Capítulo Único: Eu vou...ficar

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Crowley caminhava a passos curtos e dolorosos em direção ao topo da montanha. Seu braço esquerdo segurava o direito na altura do cotovelo, porque a dor em seu ombro pesava, rasgava. Respirar não era uma opção já que contribuia para a dor em seu ombro, essa que parecia ecoar por todo o seu corpo.

Um passo vacilou e ele escorregou, batendo a lateral do rosto em uma pedra assim que caiu ao chão. Mais essa. Não bastasse a luta contra os outros demônios que lhe rendeu um belo estrago, agora isso. Tropeçar e cair como um grande pedaço de merda. E era isso, uma grande merda.

Usou o braço esquerdo, e bom, para tentar se erguer, o que lhe rendeu longos segundos de dor insuportável. Um gemido escapou do fundo de sua garganta como se aquilo pudesse lhe ajudar com os problemas que estava passando e por frações de segundo pareceu que a dor foi embora, só para voltar em seguida.

Seu corpo estava quente como as profundezas do inferno, ele sabia que a qualquer momento poderia cair de novo e então o calor daria lugar a um frio insuportável, aquele que precede a morte. Coisas como ele poderiam morrer de verdade? Ah, não... Apenas desincorporação e então uma corrida frenética pelo inferno até encontrarem ele novamente e então seria apagado de toda a existência infernal. Para sempre. Como se nunca tivesse existido.

Ele soltou um riso bobo. Gritou. Olhou para cima e piscou. Os olhos cheios de lágrimas e a angústia crescendo no peito misturado com ódio, vergonha, solidão... Seja lá o que for necessário e permitido a um demônio como ele sentir.

— Droga... Se eu ao menos...

Cogitou pensar em voz alta, mas não se permitiu continuar. Estava tão imerso na dor que seu corpo parecia seguir automaticamente em direção ao topo da montanha. O vento batia contra os cabelos vermelhos, fazendo eles atrapalharem a sua visão. Olhos cheios de lágrimas e sangue do corte novo que ganhou na sua têmpora.

Por que ele precisava chegar até lá em cima? Ah, verdade, precisava dar o fora dali. Não queria olhar para trás, para os vestígios da luta que teve com os outros demônios, mesmo sabendo que já estava suficientemente longe do perigo que eles poderiam representar. Quatro contra um e Crowley conseguiu fazer um belo estrago. Desincorporar dois, deixou um inconsciente e o último apenas se rendeu, deixando-o partir. Mas a que custo?

O braço direito com o ombro destruído. Ele andava e respirava sentindo os ossos de seu corpo humano estilhaçados e sabia que em breve a dor daria espaço para o total silêncio da dormência. Ele conseguiria viver naquele corpo sem um braço? As pernas ainda tinham alguma força, não era a toa que estava quase no topo da montanha, talvez suas pernas fossem as únicas coisas capazes de pensar, porque as asas? Não, elas também estavam destruídas.

Crowley havia as retirado, não seria seguro subir tudo aquilo com suas asas negras à mostra, com o risco do vento carregá-lo sem querer para baixo e baixo. A sensação da queda naquele momento seria a última coisa que Crowley desejaria sentir. Ele riu. O ombro direito doeu e uma lágrima escorreu lavando novamente o sangue, trilhando um caminho vermelho pelo rosto sujo de terra.

— Eu...

Havia algo na boca do seu estômago, algo que subia em direção a sua garganta e o fazia abrir a boca para falar, aquilo também queimava. Quando voltou a realidade, se algo assim era possível, percebeu que suas pernas davam os últimos passos finalmente no topo. O vento forte castigando ainda mais seus cabelos, fazendo as lágrimas finalmente caírem. Lágrimas levadas pelo vento como uma pena solitária.

Pena... E se ele abrisse suas asas negras agora e deixasse o vento o levar seja para onde for. Para cima ou para baixo. Para o céu ou para o inferno. Que diferença fazia?

Eu vou... ficarOnde histórias criam vida. Descubra agora