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Os dias no café tem passado tão devagar, a loja é sempre movimentada, mas ás vezes parece que não tenho nada para fazer. Fico na bancada fazendo os pedidos e entregando para a cozinha e, depois, limpo todo o café, mas parece ser tão pouco.

Tudo ficou mais entendiante desde que aquele homem não apareceu mais aqui. Queria vê-lo para confirmar o que a Senhora Park disse. Sempre que o visse, eu sentiria dor e ela só sumiria se nós dois desenvolvêssemos sentimentos um pelo outro. Difícil quando não sei seu nome e ele sequer vem no café mais.

Saio dos meus devaneios quando um cliente faz o pedido.
- Boa tarde, qual será seu pedido?
- Pode ser um latte e um cappuccino, por favor. - Anoto e entrego para a cozinha.

Estando pronto, vou em direção à mesa para entregar os cafés.
- Aqui está. Se precisarem de al... - Paro quando olho para quem está sentado. Ele. Aquele homem. Pressentindo a dor chegar, coloco a mão no peito, mas nada vem. Nenhuma dor sequer.
- Jay! É ele! Tá sentindo alguma dor? Tá tudo bem? - Seu amigo parecia preocupado.
- Ahn? S-sim, tá tudo bem. Não sinto dor nenhuma. - Jay olha para mim com as sobrancelhas franzidas e sinto as batidas do meu coração falharem. Olhá-lo assim de perto é melhor, o rosto perfeitamente desenhado, o cabelo, normalmente arrumado, estava mais bagunçado, ainda assim, continua lindo. Usava roupas casuais e estava realmente bonito. - Obrigado, - Olha meu crachá. - Jungwon.

Percebo estar encarando ele e paro na hora. Jay parecia surpreso, mas apesar disso se recompõe e agradece. Aproveito para me distanciar deles e voltar ao meu trabalho.

Não adiantou muito, eles ficaram bastante tempo lá e eu acabava olhando para Jay, sentindo seus olhares furtivos de volta. Agora que sei seu nome, tudo fica melhor.

Meu turno estava acabando, apesar disso, os dois continuavam a conversar animados. Com certeza eram próximos, pois seu amigo estava sempre encostando nele e Jay aparentava não se incomodar.

Terminando de limpar a bancada, os meninos se aproximaram para pagar a conta, Depois de tanto tempo no café, eles gastaram uma boa grana.
- Bem, qual vai ser o método de pagamento?
- Cartão. Pode deixar que eu pago, Hoonie. - Diz ao seu amigo.

Tendo a conta quitada, Jay pega seu cartão de volta e me entrega um papelzinho. Seu número escrito e embaixo seu nome acompanhado de uma carinha feliz, com um recado: Acho que temos algo em comum.

^^

Não tomei coragem de mandar mensagem, Jake quase me estrangulou ao saber disso.

Eu estava com vergonha. Muita vergonha. Não sabia como começar uma conversa com ele. Será que ele também sabe? E talvez quer me conhecer melhor?

É a primeira vez que não sinto dor ao vê-lo e estou curioso para saber o que significa. Nós dois estamos interessados?

Em ligação com Jake, ele brigava comigo, tentando me convencer a mandar mensagem e num impulso, eu mando. Espero ansiosamente por uma resposta, que vem mais rápido do que eu imaginava.

- Oii, aqui é o Jungwon da cafeteria

- Oii, eu sou o Jay, mas acho que já sabe disso kkkk

- Sim kkk como você disse, o que seria algo em comum que nós temos?

- Foi mais uma forma de conseguir conversar com você, pra ser direto, eu queria te conhecer melhor

- Sendo sincero, eu também. Tem como a gente se encontrar algum dia desses? Talvez no sábado pra almoçar.

- Pode ser! Te pego na sua casa?


Bem rapidinho, fico aliviado de ter mandado mensagem. Acho que ele não quer conversar por telefone e isso não seria o certo.

Arrumei um encontro. Com o homem mais bonito que já vi. Deixa só o Jake saber disso, ele vai surtar junto comigo.

^^

"Acho que temos algo em comum", que frase mais besta, pelo menos funcionou para ele puxar assunto comigo. Agora vou encontrá-lo no sábado para almoçarmos juntos.

Passamos mais tempo conversando do que eu esperava. Acabei conhecendo-o melhor, tinha 23 anos e trabalhava no café desde os 21, eu era mais velho que ele dois anos só e ele insistiu em usar honoríficos comigo, mesmo eu dizendo que não era preciso.

Descobri que Jungwon era um fofo, no sentido mais literal. Ele usava emojis e carinhas fofas no final das mensagens, mandava áudios rindo e todas essas coisas. Nem sei quanto tempo ficamos conversando, quando reparei, eram duas da manhã e eu tinha que acordar cedíssimo para o trabalho.

Não me importava muito, eu estava bem interessado nele e, meu coração implorava que ele também estivesse.

Quando fechei os olhos para dormir, seu rosto me veio à mente. Os olhos se fechando ao sorrir, o tom de voz tão suave que esquentava meu peito, tudo nele parecia em completa harmonia.

Dormi pesado e, nessa noite, o sonho mudou. Já não éramos crianças mais. Dois adolescentes na sala de aula, mas parecíamos desconhecidos. Ele prestava atenção na aula e anotava o que o professor passava no quadro, eu o encarava, o sol batendo no seu rosto, o biquinho inconsciente nos lábios e os olhos concentrados no caderno.

O cenário muda, estávamos no intervalo, me percebi tentando fazer com que ele me notasse, mas, toda vez, um outro garoto o puxava para o lado contrário e mirava seus olhos bravos na minha direção.

Num outro momento, vejo o mesmo garoto com ele, mais próximos do que eu gostaria que estivessem. Ele se aproxima e o beija de leve, somente um selinho, mas que me deixou chateado e fui embora correndo.

Acordo assustado, tentando assimilar tudo isso. Os sonhos e a dor que não sinto mais. O mais estranho é que não me lembrava de nada disso, não tinha a menor ideia que o conhecia antes. Não me lembrava de ter brincado com ele quando crianças e nem de termos estudado na mesma sala. Agora que sei que esses sonhos são memórias, tudo fica diferente.

Apesar de continuar pensando e tentando achar uma resposta, não consigo. Me esforço para lembrar, para lembrar que ele fez parte da minha vida, mas não consigo.

Jungwon tem sonhos? Sonhos comigo? O que ele deve sonhar? Será se também sentia dores como eu?

Por mais difícil que seja, me empenho em, pelo menos por um tempo, esquecer disso. Preciso focar no trabalho e esses devaneios podem só me atrapalhar.

Needy Soul - JayWonOnde histórias criam vida. Descubra agora