I am YOU

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Hwang Hyunjin's POV

Alguma coisa aconteceu ontem, isso eu tenho certeza, mas o quê? O dia inteiro Jeongin me evitou na universidade. Eu sempre o via desviando dos corredores ou fingindo não me ouvir quando eu o chamava. Será que eu fiz besteira?

Até mandei mensagem para a governanta perguntando sobre algo ter acontecido segunda, quando faltei. Ela simplesmente disse que um amigo meu foi me visitar e nós acabamos quebrando uma garrafa de vinho. Isso era muito estranho.

Claro, eu ainda podia ouvir os cochichos das pessoas por toda a facul, comentando sobre eu ser gay ou coisa do tipo desde que postaram aquela foto de nós dois juntos. Admito que domingo fiquei arrasado e segunda fiquei com medo de vir estudar, mas, depois de alguma reflexão, decidi mandar todo mundo se foder mesmo, e vir hoje.

Meus pais sempre foram conservadores então nunca me imaginei me assumindo. Na verdade, sempre me escondi de forma a tentar até mesmo me enganar, mas, no fundo, eu sei muito bem que fazer sexo com aquelas meninas não chegou nem perto de quando eu me aproximei de Jeongin por alguns instantes naquela festa. Por causa disso, ainda pretendo manter algumas coisas em segredo, mas vou parar com aquela pose de hétero top que (tento) manter na universidade.

Fato é que eu estou nervoso - e muito - sobre tudo isso. Chris tentou me consolar a sós, mas ainda assim eu não podia deixar de sentir-me inseguro, ansioso e observado. Era uma merda. E isso tudo só piora com Jeongin me evitando ao máximo o dia inteiro.

Decidido a resolver isso de uma vez, com o fim das aulas de tarde rumei para onde o mais novo muito provavelmente estava: na biblioteca. Entrei sem ao menos olhar aos lados e vi ali Yang estudando.

- Preciso falar com você.

Assim que ele notou minha voz, percebi que suas bochechas ficaram enrubescidas e que ele mal conseguia me olhar.

- Hyun, estamos numa biblioteca.

- Então vamos lá fora. Preciso falar com voc-

- Que nojo! Saiam daqui - ouvi uma voz bem familiar.

Ao olhar para a emissora da fala, vi a bibliotecária do local dirigindo-se a nós dois. E, sim, era a mesma que me assediava antes, até ela parar "do nada" (apesar de eu saber muito bem que quem a fez parar foi Jeongin).

- Eu fiz bem em postar aquela foto de vocês dois e revelar esse seu lado sujo, Hwang - ela continuou, com um olhar de desdém, e depois murmurou algo que só eu consegui ouvir: - Se eu soubesse que você era um viadinho, não teria dado em cima de você nem morta.

Assim que ela falou aquilo, senti o olhar de todos cair sobre nós três. Todos estavam me julgando. Sim. Já sentia minha respiração levemente descompassada e minhas mãos começando a tremer. Eu seria humilhado na frente de todos ali e não poderia fazer nada. Eu seria gravado e pisoteado na Internet e no mundo real, com várias pessoas que, apesar de antes dizerem que me admiravam, agora iriam debochar e me tratar como um lixo. Era o meu fim.

- Então foi você quem postou! - Jeongin se levantou bruscamente, indo em direção a ela e me retirando das minhas lamentações - Se esqueceu daqueles vídeos que eu tenho de você assediando os alunos? Posso muito bem mostrar pro seu chefe. Que tal?

- Pois mostre! Como se dois gays pudessem fazer alguma coisa sobre isso - e revirou os olhos - Vocês são a escória.

- Olha quem fala! - o mais novo revidou - Uma puta homofóbica que só sabe fazer os estudantes ficarem desconfortáveis. Sou gay e com orgulho, sua vadia!

Fiquei em choque novamente com o linguajar de Jeongin. Ele sempre me surpreendia, e eu não o pararia nem se me pagassem. De alguma forma, embora a minha ansiedade sobre tudo aquilo permanecesse, aquilo me deixou mais tranquilizado.

- Vamos, Hyun.

Com aquela fala, senti a mão do mais novo segurar a minha, levando-me até o fundo de um dos prédios do campus. Podia ver seu olhar determinado e indignado, que inevitavelmente o deixava fofo, ao mesmo tempo em que sua mão segurava firmemente a minha.

Assim que conseguimos ficar a sós, ele começou a me checar e verificar se eu estava bem:

- Você está tremendo! - falou tocando meus braços e face - Não ligue para aquela mulher! Não sei como não foi demitida ainda.

- R-relaxa, Jeong - tentei tranquilizá-lo, agarrando suas mãos - Eu estou bem.

- Tem certeza?

- Sim - assegurei - Eu tenho que te agradecer por me defender.

- Você nem parece a mesma pessoa de antes - falou com um meio sorriso - Se fosse, estaria me culpando novamente por ter sido "descoberto"; ou nem mesmo teria aparecido na facul depois daquela postagem.

- Bem, acho que passar um dia no seu corpo me deixou suscetível a sair do armário - e ri comigo mesmo. Em resposta, ele apenas deu um tapa no meu ombro pela brincadeira sem graça - De qualquer forma... - continei, apesar de ainda rir um pouco - Por que você estava me evitando hoje?

Com a minha pergunta, o garoto passou a corar violentamente. Coisa boa não foi, e, só pela reação dele, já senti o que talvez viria.

- Então... - começou - Você estava bêbado, sabe? Não é culpa sua, nem minha.

- Para de enrolar! O que aconteceu?

- É que eu queria saber se você tava bem, já que você faltou na aula de segunda. Daí a governanta me deixou entrar e tal, daí a gente conversou e... e daí...

- E daí?

- E daí... - ele começou a enrolar e eu arqueei uma sobrancelha incentivando-o a continuar - A gente beijou.

Senti meu rosto esquentar com a confissão, mas tentei manter a pose:

- Nada demais, né? - e desviei o olhar - Só por curiosidade, não foi de língua, foi?

- Foi.

Dessa vez não pude deixar de tentar esconder meu rosto. Sério que eu fui longe demais a esse ponto?

- Olha, quer saber? - tentei aliviar o clima - O que foi, foi, né?

- É - vi que ele estava suando frio, também nervoso - O que foi, foi.

- Mudando de assunto, por que você não vai lá para casa? Preciso agradecer por ter me protegido daquela bibliotecária de novo.

Percebi que o menor ficou inicialmente confuso com a mudança repentina, mas logo cedeu:

- Não sei do que está falando por "de novo" - comentou rindo, fazendo-se de desentendido - Mas pode ser. Não é uma má ideia.

Ainda estávamos meio tensos pelo acontecimento, mas não estávamos também tão desconfortáveis. A presença dele continuava sendo reconfortante.

Andamos juntos até minha casa, sendo recebidos pela governanta que serviu algum lanche para nós. Permanecemos conversando levemente, como se nada tivesse acontecido, apreciando a presença um do outro.

Acho que não foi tão mal poder trocar de corpo com ele. Antes parecíamos muito distantes, com realidades muito diferentes, mas ainda carregamos aquele mesmo fardo de sermos o que os outros recusam a aceitar. Sofremos porque, apesar de tudo, ainda somos humanos, e enxergar isso nele não foi só revelador, como também encantador.

Nele, eu encontrei uma outra parte de mim, que antes vivia se escondendo da minha própria consciência. Nele, eu encontrei uma outra parte de mim, que agora está se dando uma nova chance de descobrir o que eu realmente sou. Nele, eu encontrei uma outra parte de mim, que no futuro saberá o que é liberdade.

Nele, eu me encontrei.

Olhando para seu rosto enquanto comíamos uma adorável refeição, ouvia nossa conversa sobre qualquer coisa aleatória, enquanto não conseguia parar de pensar em uma única coisa.

"Eu sou você. Eu me vejo em você."

I am YOU - HyunInOnde histórias criam vida. Descubra agora