Terminava de limpar o café para finalmente ser liberado do trabalho. Passava das oito e eu fui o último nesse lugar, as piores funções sempre sobram para mim.
Planejava chegar em casa logo, tomar um banho e dormir até falar que chega. Meu corpo pedia por um descanso havia dias.
Ao tirar os resquícios de sujeira do balcão, dou o trabalho por completo. Tiro meu avental e pego minhas coisas, pronto para ir embora. Tranco todo o café e me certifico de estar tudo seguro.
Começo a andar em direção à minha casa, prestando atenção nas paisagens e relaxando a mente, sentindo toda a tensão se esvair do meu corpo ao notar o céu que brilhava com tantas estrelas.
De repente, meu corpo vai de encontro ao chão. O baque me faz sentir uma dor pontuda no peito, sendo forçado a me curvar respirando fundo.
- Me desculpe, eu não quis te machucar. Tudo bem? - O estranho estende sua mão me ajudando a levantar, aceito de bom grado.
- Eu tô bem, desculpa, fiquei olhando para qualquer lugar menos o caminho. - Fico envergonhado e tenho um pequeno vislumbre do seu rosto. O cabelo alinhado e o terno cinza vestindo-o de maneira elegante, além de um sorriso gentil pairando entre seus lábios.
- Fico aliviado. Bem, preciso ir, desculpe, mesmo assim. - Diz e sai apressado da forma que apareceu.Tão repentino que mal tive tempo de raciocinar que fiquei estático e em pé. Ao me dar conta, volto a caminhar para casa e rapidinho chego no apartamento confortável que posso chamar de lar.
O apartamento tinha paredes de cores claras e o chão de carpete, ao sentir o toque macio nos meus pés, suspiro alto, soltando o ar preso que nem percebia ter guardado.
Tomo o meu banho e deito na cama me aconchegando, preparado para dormir o final de semana inteirinho.
^^
Abrindo a porta do escritório, já prevejo o estresse do dia chegando. Trabalho em uma empresa de moda como vice-presidente, quem diria que algo que eu amava tanto, virou meu estresse diário.
Amo trabalhar com moda, não posso negar, mas o modo que tenho lidado com o trabalho acumulado só me trouxe dor de cabeça, pior que essa dor, só a que senti há umas noites atrás. Trombei em alguém e, na mesma hora, senti meu peito apertar de dor e o ar me faltar. Corri para casa e tentei entender a dor abrupta que me apareceu e sumiu tão rápido quanto.
Abano as mãos na frente do rosto para abafar esses pensamentos, tenho trabalho demais para sequer pensar em outra coisa.
- Hoonie, me trás um café forte, por favor. E um remédio para dor também. - Peço ao meu secretário pelo telefone, que logo aparece segurando o café quente e um comprimido.
- O que houve dessa vez, hein? Tá trabalhando demais, Jay. Já te avisei que vai te fazer mal. - Mal chegou e me deu esporro. Sunghoon é meu amigo e meu secretário, nos aproximamos assim que entrei na empresa, ele sempre me ajuda.
- Na sexta, quando saí do trabalho, esbarrei num menino e senti aquela dor de novo. Foi tão forte, quase não consegui ajudar o coitado, ele foi parar no chão.
- Vai no médico, te avisei tantas vezes! Vou trazer um chá para você, café vai aumentar seus batimentos e você pode acabar sentindo essa dor de novo. - Briga comigo.
- Sunghoon, eu sei que fica preocupado, mas só sinto ela quando tenho aquele pesadelo de sempre. Inclusive, não sonhei com ele o final de semana inteiro. - Falo com orgulho da minha conquista.
- Jura? Isso é ótimo, Jay! Mas, ainda assim, vou trazer um cházinho, toma o remédio e tenta não se estressar tanto, ok? - Fala e sai do escritório.Para deixar mais claro, tenho pesadelos específicos quase toda noite, consequentemente, me trazendo uma dor infernal no peito, fico sem ar e a dor pontuda insiste em permanecer.
Sempre sonho com a mesma coisa, brincando com um menino, éramos duas crianças no parquinho. Brincávamos de pega-pega, ele corria atrás de mim, mas tropeçou e caiu, ralando o joelho e chorando alto.
- Jay, eu machuquei! Não quero mais brincar. - Faz um bico enorme.
- Ah, não, Jungwon, vai sarar rapidinho, olha. - Falo e sopro o machucado, dou um beijinho perto para sarar.
- Obrigado, agora a gente pode voltar a brincar, né? - Subitamente, muda de humor e volta a sorrir para mim.
- Podemos, sim, Wonie. - Digo e pego sua mão prontos para correr.Sempre esse sonho, tão inocente e bobo, mas que me faz acordar com os olhos marejados e o peito latejando. Sonho com ele tem muitos anos e por mais que eu tente, não para, se tornou um pesadelo depois das dores aumentarem.
^^
- Quem diria, meu chefe me levando para o meu café preferido. Você tá mais carinhoso, Jay. - Sunghoon diz ao passarmos pelo porta e entrar no estabelecimento.
- Deixa de bobeira, o turno acabou e eu não queria ir para casa ainda. Vamos fazer logo o pedido.Dito isso, entro na fila, enquanto Hoonie separa um lugar para nós dois perto da janela.
- Olá, o que gostaria de pedir?
- Um caramelo macchiato e um... - Paro ao olhar para o atendente e sentir meu peito apertar e meus olhos se encherem de lágrimas.
- Senhor? Tá tudo bem? Quer que eu chame uma ambulância?
- Tô bem, desculpa, um caramelo macchiato e um latte, por favor. - Falo rápido ao puxar fundo o ar.Respiro fundo e vou para a mesa que Sunghoon estava sentado.
- Aquele atendente me parece familiar, acho que já vi ele antes. - Tento seguir normalmente, mas a dor volta ao citar o homem na bancada. - Hoonie, meu peito dói. - Respiro o ar rarefeito sentindo a dor aumentar.
- Jay? Quer ir embora? Vamos para o hospital. Anda! - Me puxa pelo braço e me coloca no carro dirigindo impaciente até o hospital mais próximo.^^
- Todos seu exames saíram estáveis, inclusive o exame psicológico. Temo ser algo fora do meu alcance, senhor. - O médico diz sério.
- Como assim? Eu posso morrer? - Me desespero.
- Não, mesmo que pareça inofensivo, deve tomar cuidado. Tem tido sonhos estranhos? Como se parecessem memórias?
- Sim! E toda vez me vem essa dor insuportável, tem anos que sinto essa dor.
- Entendo. Assumo que por ter vindo agora, a dor deve ter piorado, certo?
- Isso, eu só sentia quando tinha esse sonho, mas, agora, sinto na rua, indo para casa. - Gesticulo mostrando nervosismo.
- E o senhor sabe quando começou a sentir a dor fora das noites em que sonhava?
- Na sexta, se eu não me engano, saí do trabalho e sem querer trombei em alguém. Senti a dor bem forte, tentei ajudar o menino e, depois, fui correndo para casa. Não sonhei mais após isso. - Narrei o acontecimento mais uma vez.
- Senhor Jay, sinto muito em dizer, mas não é algo médico. Se for religioso, sugiro que encontre com um xamã. - Aconselha de maneira séria.Saio do consultório quase paralisado com tantos pensamentos me rondando. Sunghoon me sacode perguntado o que o doutor havia falado.
De modo imprevisível, o atendente me vem a cabeça, o cabelos castanhos brilhosos, os olhos atentos e o tom de voz acolhedor. Tenho certeza que eu esbarrei nele na noite de sexta, por isso ele me parecia familiar.
Me curvo sentindo a dor voltar com força e me escoro em Sunghoon para não cair.
- Jay! Vamos nesse xamã, então. Qualquer coisa para aliviar essa sua dor.
- M-minha avó, ela vai saber o que é.
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Needy Soul - JayWon
FanfictionA lenda diz que o destino conecta as pessoas com um fio vermelho no dedo mindinho e independente do tempo ou distância, essas pessoas irão se encontrar e realizarão uma história, seja ela de amor ou ódio. Jay e Jungwon são as pessoas conectadas, mas...