto ele havia mudado. É claro que ele cometera alguns lapsos e me magoara bastantes vezes no passado mas nós crescemos e nós fizemos de tudo para nos adaptarmos um ao outro. Aquela chama fugaz e consumidora, que as pessoas dizem acabar ao fim de muito tempo de convívio, ainda existia entre nós e ainda nos consumia aos dois de uma forma inexplicável.

Tudo aquilo que eu nunca acreditara, tendo em conta experiências de pessoas que me são muito próximas como é o caso dos meus próprios pais, acabara por me acontecer. Eu sinto-me única no mundo devido a este sentimento de felicidade tão forte, tão sentido.

"Amo-te, babe."

"E eu amo-te a ti." Completo-o.

Zayn obriga-me a deitar-me na sua cama, ao colocar-se em cima de mim. Os meus cabelos negros espalham-se pela colcha em tons de pérola e as minhas mãos seguram firmemente o homem que tanto fazia o meu coração palpitar. As suas mãos retiram da frente dos meus olhos alguns fios de cabelo indesejados e, uma vez que observo o seu sorriso, retribuo-o.

Os lábios de Zayn beijam inúmeras vezes a bochecha, algo que admito não estar à espera. Todavia, os seus beijos não era brutos, nem apressados, mas sim carinhosos, de uma forma que me deixava completamente realizada.

"Tu achas mesmo que eu era capaz de te deixar? Não te desvalorizes, amor, porque tu vales muito mais do que aquilo que pensas."

"Eu acho-me tão imatura, Zayn." Desabafo, dando voz aos meus pensamentos mais remotos. "Eu sinto-me como se ainda não tivesse crescido, como se tivesse receio de assumir as minhas responsabilidades. Eu não quero continuar na universidade. Aquilo que eu mais desejo é voltar para a primária e reviver tudo uma vez mais."

"Toda a gente tem medo de assumir o seu papel na sociedade, Blair. Não és diferente, não és um caso à parte. Tudo é novidade e toda a gente receia dar o primeiro passo." Zayn explica com um tom doce e amável.

"A sério?"

"Claro! Eu estava com tanto medo de vir para aqui, que tu nem imaginas! Tudo isto era uma novidade e queria impor respeito. Não queria ser humilhado devido à minha idade porque, não sei se sabes, mas tenho alunos que conseguem ser mais velhos que eu. Não sabia como iria falar com os outros docentes, visto que eram todos mais velhos que eu e muito menos sabia como me iria controlar devido à perversão sexual... Todavia, eu vim de cabeça erguida, disposto a tentar."

"E eu estraguei-te o esquema todo, logo no primeiro dia." Comento entre adoráveis gargalhadas.

"Oh, tu não estás a fazer a vontade que eu tinha de te desfazer da primeira vez que te vi."

Faço uma careta ao saber que ele me guardara tanto rancor nos primeiros tempos. Não que eu não tivesse conhecimento disso, porque eu também não podia com nem a tiro, mas fico feliz que ele me esteja a contar tudo isto. De certa forma, sinto-me bem ao saber que não sou a única com receio de grandes mudanças.

"O que eu te quero dizer é que sabe bem nós todos termos responsabilidades, Blair. Sabe bem crescermos e libertarmo-nos daquilo que tanto nos sufoca quando somos jovens. Sabe bem tomarmos as nossas próprias decisões e sermos ouvidos por aqueles que antes nem notavam que estávamos lá."

"Obrigada, Zayn."

"E o facto de a tua mãe ter descoberto sobre nós, retirou-me um peso de cima. Eu estou contigo porque eu realmente gosto de ti e não porque me estou a aproveitar de ti."

"Primeiro aproveitaste-te de mim, seu cabrão!"

"Blair!" Zayn exclama com um ar fulminante, ainda que surpreso por ter mencionado tal assunto.

Mordo o lábio, para tentar esconder o sorriso e nego com a cabeça. Os meus braços envolvem o corpo de Zayn e fecho o meu olhar durante todo o abraço. O seu cheiro era tão agradável que me fazia perder a noção do tempo e do espaço. Só eu sei o quão bem sabe estar assim, a seu lado, na companhia do silêncio que pairava no quarto.

Infelizmente esse silêncio não durara muito tempo pois o meu telemóvel começara a tocar. Desculpo-me para Zayn e, assim que posso, levanto-me da cama para ir buscar o telemóvel. Deixo um suspiro pesado escapulir-se por entre os meus lábios ao ver quem é que me tentava contactar a estas horas e, nervosa, atendo.

"Estou?"

"Blair, eu só te queria relembrar da conversa que tivemos nas férias."

"Claro, mãe, eu não esqueci..."

"Não sei se estás agora com ele, nem tem que ser agora, obviamente, mas quando tu e o Mr. Malik quiserem, venham até ao meu gabinete. Nós ainda temos que finalizar este assunto para que eu, de uma vez por todas, possa dormir descansada."

Toxic 》 malikOnde histórias criam vida. Descubra agora