ثلاثة عشر

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Plagiador

Esta é uma peça de ficção. O capítulo a seguir possui fatos que não condizem com a realidade.

استراحة

Belo Horizonte, 124 dias restantes...

— É brincadeira, né? Me diz que 'cê tá brincando, Soraya. — O sussurro em meio a comoção não chegou aos ouvidos dos outros ali presentes, alguns ainda se perguntando o motivo da ausência de um dos homenageados. Era notório que, em seu estado único, ele não era mais capaz de ir muito longe, tampouco com as próprias pernas. Decerto, nem mesmo carregar o caixão. Não queria ver com os próprios olhos uma nova versão de Brás Cubas, quanto mais ouvir suas memórias nada agradáveis — É só a... — Ela respirou fundo, engolindo a "merda" que, por muito pouco, não pulou de sua língua. — É só um velório. O defunto não tem muita escolha nesse assunto. É só protocolo e depois estaremos livres.

— Queria eu que fosse, Simone. O que 'cê acha que essa situação esquisita faz comigo? — Vieira devolveu no mesmo tom, tão exasperada quanto sua companhia, que era muito melhor em disfarçar, mesmo não usando um óculos escuro gigante no rosto e camadas e mais camadas de máscara para afugentar até o próprio oxigênio que respirava. — Não que eu tenha me arrependido de estar aqui com 'cê, foi e sempre será um prazer cuidar de você, mas eu quero a minha casa e a minha cama. Eu não trouxe minha medicação e 'tô sentindo que a minha ansiedade vai explodir a qualquer momento.

— Eu sei, querida — Ouviu o suspiro da mulher, e o curvar de ombros não deixava dúvidas do peso que voltava ao próprio corpo —, mas me irrita que decidam quebrar o protocolo assim de última hora. Nem deveríamos estar reunidos aqui, olha a quantidade de gente sem máscara aqui dentro...

Mais uma vez ela deixou Nassar divagar, certa de que seus instintos a impediam de falar mais que a boca. "Irritantemente, ela não vai falar nenhuma bobagem, por mais que queira falar", pensou. Odiava vagamente o excesso de autocontrole que impedia Simone de passar qualquer vergonha, por menor que fosse. Achou que era melhor deixá-la extravasar um pouco de sua frustração e, quem sabe, talvez ela deixasse escapar algo inesperado.

— Soraya, eu preciso me sentar, tá muito quente aqui dentro. — Sua mão foi de encontro a de Vieira, agarrando o pulso dela sem pensar muito, e pediu com gestos que a amparasse, o que ela fez de bom grado.

Em um canto oposto ao da ex-presidente, ela deixou que Nassar se sentasse pesadamente em uma cadeira e, sem cerimônias, puxou mais uma para se sentar ao lado dela, a uma distância minimamente confortável. Não era lugar nem hora para demonstrar que já tinham compartilhado o mesmo quarto mais de uma vez. Ninguém precisava ver o certo nível de intimidade que tinham, afinal já levantavam suspeitas a respeito de estarem ali apenas as duas, em uma desculpa patética dada pela cúpula das federações.

Sentada próxima à janela, Vieira corria o olhar pelo jardim além dos vidros. A coloração acinzentada das árvores, o leve balançar das folhas, o som abafado da chuva caindo no chão. Um dia perfeito para jogar todas as responsabilidades pela janela, aproveitar a friaca e desacelerar a mente. Entretanto, lá estava ela, em um estado estranho e sem perspectivas de quando poderia ir embora.

Olhou preocupada para a tela do telefone, vendo o mar de notificações aumentar e sem coragem para encarar o mundo naquele exato momento. O suor na palma das mãos e ao redor da cabeça começava a se acumular, e sua paciência, a tanto custo cultivada, se esvaia a cada segundo sem resposta.

Ali estavam, como solicitado. Prestando homenagens a alguém cuja existência ou inexistência pouco importava agora para suas vidas pessoais. Observando o delírio coletivo se desenrolar ao redor, desejando que fosse mais uma história criada por uma mente perturbada. Mas era vida real e, por mais que quisesse desrealizar, Vieira suspirou fundo, escutando o toque do telefone e ignorando o olhar curioso de sua companhia.

Memórias [simone x soraya]Onde histórias criam vida. Descubra agora