Jungwon
Meu pescoço está totalmente travado, não consigo mexê-lo. Pensei que andar de avião seria mais confortável. Aquele terror que as aeromoças chamam de lanche só me deixou com mais fome.
Até agora minha única vontade é pegar um vôo de volta para Recife, mas tenho que me manter positivo já que vim com um objetivo.
Carrego minha mala para o lado de fora do aeroporto. Não está muito movimentado, então tenho facilidade em me locomover.
O céu está nublado mas ainda posso sentir meu cabelo grudando na testa.
Aluguei um apartamento perto da faculdade e o caminho até lá é tranquilo. O taxista não era de falar muito, então continuei em silêncio.
Deixo minhas bagagens de lado e pego o celular. Não conheço nada por aqui, então pesquiso alguns restaurantes. Olhando em volta percebo que é até maior do que nas fotos. Acho que não vou demorar para me adaptar.
Estou saindo quando percebo o porteiro me cumprimentando. O sotaque carioca é bem presente em sua voz. Acho bonito o jeito de falar, mas prefiro o meu.— Boa tarde!
— Boa tarde! - sorrio levemente.
— Inquilino novo né?
— Isso. - o porteiro deve conhecer todo mundo que mora aqui.
— Bem vindo! É de fora né? Espero que goste do Rio.
— Obrigada! Sou de fora sim.Admito que achei estranho ele notar isso com apenas uma frase, mas também notei seu vício de linguagem. Nunca escutei tanto "né" como em algumas horinhas no Rio de Janeiro.
Andando pelas ruas, não noto tanta diferença na arquitetura daqui para a Recife. Bastante comércio e alguns condomínios. Amanhã quero tentar ir à praia. Meu lugar favorito para poder descansar e passar o tempo.[...]
Finalmente posso me jogar na cama. A comida era boa, até melhor do que imaginava. Mas agora não consigo mover um músculo sequer, então resolvo pedir pelo celular.
Estou secando o cabelo enquanto pesquiso mais sobre as redondezas. Vejo mais mensagens da minha mãe chegando. Entendo sua preocupação já que seu filho de 19 anos está em outro estado. Respondo e vou até a sala. Agradeço por ter encontrado um apê com quase tudo dentro. Não sei se teria cabeça para comprar móveis e outras coisas.
O pedido chegou, e logo coloco o refrigerante na geladeira. Geralmente a bebida vem quente pela entrega, e eu odeio.
Ligo a televisão e a única coisa que penso é em terminar de comer e ir dormir.
Passando de um canal à outro, paro em algum programa de culinária. Preciso melhorar meu dom na cozinha já que estou morando sozinho. Viver de entrega vai sair caro, então é minha única opção.
Fiquei me perguntando se não terei problema com as roupas. Não achei que precisaria usar regata então nem trouxe tantas. Acho que vou ter que sair para umas compras.[...]
Estou parado observando a natureza em volta da faculdade. É bem arborizado e o ar um pouco mais fresco. Cheguei mais cedo para confirmar o horário das aulas, então entro e procuro algum quadro de avisos. A estrutura é bem grande. Espero não me perder aqui. Confirmo o número da sala e ao me virar acabo esbarrando em alguém. Essa bolsa pendurada no ombro não está me ajudando.
— Desculpa!
— Esse calor está me deixando tonto, desculpa! Ah, prazer, sou Sunoo! - o sorriso faz suas bochechas rosadas levantarem.
— Tudo bem! - sorrio de volta. — Prazer, Jungwon!Sua simpatia é contagiante. Confesso que não achei que iria falar com outro aluno nos primeiros dias. Mas foi bom ter o conhecido. Compartilhamos algumas informações e descobri que estamos no mesmo curso. Entramos na sala e por enquanto, está bem vazia, porém acredito que seja pela hora. Ele tira o fone da bolsa e me oferece um dos lados. Com certeza é a pessoa mais extrovertida e gentil que já conheci. Enquanto está tocando uma música que deduzo ser do Cazuza, vejo alguém parado perto de Sunoo.
— Esses cariocas são piores do que eu imaginei. - não consigo segurar a risada. Seu sotaque paulista deixou a frase mais engraçada.
— Por quê?
— Acredita que o menino passou e piscou para mim? Pensei até que ia levar minha bolsa.Sinto uma pontada na barriga indicando que já ri demais. Olho para trás na esperança de avistar o tal galantiador e vejo uma silhueta bem alta com o cabelo composto de fios negros. Nada mal.
A aula segue normalmente. O primeiro professor era o mais calmo. Pude ver Sunoo quase dormindo durante a explicação. Saímos e fomos até o refeitório. Acho que tinha alguma promoção ou novidade que não sabíamos, já que a fila estava chegando no corredor. Não me incomodo tanto, mas Sunoo está reclamando e cogitando comer fora.— Ei, você viu o Jay? Cada dia mais lindo.
— Lindo e idiota. Desencana, amiga!Esse diálogo chama nossa atenção. Nos encaramos com a dúvida "quem será esse Jay" estampada na testa. Pela conversa não parece ser alguém tão amigável.
Depois de quase uma hora, conseguimos fugir da multidão e sentamos em uma das mesas vazias. Enquanto estávamos discutindo sobre algumas matérias do curso, vejo uma pessoa do meu lado. Quase pulei da cadeira ao me virar.— Desculpa pelo susto! - ele ri e coloca as mãos no rosto por vergonha. — Vocês são os calouros de cinema, certo?
— Somos! - respondo ainda sem entender.
— Sou Jake, do curso de vocês! Queria avisar sobre a festa de boas vindas. Une várias áreas, então dá para conhecer mais gente. Só aparecer.Ele coloca os papéis na mesa e sai andando com outro menino. Achei simpático, mesmo sem saber chegar com cautela. O olhar de Sunoo para Jake me faz cair na gargalhada.
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Sou o cara pra você | Jaywon
RomanceComo o ditado "os opostos se atraem", Jungwon, um doce jovem que sai de sua cidade natal para fazer faculdade, se vê entrando no mundo de Jay, conhecido como pegador e mais nada.