23 - O Que Monstros Fazem

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     Voltando a Antimilos...

     Ao atravessarem a porta que Quimeão os mostrou, perceberam que toda a ilha é conectada por corredores subterrâneos bem tecnológicos com muita luz artificial, feitos só para humanos passarem. Com toda certeza é dali que saem os cientistas para estudar o gigante. A porta maior deve ser apenas o abastecimento de comida.

     Houve um breve chiado no ponto de comunicação dos dois. Isso os fez tocar a orelha direita com calma para ajeitar o aparelho.

Otávio: — Como estão? — Carlim suspirou brevemente. Ouvir a voz deles quer dizer que estão indo bem e por hora nada deu errado.

Carlim: — Seguros. O gigante não queria nos fazer mal, então nos deixou passar. Ele é... — lembrar daqueles olhos vazios trazia sensações ruim para ambos.

Otávio: — Solitário?

Carlim: — Sim. Ele é triste, ele tem um olhar sem vida, sem esperança e... cara, você não sabe o quão doloroso foi olhar pra uma criatura tão solitária.

Otávio: — Eu sei, eu entendo, só não posso imaginar. Os Gegenes foram massacrados pelos Argonautas ao terem seu território invadido. Os gigantes costumam ser territorialistas e os homens costumam ser invasivos. Eles só se defenderam atacando... mas Héracles matou-os... cada um deles. Desde então essa raça de gigantes está extinta. Se existe um deles vivo, ele com toda certeza só espera a hora da própria morte.

Carlim: — Isso era perceptível naqueles olhos. O gigante estava tão triste que só aceitava a comida que os humanos ofereciam e parece que não saía da toca. Aquilo era um prisão, mas ele parecia não ligar.

Thay: — Quimeão. O nome dele é Quimeão, parem de chamá-lo só de gigante. — pelo tom seco de voz, ele estava impaciente.

Carlim: — Tá bom, foi mal. Mas não precisa falar assim com a gente. — murmurou baixinho pro amigo. — Foi mal, Thay é meio sentimental com certas coisas e a situação não o deixa confortável. A solidão, o abandono e a desonra são os maiores temores dos Kroattianos.

Otávio: — Entendo. Resolveremos essas questões mais tarde. Agora precisaremos de vocês. — deu uma pausa dramática, deixando Carlim e Thay esperando mais alguma informação. Depois de todo silencio veio um suspiro pesado. As coisas não parecem boas agora. Carlim segurou o ombro de Thay e pararam de caminhar. — Estamos à caminho de uma armadilha. — os dois se entreolharam em silêncio. — Sabem sobre nós há um tempo e... agora é com vocês. Encontrem a cela Delta 3. Quando pegarem o conteúdo, sigam à Sigma 7.

Carlim: — Entendido. ∆-3... Σ-7...

     A conexão foi cortada.

Carlim: — Merda. Agora a batata quente está em nossas mãos. — fez um estalo com a língua.

Thay: — O quê??? — estreitou os olhos.

Carlim: — O que o quê? Se falar “Queijo” eu te mato.

Thay: — Não, não é isso. Por que estaríamos segurando uma batata quente? Não faz sentido.

Carlim: — É modo de dizer, sua mula. Significa que agora estamos sozinhos, sem poder contar com nosso time, sem alguém pra passar o problema. Não podemos errar, senão a “batata quente” vai queimar nossas mãos, ou seja, vamos fracassar. Figura de linguagem.

Thay: — Aaaah, figura de linguagem... — mordeu o lábio inferior. Carlim apenas riu e chacalhou a cabeça. Thay está na Terra há pouquíssimo tempo. Não vale a pena se estressar com frases erradas ou esperar que ele entenda absolutamente tudo o que disserem. Com o tempo ele se acostuma. — O que são figuras de limguagem?

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