♤01 - Honroso guerreiro

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Local: Agrupamento 1 - capital C
10 dias para o alistamento
Hana Yamamoto Pov

O ar estava gélido e denso naquele dia, mais um sinal de que o inverno estava cada vez mais perto, o que preocupava bastante os habitantes.

Eu observava o céu nublado, já fazia dez anos, dez anos desde que a última guerra entre agrupamentos ocorreu, também era o aniversário da morte do meu pai. Um dia claramente não comemorado por motivos óbvios, odiava pensar nisso, mas a injustiça que o mundo cometerá contra nós, logo no final de uma guerra, me machucava de formas intensas.

Fazia cinco anos, cinco malditos anos que minha família havia fugido da capital A, conhecida principalmente pelo mandarim, e espalhava uma grande cultura pura. Minha família cavou sua própria cova após isso, e eu nunca ia me agradar com a capital C.

Em meio aos meus pensamentos, uma mão tocou em meu ombro, fazendo que eu me assuste e o meu cabelo, que antes voava junto ao vento, pararem exatamente em minha boca. 

Comecei a cuspir desesperadamente cabelo enquanto a pessoa atrás de mim entrava numa gargalhada contagiante.

Yuto! Quer merda você quer agora? - Eu viro o rosto em sua direção, completamente emburrada.

Que foi Hana? Depois que fez 16 ficou mal-humorada? - Ele ri mais um pouco - Aliais, o que você está fazendo aqui na montanha? Tá muito frio aqui em cima, vai ficar gripada antes dos jogos...

O clima fica tenso, e apenas inspiro com dificuldade e logo após suspiro, me levantando aos poucos do banco.

A mamãe tá em casa? - Eu posiciono minha mão a frente do rosto, tentando me livrar do vento.

Não, saiu para a feira comprar soju provavelmente, aconteceu alguma coisa?

Não, só queria pegar algumas flores e colocar no túmulo dele sem ela ver, você sabe como ela fica - Ambos ficamos nos encarando por um bom tempo, até que yuto abre caminho.

Vamos, ela vai demorar ainda.

Iniciei a caminhada enquanto meu irmão me seguia logo após, alcançando aos poucos para enfim envolver um de seus braços em meu ombro.

Continuamos assim até descer a montanha e pudermos finalmente avistar o pequeno bosque que yuto mantém conservado ao lado da residência.

Me ajoelho, enquanto yuto vigia o local. Calmamente colho os pequenos lírios, envolvendo-os em um papel branco, ao terminar os amarro com um laço preto.

Me levantei, e assenti com a cabeça para meu irmão, que apenas assentiu de volta e partiu para o interior da nossa casa.

Eu respirei com calma, e prendi meu cabelo curto num coque frouxo, então sai correndo na direção noroeste junto ao buque de flores. 

Quebra de tempo

Após alguns minutos eu me afastei finalmente do vilarejo, encontrando cara a cara com o cemitério central.

Ao olhar para cima avistei a placa já enferrujada.

"Aqui à nossos honrosos guerreiros que morreram na guerra contra o agrupamento 5, que nosso bondoso senhor vos guarde".

Li apenas por cima e adentrei o cemitério, andando calmamente e observando cada lápide, até finalmente chegar na quinta fileira.

"Soldados classe A"

Eu segui pela direita, o cemitério não era tão grande, mas havia uma quantidade razoável de mortos, o que era deprimente...

Então finalmente cheguei à décima lapide, parei em frente a ela, logo após me ajoelhando para ler melhor.

" Yamamoto Kaito, 1954 - 1990
Um bom companheiro, soldado, e pai."


Oi pai, é bom te ver... - Meus olhos marejavam

Posicionei o buque de lírios ao lado esquerdo da lápide e beijei a palma de minhas mãos, logo depois as apoiando no topo da lápide.

Esse ano me voluntariei para os jogos. - Suspirei - Sei que você nunca gostou da ideia, mas a mamãe está cada vez mais doente, se enchendo de bebida. Bem, eu e o yuto tentamos deixar tudo estável, ele nas minas e eu confeccionando os tecidos para o estado - Lagrimas então começaram a descer por minhas bochechas, já coradas pela intensidade do frio - Mas você sabe como a democracia daquele lugar é injusto, a gente ganha menos da metade do valor real... - Paro por um momento, inalando um pouco de ar e me acalmando aos poucos.

Instintivamente, apenas só me levantei e fiz o caminho de volta para casa, deixando o buque para trás.

Não haveria como voltar no tempo de qualquer forma...

Flashback -> 1987
A

grupamento 1 - Capital A

Podia se ouvir pequenos pezinhos correndo agitadamente pela casa, eu e yuto estávamos brincando de pega-pega, enquanto papai e mamãe liam correspondência tomando um pouco de chá de lavanda. De repente, mamãe pulou da cadeira, se engasgando aos poucos com o chá enquanto papai tentava a acalmar.

Eu e yuto paramos rapidamente de correr e fomos em direção aos nossos pais.

Foi a primeira vez que presenciei minha mãe gritar daquela forma com meu pai.


Mas para falar a verdade...

Se eu estivesse no lugar dela, faria o mesmo.

Provas de SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora