"Eu não perco absolutamente nada, Nate."

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Durante o percurso de volta à sua casa, Wednesday ignorava as perguntas eufóricas de sua mãe já que seus pensamentos só a levava aos momentos na sala de aula onde o quão gentil Xavier havia sido com ela. Como pode alguém ter tido tanta paciência, preocupação e cuidado? A garota havia acostumado com olhares de desdém e falta de empatia devido à sua condição, mas o garoto se mostrou diferente diante dos demais adolescentes, inclusive até mesmo do próprio irmão. De fato, lidar com o ambiente escolar seria um desafio mas pouparia os detalhes do ocorrido para os seus pais. Não queria transformar aquilo em algo mais dramático, poderia tentar lidar com tudo quieta e no fundo sabia que gostaria de ver Xavier mais vezes.

— Barulho. Barulho e... muitas pessoas. - Wednesday se esforçou a falar após a centenas de questionamento de sua mãe. Não queria dar tantos detalhes por motivos óbvios e por estar cansada mas também não queria ficar tão calada a ponto que Morticia e Gomez achasse o comportamento estranho.

— Ah, Wed! - A de cabelos longos e escuros se proferiu de maneira aliviada e surpresa. - Achei que escutaria um pedido de socorro. Logo se acostumará com o ambiente, esse foi apenas o primeiro dia, meu doce.
— De qualquer forma, vamos estar sempre atentos aos seus limites, querida. - Gomez fala pela primeira vez após estacionar o carro. Seu olhar encontra através do espelho o rosto da menina que encarava a janela. - Essa nova rotina requer esforço e força de vontade, talvez possa estar assustada e acanhada, mas pense que talvez possa te proporcionar coisas novas, novos ambientes, conhecimentos, vivências, amigos ou quem sabe alguma relação mais profunda. - Gomez finaliza atraindo os olhares de sua esposa e curiosamente o de Wednesday, que parecia pensar em algo ou em alguém...

— Gomez? O que é isso? Ela ainda é jovem, tem costumes que precisam ser melhorados e só o fato de conviver com outros além de nós já é demais para ela. Não coloque isso na cabeça por agora, nossa menina não está acostumada com esse tipo de aproximação. Não vamos entrar em um debate sobre isso! - Morticia repreende, parecendo preocupada com a reação da menina mesmo que ela estivesse aparentando estar despreocupada sobre o que foi dito pelo pai.
— Uma hora ou outra pode chegar a acontecer, eu só estou avisando, querida! - Gomez diz ao abrir a porta para Wednesday enquanto deixava escapar risadas com a reação da esposa.

Após permanecer brevemente no jantar e sendo compreendida pelos seus pais devido ao seu cansaço, Wednesday voltou ao seu quarto e se enfiou debaixo das cobertas. Os seus olhos estavam pesados mas o sono não vinha já que sua mente gritava pelo nome de Xavier, aquilo a deixava desconfortável pois sequer o conhecia direito. A verdade é que a menina não tinha o conhecimento da existência de "sentimentos" e o porquê deles causarem reações esquisitas nas pessoas, os seus pais nunca haviam conversado até então com ela sobre isso e nem havia necessidades já que vivia dentro de casa e nunca teve contato com outras pessoas além da sua bolha familiar. Mas agora era completamente diferente. E é por isso que não parar de pensar em um garoto que viu a poucas semanas e com pequenas interações era totalmente estranho e anormal.

Thorpe, Xavier.

— Você poderia não ter sido um babaca? Sério cara, ela tem AUTISMO. - O loiro esbravejava com o irmão deitado na cama à sua frente. A expressão de indignação era presente e um soco já havia sido desferido no edredom, Nate por sua vez, se encontrava mais preocupado em algum jogo na tela do celular.
— Ela é só uma Alice no País das Maravilhas descobrindo um novo mundo, relaxa brother. - Nate dá de ombros parando para olhá-lo de maneira risonha por um breve segundo.
— E se ela não se permitir voltar mais a estudar? E se os pais da garota ficarem sabendo? Era o primeiro dia de aula dela e você conseguiu transformar a nova experiência de uma menina fora da realidade do nosso mundo em uma amostra grátis de como seria um inocente no inferno. - Xavier finaliza com sarcasmo e respira fundo ao notar que o outro sequer dava atenção às suas palavras.
— Você sequer conhece aquela pirralha, qual é o seu problema? - Nate larga o celular e encara Xavier que se encontrava prestes a sair dali.
— Então o problema sou eu agir de maneira respeitosa com alguém que eu não conheço? - Ele frisa os olhos e apoia os braços sob a cama, até então captando pela primeira vez a atenção do outro Thorpe. - Você está correto em agir como um babaca pra arrancar palavras satisfatórias para o seu próprio ego da boca de amigos cujo só estão contigo pelo o que você tem e não pelo o que você é. Pois convenhamos também que você não é nada. Mas tudo bem, o problema então é a minha empatia por alguém que precisa disso? E olha que isso é o mínimo, quase que uma obrigação! - Ele finaliza balançando a cabeça e logo se retira do ambiente, escutando os gritos do irmão enquanto caminhava em direção ao seu quarto. — Eu não perco absolutamente nada acabando com você só pra defendê-la, Nate. - Xavier sussurra ao se jogar na cama e encarar o teto, passando-se a se lembrar dos olhos amedrontados da garota enquanto encarava seu irmão.

Oi, eu voltei :) espero que gostem desse capítulo.
Essa é umas das histórias que eu menos atualizava então após a minha ausência de quase 1 ano resolvi voltar com uma atualização dela.

Senti MUITA falta!
C.

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⏰ Last updated: Aug 28 ⏰

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Wandinha e Xavier -  AutismoWhere stories live. Discover now