100 VIDAS COM VOCÊ - Kelmiro

PRÓLOGO

"Os encontros mais importantes já foram combinados pelas almas antes mesmo que os corpos se vejam" - Paulo Coelho

     No mundo real, muito se discute sobre a existência de almas gêmeas. O que se entende sobre o assunto, pelo menos para o senso comum, é que existe a possibilidade de duas pessoas terem nascido pré-destinadas a se encontrarem e se amarem. Elas seriam o encaixe perfeito, e viveriam um amor pleno e puro. Alguns dizem até que essas duas pessoas podem se parecer fisicamente, ou então compartilharem alguns trejeitos, manias, marcas na pele... Ainda assim, tudo isso é só teoria. Ninguém sabe de fato o que se passa no plano espiritual com as almas, sequer se elas existem, muito menos se têm conexões umas com as outras.

     Quer dizer... Pelo menos isso é o que a grande maioria das pessoas ao redor do mundo pensa.

     Mas não é assim que funciona para um grupo de pessoas do qual eu faço parte. Ser como eu é o equivalente a ganhar na Mega da Virada, achar o bilhete premiado da Fantástica Fábrica de Chocolates, ou ser atingido por um raio duas vezes no mesmo lugar. Somos pessoas que temos uma conexão tão forte com nossas próprias almas, que somos capazes de nos recordarmos de todas as vidas que já vivemos, em outras encarnações.

     Para alguns, isso é uma benção. Para outros, uma maldição.

     Para mim, bem... Eu sempre me senti a pessoa mais sortuda do universo. Eu era capaz de me lembrar de coisas de tempos remotos, quando tudo ainda era mato... Tinha memórias de vidas anteriores, uma completamente diferente da outra, nas quais fui feliz, triste e vivi intensamente com a plena certeza de que a morte não é o fim, mas um recomeço.

     Mas o que realmente me movia e me fazia ter vontade de viver todas as minhas vidas passadas tinha nome, sobrenome, alma e forma física, que por sinal, na minha opinião, era a forma física mais bela em que alguém poderia querer encarnar: a de Kelvin Santana.

     Kelvin também era especial. Kelvin também se recordava de todas as vidas que já tinha vivido.

     Todas elas, comigo.

     Eu e Kelvin somos o que vocês, pessoas sem memória espiritual, gostariam de chamar de "almas gêmeas". Nossas almas são interligadas desde sua criação. Foram feitas para coexistirem em um mesmo período de tempo, em um mesmo local, e se apaixonarem perdidamente uma pela outra absolutamente todas as vezes que se encontrarem.

     Como devem imaginar, é uma ligação muito, muito forte. E a cada encarnação, cada reencontro, eu o reconhecia, ele me reconhecia, e nós podíamos voltar a viver o nosso amor que, de alguma forma, era eterno, e se renovava a cada vida.

     Pelo menos era assim que eu e Kelvin gostávamos de pensar. Fazíamos planos para vidas futuras, fantasiávamos com o que seríamos nas próximas encarnações... Mas o que realmente importava era que sempre nos encontrássemos. E essa era uma certeza inabalável.

     Até a nossa centésima encarnação, quando absolutamente tudo mudou.