I am YOU - HyunIn

I am (not) CALM

Hwang Hyunjin's POV

Amém! Eu acordei no meu corpo normal.

Eu poderia dizer que aquilo tudo não foi um sonho pela data que estava em meu celular, mas pelo menos aquela merda não durou mais tempo. Eu acordei na minha cama maravilhosa e consegui ir para a universidade sem ter que andar uma maratona antes.

Ao chegar na universidade, eu ainda sentia uma saudade de não receber olhares invasivos ou de não ser assediado pela bibliotecária, mas pelo menos já era alguma coisa. No fim, todo mundo tem os seus problemas e eu preferia lidar com os meus.

Aliás, eu preferia na verdade nunca mais me encontrar com aquele Jeongin. Está certo que a cara dele é muito fofa, o corpo dele é muito sex-, quero dizer, trabalhado, e eu fiquei encarando aquele rosto no espelho ontem por vários minutos, mas isso não significa que eu goste dele. Pelo contrário! Aquele garoto só me incomodou até agora.

Para esquecer disso, o dia havia sido bem proveitoso e eu pude recuperar a matéria perdida com Minho, já que estudávamos no mesmo curso. Consegui desenvolver bem meu TCC e tudo parecia estar maravilhosamente bem.

Decidi ir ao banheiro e dar uma pausa naquelas atividades. Indo ao local, no entanto, me deparei com uma cena terrível: Jeongin sendo agarrado pelo colarinho, enquanto seu nariz escorria sangue.

Sua face estava expressando dor, como se estivesse se sentindo sufocado, e alguns resquícios de líquido vermelho estavam sobre o chão. Ao olhar quem o segurava, percebi que era o mesmo cara que tentou "me" intimidar no dia anterior. Por incrível que pareça, nenhum dos dois havia notado minha presença.

- QUEM É O FILHA DA PUTA, YANG? - aquele homem gritou, enquanto ainda tinha a gola de Jeongin em seus pulsos - Você só chutou minhas bolas ontem e cuspiu na minha cara como se eu não fosse nada. Agora está aí, choramingando.

E, de fato, os olhos do mais novo só estavam pedindo para ele parar, enquanto derramavam cada vez mais gotas d'água salgadas. Sem hesitar, o vagabundo socou a face de Jeongin, sendo que provavelmente aquilo não era a primeira vez.

Se antes eu estava chocado, agora eu estava furioso. ONDE já se viu fazer isso com um estudante? Dentro de uma universidade? E, o pior, com alguém que não está disposto a mexer um dedo para brigar ou revidar?

Farto daquilo, antes que o mais velho agredisse Yang novamente, aproximei-me e dei um soco em sua nuca. Logo percebi que ele se desestabilizou, soltando o garoto e virando em minha direção.

Apesar de estar com uma face ameaçadora, pronto para brigar com quem lhe deu o soco, sua expressão tornou a uma surpresa, ao me ver, misturada com arrependimento.

- H-Hyunjin?

- Se você mexer com ele de novo, você vai estar mexendo comigo também, entendeu? - e puxei-o pelo colarinho, da mesma forma que ele fez com Jeongin - Então eu acho bom você aquietar esse seu rabo e ir bem longe daqui.

Sem receber resposta dele, apenas usei minha mão livre para apertar seu rosto.

- Estamos entendidos?

- S-sim.

Soltando-o, deixei que saísse do banheiro entre tropeços. Pessoalmente, eu queria que ele recebesse muito mais, mas considerei que a prioridade agora era o Yang.

- Por que fez isso? - Jeongin perguntou, pegando um papel toalha para limpar o sangue, já mais calmo.

- "Isso" seria te defender agora, ou dar uma surra nele ontem?

- Os dois.

- Porque eu fiquei com raiva desse arrombado. Simples. - e olhei para ele, que apenas concordou, jogando o papel fora. Havia sinal de um hematoma próximo à sua boca - Por que você não se defende? Tem força pra isso.

- Eu não sei - lamentou consigo próprio, limpando também as lágrimas de alguns segundos atrás - Eu só não consigo reagir. Meu nervosismo ataca, e eu sempre entrego o dinheiro para que isso acabe logo.

- Por que nunca contou a ninguém?

- Ele dizia que se eu contasse, ele logo seria liberado e iria atrás de mim, para me assediar ou até mesmo me "foder", já que todo gay só quer um pau, segundo as palavras dele. - percebi que ele estremeceu só de lembrar daquilo.

A raiva e o desprezo por aquele cara apenas aumentava, mas eu precisava me controlar. Eu precisava ter certeza de que ele estava bem.

- Mas por que você se importa tanto? - o mais novo perguntou.

Aquilo me pegou de surpresa. Por que eu estava preocupado com aquilo? Não faz sentido. Eu não gostava dele com todas as minhas forças anteontem, e agora estou aqui, fazendo perguntas sobre o bem-estar do garoto.

- Não me importo - respondi rápido a primeira coisa que me passou à cabeça - Só estou curioso.

- Hmm.

O mais novo apenas aceitou a resposta e pegou sua mochila que estava jogada em um dos cantos do banheiro, retirando uma base. Aos poucos ele foi passando no canto da boca, para apagar a marca roxa.

- Você parece bem acostumado com isso. - comentei.

- É.

Ele continuou retocando a maquiagem, e eu continuei observando ele passá-la. De alguma forma, eu não queria retirar meus olhos daqueles lábios. Eram muito bonitos, e talvez até mais atraentes do que os daquelas piranhas que vivem se grudando em mi-

- Aliás, aquela bibliotecária te incomoda? - meus pensamentos foram interrompidos.

- Um pouco - tentei mostrar minha indiferença, como se não ligasse para aquilo - Já estou acostumado, então sempre ignoro os flertes dela.

E, realmente, eu estava acostumado, mas ainda assim acabava me sentindo desconfortável. Era um porre.

- Eu posso conversar com ela.

Aquilo me deixou intrigado. Não era ele o "todo tímido"?

- Você não precisa.

- Tô te devendo uma. Se ele me espancasse agora e eu desmaiasse, perderia o horário do meu estágio - explicou, guardando a maquiagem e olhando para mim - Queria fazer algo em troca.

- Não precisa, de verdade - recusei a proposta.

Ele somente olhou em meus olhos, buscando saber se o que eu falava era verdade, e então deu de ombros:

- Se você diz, então não farei nada. Muito obrigado por ter me salvado. Tô te devendo uma.

Logo o garoto saiu do banheiro, deixando-me lá pensativo, com as manchas de sangue no chão do banheiro e resquícios de papel usado para enxugar algumas lágrimas. Olhei para a minhas mãos, usadas para bater naquele arrombado, e analisei a situação.

"Por que eu fiz tudo isso por ele?".